Ao longo dessa semana, em comemoração aos dez anos do Pontificado de Francisco, tomaremos algumas de suas contribuições para a Igreja e seu diálogo com a sociedade atual.
II. A preocupação pelas questões socioambientais
Na reflexão anterior, vimos como Francisco de Assis inspira o atual Papa. Logo, não seria de estranhar que as questões ecológicas tivessem um lugar especial dentre suas prioridades.
1.Já no início de seu Pontificado já indicava essa sua preocupação pela criação: “A vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!” (19.03.13 – Celebração do início de seu pontificado)
2.Em 2015, dois anos após sua eleição, publicou a primeira encíclica da história totalmente destinada às questões socioambientais. Laudato Si foi aclamada por pesquisadores, ambientalistas, governantes e líderes religiosos como uma das principais contribuições a respeito do tema na atualidade. Infelizmente, internamente, sua recepção nem sempre foi tão fecunda.
Laudato Si não é uma encíclica “Verde”, muito menos romântica e alienada, tampouco aponta uma catástrofe anunciada. Ela põe o dedo na ferida e aponta para a relação entre eco-logia e eco-nomia. Para ações efetivas para com o planeta é necessário repensar a degradação, a estrutura de mercado e o estilo de vida, muitas vezes num consumo desenfreado. Francisco conclama as diferentes representações da sociedade global para um debate honesto, capaz de suscitar ações concretas em prol da saúde do Planeta e de seus habitantes.
“Recordemos – diz o Papa – o modelo de São Francisco de Assis, para propor uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da pessoa. Isto exige também reconhecer os próprios erros, pecados, vícios ou negligências, e arrepender-se de coração, mudar a partir de dentro” (Laudato Si, n. 218).
A encíclica Laudato Si desencadeou um bonito processo, unindo pessoas de diversas partes para juntas refletirem e proporem ações concretas em favor do meio ambiente como é o caso do Movimento Laudato Si, que você pode conhecer melhor no link. (https://laudatosimovement.org/pt/ )
- Laudato Si teve um filho igualmente belo: o Sínodo da Amazônia, que contou com um processo de escuta jamais visto. A exortação Querida Amazônia (2020), bem como os documentos produzidos no processo sinodal se tornaram grande referência para a evangelização, não só naquela região, mas em tantas outras.
O processo de escuta organizado em preparação ao Sínodo foi uma experiência sem precedentes, afinal, não era possível pensar uma Igreja com rosto amazônico, sem dar voz aos homens e mulheres que ali estão.
Sem substituir todo o rico material produzido no processo sinodal, Papa Francisco, na Exortação Querida Amazônia apresenta quatro sonhos a este respeito:
Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida.
Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.
Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.
Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazónicos (QA, n. 7).
Para além de uma visão romântica e ingênua relacionadas às questões socioambientais, Francisco, em vez de anunciar um cataclisma, é capaz de ver o sonho de Deus em cada criatura, nos chama à conversão ecológica e a uma ecologia integral, num ambiente favorável à vida e suas belezas.
III. Francisco e a dimensão econômica
No texto anterior relembramos a contribuição do Papa Francisco para com as questões socioambientais. Destacamos que, sem uma devida abordagem econômica, as iniciativas não serão eficazes, afinal, a economia exerce uma grande influência sobre as diferentes dimensões da vida em nosso tempo.
Preocupado com “uma economia que mata”, Francisco convocou jovens de todo mundo, sobretudo ligados à área econômica e administrativa, para juntos sonharem e proporem modelos econômicos mais viáveis, em que a vida, a justiça e o respeito pela criação pudessem ser efetivados. Somaram-se a este movimento renomados pensadores mundiais como Amartya Sem, Jeffrey Sachs e Muhammad Yunus.
No Brasil, o movimento foi denominado Economia de Francisco e Clara, incluindo o elemento feminino na roda de conversa.
Dentre os princípios norteadores da Economia de Francisco e Clara vale destacar o Credo que inspira todas as ações:
Cremos na Ecologia Integral
Cremos no Desenvolvimento Integral
Cremos em alternativas anticapitalistas
Cremos nos Bens Comuns
Cremos que ‘Tudo está interligado’
Cremos na potência das periferias vivas
Cremos na economia a serviço da vida
Cremos nas Comunidades como Saída
Cremos na Educação Integral
Cremos na solidariedade e no clamor dos povos.
Conheça mais do movimento da Economia de Francisco e Clara: http://economiadefranciscoeclara.com.br/
O Movimento inicialmente foi prejudicado pela Pandemia, e sua realização teve de se dar de forma virtual. Porém, para além do esperado, toda essa reflexão econômica não ficou restrita a um evento, mas deu origem a todo um processo de discussão mundo afora e que, no Brasil, segue a todo vapor.