Dez anos do pontificado de Francisco

Dez anos do pontificado de Francisco

Ao longo dessa semana, em comemoração aos dez anos do Pontificado de Francisco, tomaremos algumas de suas contribuições para a Igreja e seu diálogo com a sociedade atual.

Frei Oton Júnior, ofm

Introdução (I)

Lá se vão dez anos desde que da fachada da Basílica Vaticana ouviu-se um nome inusitado: “Franciscum”, e apareceu um – até então – cardeal argentino, de gestos tímidos, que saudou a multidão com “boa noite”.

Há oitocentos anos, a Cúria Romana também ouvira pronunciar este nome: tratava-se do líder de um grupo de jovens esfarrapados, vindos de Assis, pedindo autorização papal para viver o Evangelho. Agora, Francisco se vestia de branco e traçava sobre todos a bênção Urbi et Orbe.

Mas o nome, de início, foi uma incógnita, afinal, a Igreja já conhecera diversos Franciscos, e não seria de estranhar se a escolha fosse uma referência ao Jesuíta nascido em Xavier, no século XVI. Mas não. O próprio neo-Pontífice teve de esclarecer que se tratava de uma inspiração no Santo de Assis, inspiração essa vinda de um cochicho do Cardeal Hummes para que não se esquecesse dos pobres.

“Acho que Francisco – disse posteriormente o Papa – é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade (…). Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (Laudato Si, n. 10).

Nos próximos dias, em comemoração dos dez anos de pontificado de Francisco, iremos tomar alguns aspectos significativos de sua contribuição, sem a pretensão de ser completo.

A inspiração do Papa em Francisco de Assis

Desejar ser chamado de Francisco representou não apenas a escolha de um nome, mas adesão a um projeto. Ao longo dessa década, Bergoglio deixou transparecer diversas vezes que essa sua intuição não era superficial, mas, pelo contrário, estava sedimentada sobre a rocha do Arauto da paz, como alguns fatos o atestam:

1.Sua escolha por uma vida simples, demonstrada em sua moradia, suas vestimentas, sua maneira de se relacionar… causaram estranheza. Na procissão de Corpus Christi de 2013, com tantos cardeais e bispos, houve quem comentasse: “as vestes mais baratas eram as do Papa”. Em suas viagens, faz questão de usar modelos de carros populares, para desespero da segurança.

2.Mas as grandes pautas de seu Pontificado expressam ainda mais a referência a Francisco de Assis, como uma atenção especial aos pobres (como os mendigos no Vaticano, que passaram a ter uma lavanderia e assistência adequada) e um olhar atento e profético para com os migrantes e refugiados, como podemos recordar da comovente celebração na ilha de Lampeduza, em julho de 2013). Em diversas ocasiões, Francisco alertou para o perigo de uma “cultura da indiferença”: “os excluídos continuam a esperar. Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença, (…) como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe” (Evangelii Gaudium, n. 54).

3.Sua primeira Exortação recordou que o Evangelho é fonte de alegria (Evangelii Gaudium, 2013), e que este nos desafia a ser uma Igreja em saída, em que os pastores tenham “cheiro de ovelhas”, mesmo com o risco de se sujar com a lama das estradas (EG 45). Motivando o agir missionário da Igreja, provoca: “Quem ousaria encerrar num templo e silenciar a mensagem de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá? Eles não o poderiam aceitar. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (Evangelii Gaudium, n.183).

4. Neste rol de iniciativas, cabe lembrar os vários encontros do Papa com os Movimentos Populares, quando frisou a importância dos 3 T’s: terra, teto e trabalho (2014), chamando-os de “poetas sociais”. Com os movimentos sociais, “será possível um desenvolvimento humano integral, que implica superar a ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres, e muito menos inserida num projeto que reúna os povos” (Fratelli Tutti, n.169).

Por estes simples exemplos, podemos perceber como Francisco de Assis sinaliza para o atual Pontífice um modo de ser, de se relacionar, de ver o mundo, pautado na simplicidade e no empenho em favor da vida.

Ao longo da semana, tomaremos outros aspectos desses dez ano de Pontificado de Francisco.

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