Primeiros votos religiosos do Frei Sidinei Braz Jerônimo na Ordem dos Frades Menores
- EVENTOS
- 20 de dezembro de 2024
1182-1226
Giovanne di Pietro di Bernardone nasceu na cidade italiana de Assis, por volta dos anos de 1182. O pequeno garoto foi batizado, posteriormente, com o nome de Francisco, em homenagem à França – país onde seu pai comerciante costumava viajar para realizar grandes negócios.
Durante boa parte de sua juventude, Francisco viveu em meio ao luxo e agitada vida social, graças à riqueza e prosperidade do comércio de tecidos de seu pai. Na época em que Francisco viveu, a Igreja passava por momentos difíceis. Vivia mergulhada numa riqueza e poder muito grande, longe do Evangelho anunciado por Jesus Cristo. Era também uma época de guerras: da Igreja contra os muçulmanos, de cidade contra cidade, do Papa contra o imperador.
Por volta de seus vinte anos, o jovem alistou-se no Exército e lutou a favor dos pobres de Assis contra os nobres defendidos pela cidade vizinha de Perúgia, que saiu vitoriosa após o combate. Foi nessa cidade que Francisco foi preso e, após um ano de encarceramento, viu-se humilhado e com a saúde bastante debilitada. Após meses de recuperação, o jovem sentiu-se diferente. Não mais sentia prazer nas festanças e banquetes da nobreza de Assis. Foi, então, enviado às Cruzadas.
No caminho de volta a Assis, sua vida mudou radicalmente. Diversos acontecimentos afirmaram a vocação de Francisco de servir Jesus e seu evangelho, e sua conversão gradual se iniciou. Dentre eles, nas ruínas da Igreja de São Damião, quando ouviu a imagem de Cristo dizer-lhe: “Francisco, restaure minha casa que está em ruínas”. Colocando logo em prática o pedido do Pai, Francisco reconstruiu três pequenas igrejas abandonadas: a de São Damião, a igrejinha da Porciúncula dedicada à Santa Maria dos Anjos e a de São Pedro. O dinheiro para reerguer os templos foi conseguido com a venda de peças de tecidos que Francisco roubou da loja de seu pai. Muitas vezes Francisco usava suas próprias mãos para erguer a igreja pedra por pedra, como no caso da Igreja de São Damião.
Francisco não havia entendido ainda que a Igreja que deveria restaurar não era a de pedra, mas a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época por diversas heresias e pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder.
Outro acontecimento que marcou sua vida, foi um encontro com um leproso. Naquela época, os leprosos eram expulsos da cidade, abandonados por suas famílias e fadados a sobreviver com uma doença sem cura e que julgava-se ser um castigo por pecados cometidos pelo doente. O primeiro impulso de Francisco ao avistar o leproso, foi o de fugir. Ele tinha verdadeira aversão aos leprosos antes de sua conversão. Ao invés de fugir, Francisco se aproximou do doente, dando-lhe esmola e um beijo, reconhecendo-o como um irmão. O que Francisco descobre com esse beijo? Descobre que Cristo não é belo e não se veste com mantos de ouro, mas é pobre e crucificado, como o leproso que ele acabara de beijar. E é esse Cristo que deve ser seguido e imitado. E foi o que Francisco fez desse momento em diante. A partir de então, despiu-se de todos os bens materiais e roupas, vestiu uma túnica e passou a se dedicar integralmente aos pobres e leprosos, como se fosse um deles.
Esse momento foi tão importante na transformação de Francisco que, ao final de sua vida, recordava: “Foi assim que o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como eu estivesse em pecado, parecia-me por demais insuportável olhar para os leprosos. Mas o Senhor conduziu-me para o meio deles e eu tive misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles, justamente o que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do espírito”.
Seu pai, enfurecido com as atitudes do filho e temeroso de perder toda a sua fortuna com as doações e projetos de Francisco, deserdou seu filho perante o Bispo. Diante das acusações do pai, na frente do Bispo, e de todos, Francisco tirou as próprias vestes, e nu, as devolveu ao pai dizendo: “Daqui em diante tenho somente um pai, o pai nosso do céu”.
Após ter renunciado à herança de seu pai, Francisco chegou a morar em uma leprosaria, onde cuidava dos doentes e tratava-lhes as feridas. Quando os franciscanos eram ainda uns poucos frades, o tempo de noviciado era exatamente isso: morar numa leprosaria e cuidar dos leprosos. Ainda hoje, se os franciscanos quiserem ser fiéis ao seguimento de Cristo vivido por Francisco, eles têm que se fazer essa pergunta: quais são os leprosos que têm que ser abraçados, curados, cuidados, beijados, hoje? Quem estiver disposto a seguir Cristo a exemplo de Francisco deve estar disposto a reconhecer e a abraçar Cristo nos doentes da AIDS, nos idosos abandonados, nos menores da rua, nos refugiados de guerra…
Francisco passou a falar da vida de Evangelho nos lugares públicos de Assis, pregando a Paz e a conversão, junto a outros irmãos que se uniram a ele. O primeiro foi Bernardo de Quintaval, um rico da nobreza de Assis que, orientado por seu amigo Francisco, dividiu toda a sua riqueza entre os pobres da cidade e passou a seguir o Evangelho de Cristo. O segundo a procurar Francisco para seguir-lhe, foi Pedro de Catânia, doutor em Direito. Comovido pelas atitudes dos jovens de doar todas as suas riquezas, o sacerdote Silvestre, lançou-se com eles na empreitada de seguir o Evangelho e tornou-se, assim, o primeiro sacerdote da Ordem Franciscana.
Em 1210, o Papa Inocêncio III oficializou a Fraternidade dos Irmãos Menores, fundada em 1208 por Francisco e seus primeiros seguidores, cujas diretrizes principais eram a humildade e a pobreza. Os frades ajudavam aos pobres e infermos e dedicavam suas vidas à oração, pregações e atividades missionárias.
Alguns anos depois, uma jovem de origem nobre de Assis, chamada Clara, procurou Francisco para se unir aos frades. Foi criada, então, a Ordem das Clarissas ou Segunda Ordem Franciscana. Para todos que o procuraram, ele aconselhou a viver o Evangelho de acordo com estado de vida de cada um. Ele orientava as pessoas casadas a se recusar a tomar parte em qualquer guerra ou pegar em armas, ensinou-lhes a ter grande devoção para com o sacramento da eucaristia. Deveriam levar uma vida simples, cuidar dos mais fracos e repartir o fruto do seu trabalho. No início, eram chamados os “irmãos da penitência”. Mais tarde passaram a ser conhecidos como os “franciscanos seculares”, isto é, os franciscanos que vivem no século, no mundo. Foi criada a Terceira Ordem Franciscana, para os leigos que também queriam seguir os ensinamentos de Cristo.
No ano de 1226, São Francisco de Assis já estava debilitado e quase cego, depois de anos vivendo como peregrino pregando uma vida de pobreza e humildade ao lado de pobres e leprosos. Pouco antes de morrer, ele passou pela Igreja de São Damião para despedir-se de Clara e suas irmãs, mas acabou ficando ali, devido ao agravamento de seu estado de saúde. E foi numa choupana, no anoitecer do dia 3 de outubro de 1226, que Francisco morreu nu, como havia pedido para seus irmãos. Chegado o momento, mandou chamar para perto de si todos os irmãos presentes, exortou-os a amar a Deus de todo o coração e a manterem a fidelidade ao Evangelho e à Igreja.
Quase moribundo, Francisco compôs o Cântico das Criaturas, que cantou minutos antes de morrer. Até o fim da vida queria ver o mundo inteiro louvar e exaltar o Criador de todas as coisas. Quase cego, sozinho numa palhota, em estado febril e atormentado pelos ratos, deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a criação.
Dois anos antes de sua morte, São Francisco teve uma visão de Cristo crucificado e, em um momento de êxtase e dor, recebeu as chagas de Jesus em seu próprio corpo, durante período de oração e jejum no Monte Alverne. Foi canonizado em 1228 por Gregório IX e seu dia é comemorado em 4 de outubro.
Quase moribundo, Francisco compôs o Cântico das Criaturas. Até ao fim da vida queria ver o mundo inteiro louvar e exaltar o Criador de todas as coisas. No Outono de 1225, enfraquecido pelos estigmas e enfermidades, ele se retirou para São Damião. Quase cego, prostado numa palhota, em estado febril e atormentado pelos ratos, deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a criação.
A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta no palácio do bispo de Assis, para por fim a uma desavença entre o bispo e o prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir uma luta dentro da cidade. A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta poucos dias antes dele morrer.
Altíssimo, onipotente, bom Senhor, Teus são o louvor, a glória, a honra E toda bênção. Só a ti, Altíssimo, são devidos; E homem algum é digno De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor, Com todas as tuas criaturas, Especialmente o senhor irmão Sol, Que clareia o dia E com sua luz nos alumia. E ele é belo e radiante Com grande esplendor: De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, Pela irmã Lua e as Estrelas, Que no céu formastes claras E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo ar, ou nublado Ou sereno, e todo o tempo, Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, Pela irmã Água, Que é muito útil e humilde E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo irmão Fogo Pelo qual iluminas a noite E ele é belo e jucundo E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a mãe Terra, Que nos sustenta e governa, E produz frutos diversos E coloridas flores e ervas
Louvado sejas, meu Senhor, Pelos que perdoam por teu amor, E suportam enfermidades e tribulações. Bem-aventurados os que as sustentam em paz, Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a Morte corporal, Da qual homem algum pode escapar Ai dos que morrerem em pecado mortal! Felizes os que ela achar Conformes à tua santíssima vontade, Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças, E servi-o com grande humildade.
No tempo de Francisco, havia uma cidade chamada Gúbio que era atacada por um feroz lobo, que devorava tanto os animais, quanto os habitantes da cidade ou os estrangeiros que dela se aproximassem. Todos andavam armados quando saíam da cidade, como se fossem para um combate. Francisco, tendo compaixão dos habitantes da cidade, quis sair ao encontro do lobo. Ao avistá-lo, o lobo foi ao encontro de Francisco com a boca aberta. Aproximando-se, Francisco fez o sinal da cruz e disse-lhe: “Vem cá, irmão lobo, ordeno-te da parte de Cristo que não faças mal nem a mim nem a ninguém”.
O lobo aproximou-se mansamente e Francisco continuou: “Irmão lobo, tu fazes muitos danos nesta terra, destruindo e matando criaturas de Deus sem sua licença. E toda a gente murmura contra ti e toda esta terra te é inimiga. Mas eu quero, irmão lobo, fazer a paz entre ti e eles, de modo que tu não mais os ofenderás e eles perdoar-te-ão todas as ofensas, e nem homens nem cães perseguir-te-ão mais”.
Ditas essas palavras, o lobo, com o movimento da cauda e das orelhas e com a inclinação da cabeça, mostrava aceitar o que Francisco dizia. E Francisco continuou: “Irmão lobo, desde que é de teu agrado conservar esta paz, prometo que os habitantes da cidade te irão alimentar enquanto viveres, para que não sofras fome, porque sei que é pela fome que fizeste tanto mal”. Depois disso, foi com o lobo para a praça da cidade e todos se admiravam com a mansidão do lobo que antes lhes causava tanto medo. Aos frades que cortavam lenha, proibia arrancar a árvore inteira, para que tivesse esperança de brotar outra vez. Mandou que o responsável pela horta deixasse de cavar o terreno ao redor da horta, para que, a seu tempo, o verde das ervas e a beleza das flores pudessem apregoar o Pai de todas as coisas. Mandou reservar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e para as flores, para lembrarem a suavidade eterna aos que as olhassem.
Recolhia do caminho os vermezinhos, para que não fossem pisados, e mandava dar mel e o melhor vinho às abelhas, para não morrerem de fome e frio no inverno. Chamava de irmãos todos os animais. Por sua vez, todas as criaturas procuravam retribuir o amor do santo e corresponder com gratidão a seus merecimentos. Sorriam quando as acariciava, atendiam quando ele as chamava e obedeciam quando ele mandava.
Próximo de sua morte, Francisco ficou muito doente dos olhos, ficando quase cego. Chamaram um médico para tratá-lo. O tratamento daquela época era queimar a fronte com um ferro em brasa. O médico veio e mandou colocar o ferro no fogo até ficar em brasa. O bem-aventurado Francisco, assim falou com o fogo: “Meu irmão fogo, o Altíssimo te fez forte, bonito e útil, para revelares a beleza das outras coisas. Sê meu amigo nesta hora, sê delicado, porque eu sempre te amei no Senhor. Rogo ao grande Senhor que te criou, para que abrande um pouco o teu calor, para que queime com suavidade e eu possa agüentar”. O médico pegou nas mãos o ferro em brasa, os frades fugiram por respeito, mas Francisco se apresentou ao ferro com alegria. O instrumento entrou em sua carne a cauterização se estendeu desde a orelha até o supercílio. E Francisco disse aos seus irmãos: “Porque fugistes? Na verdade eu vos digo que não senti nem o ardor do fogo nem dor alguma em minha carne”.
Para Francisco, a fraternidade deve ser vivida não somente entre as pessoas, mas também entre todas as criaturas, pois todas elas são obras do mesmo Criador. A natureza não é inimiga do homem, mas a sua irmã, que o alimenta, veste, encanta-lhe com a sua beleza e poesia.
Chegou o dia de Natal e de muitos lugares foram chamados os irmãos: homens e mulheres que prepararam tochas de fogo para iluminar a noite. Por fim, chegou Francisco, feliz por ver que tudo havia sido preparado como combinado. A noite ficou iluminada como o dia e o bosque ao redor ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam os louvores pelo nascimento do salvador. Francisco parou diante do presépio e suspirou, cheio de piedade e de alegria. A missa foi celebrada ali mesmo, por um sacerdote que se encontrava presente. Embora antes de São Francisco já houvesse o costume de representar o nascimento de Jesus com o presépio, foi Francisco que, em Greccio, difundiu essa bonita e singela tradição.
Francisco celebrava o Natal do Menino Jesus com mais alegria que todas as outras solenidades, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos para se amamentar. Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior de feno para os bois e os burros. Até disse: “Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigo e outros grãos, para que nesse dia tão solene tenham abundância até os passarinhos e, principalmente, as irmãs cotovias”.
Próximo a Assis havia um lugar chamado Greccio, onde Francisco costumava recolher-se com freqüência para rezar. Três anos antes de sua morte, Francisco quis celebrar o Natal nesse lugar. Mandou chamar um amigo e disse-lhe: “Se você quiser que nós celebremos o Natal em Greccio, é bom começar a preparar o lugar como eu vou indicar-lhe. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha entre o boi e o burro”. Ouvindo isso, seu amigo fez como Francisco havia lhe dito: preparou o lugar com palha e levou para lá um boi e um burrinho.
No verão de 1224, retirou-se para o Monte Alverne, onde, entre prolongadas orações, meditações e jejuns, apareceu-lhe o próprio Cristo Crucificado, na figura de um Serafim alado e flamejante, que lhe imprimiu na carne os estigmas vivos da paixão: feridas abertas e sangrentas, com pregos de longas pontas dobradas (constituídas pela própria carne) nas mãos e nos pés, além da chaga no peito.
Descendo do Monte Alverne, Francisco transcorreu seu último biênio de vida numa contínua paixão de doenças e dores, afligido por uma grave oftalmia contraída no Oriente. Entre o fim de 1224 e os primeiros dias de 1225, “certificado” pelo Senhor de sua morte próxima e do prêmio eterno, num ímpeto de exaltação mística pela obra da criação, ditou aos companheiros o “Cântico do irmão Sol e de todas as criaturas” (LP 43-45).
Na Porciúncula, meditando a narração joanina da Paixão e celebrando com seus religiosos a lembrança da última ceia do Senhor, invocando a “irmã morte” e cantando o Salmo “Em voz alta ao Senhor eu imploro… Muitos justos virão rodear-me pelo bem que fizeste por mim” expirou na tarde de Sábado de 03 de outubro de 1226, com a idade de 44 anos.
Sobre a terra nua, apresentando seus estigmas, vistos então por centenas de frades e leigos, “parecia um verdadeiro crucificado deposto na cruz” (Frei Leão em Salimbene, 195; cf. 1Cel, 112).