Eucaristia em memória de Frei Emiliano Soede, ofm

Eucaristia em memória de Frei Emiliano Soede, ofm

Descanse eternamente em Paz, Frei Emiliano!

Hugo Laje (membro da Pascom)

No dia 19/11, aconteceu a missa em memória de Frei Emiliano Soede, na Matriz de São Miguel e Almas, em Jequitinhonha, MG.

Frei Emiliano foi uma personalidade marcante na história da cidade e por isso se celebrou a missa pelo 35º aniversário de seu falecimento.

A celebração contou com a participação de boa parte dos membros da comunidade local.

Elementos biográficos de Frei Emiliano Soede

Nascido e criado no coração de Amsterdã, capital dos Países Baixos, partiu em 1952 para abrir novos horizontes no Brasil, já era frade fransciscano há 29 anos. Chegando ao Brasil, exerceu as funções de vigário coadjutor nas paróquias de: Abaeté, Divinópolis, Vila Fão (RS), Teófilo Otoni, Fátima, e finalmente nomeado pároco da Paróquia São Miguel e Almas de Jequitinhonha em 1962.

Seus sucessivos mandatos como pároco desta freguesia foram marcados pelo fortalecimento dos movimentos religiosos como: Apostolado da Oração, Filhas de Maria, Cruzada Eucarística, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Damas da Caridade, Ordem Terceira de São Francisco. Apoiado pelo Conselho Pastoral Paroquial, implementou um movimento de renovação pastoral chamado de “Mundo Melhor”, que estabelecia núcleos em todos os bairros da zona urbana, formando pequenas comunidades católicas de Fé, amor e caridade. No entanto, passados 10 anos em Jequitinhonha, ainda se queixava que a política dos coronéis dificultava os movimentos pastorais.

Voltando um pouco no tempo, durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul, Frei Emiliano desenvolveu a paixão pelo que transformaria sua vida nos próximos 20 anos, a radiofonia. Em 1965 iniciou – em suas próprias palavras – a Via Crúcis burocrática, técnica e financeira para a criação da rádio, sofreu desconfianças, até mesmo de seus confrades, que indagavam “Para que lá uma rádio?”, e ele respondia que nossa cidade era um lugar livre de emissoras, propício para iniciar o modelo de Evangelização pelo rádio. Foram 5 anos de exigências, problemas de pessoal, verba, boicote dos prefeitos da região que não queriam uma emissora transmitindo notícias sobre a região para o resto do mundo. Até que em 21 de abril de 1971, foi solenemente inaugurada a Rádio Santa Cruz de Jequitinhonha, contando com a presença do Senhor Bispo Diocesano de Araçuaí, Dom Altivo, e de diversos confrades, entre eles Frei Eliseu. Mas os adversários procuravam sempre meios de atrapalhar a Rádio. Várias vezes denunciaram a Rádio ao DOPS (principal departamento de repressão da Ditadura) por trabalhar contra o governo da ditadura. Os agentes federais da repressão vieram a Jequitinhonha para examinar os programas da rádio. Mas não encontraram nada de subversivo.

Apesar de ele parecer um homem robusto e que até gostava de luta, sabendo que o direito estava ao seu lado, a saúde dele passava por momentos difíceis. Sofria de úlceras no estômago, provocadas pelas tensões. Tinha de sair várias vezes para fazer tratamento. Mas mesmo assim, não parava. Construiu um salão paroquial, reformou a frente da casa paroquial, enquanto se ocupava com as construções da rádio e do hospital. Claro que não tinha mais tempo suficiente para se dedicar à pastoral da paróquia. Foi então, que em 1975 chegou Frei Adalberto para assumir como pároco desta freguesia. Isso aliviou muito os trabalhos de Fr. Emiliano, que ficou livre para se dedicar inteiramente às suas obras queridas: Rádio e hospital. Foi o tempo mais feliz para ele em Jequitinhonha, como ele mesmo confessou.

O decadente hospital existia desde 1918, sempre aos maus cuidados do “Grupo de cavalheiros”, sempre o pároco seu provedor e administrador. Seus antecessores conseguiram algumas melhorias como: aumento das instalações em 1936, construção da maternidade em 1946, e alcançou o nível de Hospital Regional, mas a velha política dos coronéis novamente afetava seu desempenho. Em 1964 iniciou a reforma do velho hospital (onde hoje se localiza o CAPS), em 1970 foi inaugurada a nova sede, sem gastar nenhuma moeda de dinheiro público, todo o dinheiro gasto foi arrecadado através de doações de amigos da Holanda e Alemanha. Após a inauguração do novo hospital, Frei Emiliano conta que os coronéis tentaram mais uma vez retirá-lo da direção.

Em 1980 construiu um asilo bonito para os idosos pobres e ajudou a reconstruir as casas daqueles que perderam a sua casa na enchente de 1979. Tornando-se deste modo um grande benfeitor desta cidade de Jequitinhonha. Mas isso não agradava aos coronéis, que ficaram com muita inveja. E quando em 1982 perderam a política na prefeitura, Fr. Emiliano foi indicado como sendo o responsável. Queriam matá-lo, mas graças a Deus, ficou só na ameaça, não aconteceu nada. Mas o medo ainda tomou conta da casa paroquial por muito tempo.

Após intensos anos de trabalho em Jequitinhonha, foi transferido para Abaeté, mas jamais esqueceu-se de sua amada cidade, mesmo de longe, conseguia verbas para Frei Eliseu aplicar na Rádio e Hospital. Em 1986, retornou em apoteose, foi nomeado Cidadão Honorário de Jequitinhonha, na ocasião disse: “Uma parcela bem grande da minha vida, 25 anos, vivi nesta cidade, onde passei os maiores sofrimentos, mas também as maiores alegrias”.

Há muito tempo Frei Emiliano tinha um problema no ouvido esquerdo. Foi consultar um especialista. Este aconselhou fazer um tratamento na Holanda. Descobriu-se um tumor no nervo auditivo. Na festa de São Miguel, em 29 de setembro, ele se despediu do seu povo amado.

No princípio de outubro embarcou para Holanda. Depois de muitos exames, ele foi operado em 06 de novembro. A operação correu bem. Quase todos os dias telefonava para saber notícias da rádio e do hospital. Em carta ao Ministro Provincial Frei Luciano Brod, disse que não queria ficar muito tempo por lá, pois Jequitinhonha o aguardava. Até 18 de novembro as notícias eram otimistas. Alguns dias antes ele falou que tinha meningite, mas os médicos acharam que isso podia tratar. No domingo 19 de novembro, foi lavar o rosto e se sentiu mal. Chamou a enfermeira e os médicos. Fizeram massagem cardíaca, mas não teve mais resultado. Depois de meia hora ele faleceu.

Na mesma noite, nesta Igreja, o Provincial Frei Luciano celebrou com toda a fraternidade franciscana, uma missa pelo descanso eterno. Relatos afirmam que do rico ao pobre, de criança a velho, todos sentiram a morte daquele que é considerado o maior benfeitor desta cidade. No dia do seu enterro, por insistência da juventude, Dom Diogo celebrou Solenes Exéquias na exata hora do funeral, com a presença de todo o clero, frades e religiosas. Morreu com 66 anos de idade. Quando fosse se aposentar, queria morar em Jequitinhonha, no meio do seu povo, que ele amava muito. Deus, porém, o chamou e, sem dúvida, recebeu a recompensa dos seus trabalhos, sobretudo dos benefícios para com os pobres, os doentes e os idosos. Descanse eternamente em Paz, Frei Emiliano!

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