As quatro velas da coroa do Advento nos remetem ao terreno, aos quatro elementos da natureza nas quatro semanas que antecedem o Natal.
Frei Jacir de Freitas Faria [1]
Advento é um substantivo latino, Adventus, que significa “chegada”. No império romano era a chegada, a visita, de pessoas ilustres, reis e imperadores às cidades. Elas eram recepcionadas nas portas das cidades com honrarias. O povo esperava com alegria a vinda dessas pessoas, pois elas poderiam lhes conceder benefícios. Havia o costume de enfeitar carroças para conduzir esses notáveis.
A partir do século IV, quando o cristianismo passou a ser a religião do império romano, os cristãos passaram a utilizar o termo advento para celebrar o Natal, visto que já estava bem conhecido o uso do termo grego, Parusia, para falar da segunda vinda de Cristo. A primeira vez que o Advento em relação a Jesus foi celebrado ocorreu em 380 E.C., no Sínodo de Saragoça, Espanha.
Mais tarde, os cristãos criaram a coroa do Advento, confeccionada de cipreste e velas. O tempo, a luz e a cor estão representadas na coroa. Construída de forma circular, a coroa representa o tempo de Deus, em grego, Kairós, um tempo que não tem começo e nem fim. Ele é circular, eterno. O verde das folhas de pinheiro que a envolve nos remete também ao Eterno, ao infinito, pois ela aponta para o céu e continua eternamente viva, no verde de suas folhas.
As quatro velas da coroa do Advento nos remetem ao terreno, aos quatro elementos da natureza nas quatro semanas que antecedem o Natal. A vela acesa nos acompanha durante nossas vidas. Quando celebramos o aniversário, apagamos uma vela para simbolizar que o tempo passou e uma nova luz é acessa para iluminar o tempo futuro. Quando morremos, no velório, isto é, a junção de muitas velas, a luz de nossa vida terrena é apagada pela última vez. Partimos ao encontro de Deus que é a Luz que brilha sempre. Nele nos tornamos luz eterna!
Não por menos, em sânscrito, a antiga língua da Índia e Nepal e considerada indo-europeia, fazendo parte do tronco linguístico de muitas línguas europeias, Deus se diz dêva ou dywe, que vem de div e significa brilhar, e dew, luz, brilho. Brilhar, luz. Dia vem de Deus. Bom dia, bôdiè,é o mesmo que Boa luz e Bom Deus. Em outras palavras, que Deus seja luz em seu caminho. Jesus é Deus! Deus é Luz! Jesus é a luz que ilumina a nossa vida no Natal que vai chegar!
Os romanos reverenciavam o sol como divindade. Ele era chamado de Sol Invicto, que nunca se apaga, e celebrado no dia 25 de dezembro, culto iniciado em 274 E.C. pelo imperador Aureliano. O imperador era considerado um iluminado. O cristianismo fez a releitura desse culto com Jesus, na celebração do Natal. Jesus é a luz que nunca se apaga.
A luz do sol tem relação direta com as cores a partir de fenômeno chamado de refração, o qual ocorre quando a luz se decompõe quando ao ser confrontada com uma superfície branca, como a água e o ar. A refração ocorre possibilitando a formação de cores. É desse modo que o sol produz as cores do arco-íris. Deus sendo a Luz, Ele se revela nas cores da roda da vida. Compreender Deus é decodificar o sentido das cores, sua manifestação no meio de nós, em Jesus Cristo.
Na coroa do Advento temos quatro cores: verde, vermelho, rosa e branco. Há coroas que também trazem três velas roxas e um branca. Cada uma delas representa algo. O verde, a esperança; o vermelho, o amor; o rosa, a alegria e o branco, a paz. A cor rosa é a alegria da vinda de Jesus no Natal, por isso, ela é acesa no terceiro domingo do advento.
Uma criança nasce, a vida renasce nos pais, na humanidade. Celebrar o Natal é celebrar Jesus que faz a vida recomeçar na roda da vida. O dia 25 de dezembro simboliza o recomeço do sol de nossas vidas que não pode parar de brilhar com a esperança, o amor, a alegria e a paz. Ainda que cheguem os dias desesperança, desamor, tristeza e guerra, deixa a luz de Deus brilhar no giro da vida. Fé sempre! O Natal é logo ali! Paz e bem!
[1]Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. Presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de doze livros e coautor de dezesseis. Canal no Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ Última publicação: Os murais do Santuário Santo Antônio, de Divinópolis (MG), no simbolismo do Três na Trindade e na Crucifixão de Jesus: interpretação bíblica, teológica, catequética e franciscana das pinturas de Frei Humberto Randang. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2024.