Dia 16 de janeiro a Igreja celebra os santos mártires de Marraquexe, primeiros mártires da Ordem dos Frades Menores e patronos da Custódia dos Frades no Marrocos. Viva os Santos Mártires!
S. Berardo, sacerdote da Primeira Ordem Franciscana, ótimo pregador e conhecedor da língua árabe, juntamente com Pedro e Otão, também sacerdotes, e ainda mais dois irmãos não clérigos, Acúrsio e Adjuto, deram a vida por Cristo em Marraquexe, a 16 de Janeiro de 1220.
“O bem-aventurado Francisco, movido por divina inspiração, escolheu seis dos seus melhores filhos e enviou-os a pregar a fé católica entre infiéis.
Logo eles se puseram a caminho em direção à Espanha. Ao chegarem a Aragão, Fr. Vidal, o responsável pelo grupo, adoeceu com gravidade; impossibilitado de prosseguir viagem, determinou que os outros avançassem na missão. Eles dirigiram-se a Coimbra, e dali, sem o hábito religioso para não provocarem os sarracenos, foram para Sevilha.
Um belo dia, cheios de santa coragem, resolveram dar uma volta pela cidade e visitar a mesquita principal. Não os permitiram os mouros, chegando mesmo a usar violência, verbal e física, contra eles. Presos e conduzidos ao palácio do soberano, aproveitaram o ensejo para lhe declararem que eram mensageiros do Rei dos reis, Jesus Cristo. Depois de exporem as principais verdades da fé católica e convidarem os ouvintes a que se batizassem, o rei, enfurecido com semelhante atrevimento, determinou que fossem imediatamente decapitados. Mas o Conselho supremo do monarca interveio, sugerindo que se evitasse um conflito desnecessário com os cristãos, e se deixassem os presos seguir para Marrocos, como era seu desejo.
Quando lá chegaram, sem perderem tempo começaram logo a pregar o evangelho, especialmente no maior mercado da cidade. Informado da ousadia, o sultão deu ordens de imediatamente os meterem no calabouço, onde permaneceram durante vinte dias em absoluto jejum, pois nada lhes davam para comer nem beber: só podiam alimentar e robustecer o espírito. Terminada essa dura prova, foram levados à presença do sultão para interrogatório. Como eles continuavam firmes no propósito já antes manifestado de não abjurarem da fé católica, o sultão, enfurecido, mandou-os açoitar e separar uns dos outros, submetendo-os a intensas torturas em vários cárceres.
Os esbirros algemaram-nos, amarraram-lhes os pés, ataram-lhes grossas cordas ao pescoço, e levaram-nos de rastos com tal violência, que quase lhes saíam as entranhas pelas feridas abertas. Sobre essas feridas lançavam os verdugos azeite e vinagre a ferver; e uma vez despejadas as garrafas, partiam-nas e espalhavam pelo chão os cacos de vidro, para mais ferirem os condenados quando os arrastassem por cima deles. Por uma noite inteira se prolongou o suplício, executado por uns trinta sarracenos, que se revezavam na carnificina.
Na manhã seguinte foram de novo levados ao sultão, descalços e seminus, e constantemente chicoteados. Repetiu-se o interrogatório, com idênticas respostas. Mas 0 soberano resolveu mudar de táctica. Mandou trazer à presença deles algumas belas mulheres, e tentou aliciá-los, dizendo: “Se vos converterdes à nossa religião muçulmana, dar-vos-ei estas raparigas por esposas, e farei de vós homens ricos e honrados em todo o meu reino”.
A resposta foi unânime: “Fica com 0 teu dinheiro, com as tuas mulheres e com as tuas honras; nós renunciamos a todos os bens passageiros do mundo por amor a Cristo”. Otão tomou a palavra para dizer: “Escusas de tentar subornar os servos de Deus. Enganas-te se pensas que com as tuas promessas conseguirás fazer fraquejar a nossa determinação. Não sabes que Deus vela continuamente por nós? Nós somos soldados intrépidos de Jesus, dispostos a morrer no campo de batalha, antes que desertar da Cruz de Cristo.
O nosso sangue, derramado por uma causa tão santa e tão nobre, será semente de novos cristãos!”.
Considerando-se desdenhado, o rei enfureceu-se, puxou da espada, e de um só golpe abriu uma brecha na cabeça de cada um; depois, por suas próprias mãos cravou-lhes três cimitarras na garganta. Assim se consumou, em 16 de janeiro de 1220, o martírio dos primeiros “autênticos irmãos menores”, como os classificaria S. Francisco.
Os restos mortais destes protomártires franciscanos foram trasladados para Coimbra, e aí atraíram para a Ordem Santo Antônio de Lisboa. Repousam num monumento fúnebre, e são objeto de veneração por parte dos fiéis, que têm sido favorecidos com abundantes milagres.
Esta expedição a Marrocos e o seu êxito de martírio constituiu o início da epopeia missionária da Ordem ao longo dos séculos, iniciada durante a vida do próprio fundador e sob a sua inspiração e seu mandato.
Fonte: Santos Franciscanos para cada dia