“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Frei Laércio Jorge de Oliveira, OFM
“Nas noites mais escuras,
os gestos de amor
são as estrelas mais brilhantes.“
(Pe. João Carlos)
Quando Judas sai do Cenáculo, João simplesmente registra: “É noite!”. Essa noite é simbólica, quando pensamos nas traições estruturais que se estende hoje sobre nosso país: quando o Brasil bate recordes de exportação de grãos, 33,1 milhões passam fome (Rede PENSSAN, 2023); quando um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos (Atlas da Violência, 2023); quando a noite da política: o mesmo Congresso que corta R$ 1,7bi da assistência social e aprova R$ 18bi em emendas parlamentares. Jesus conheceu essa noite. Não apenas a traição pessoal de Judas, mas a traição institucional do Sinédrio e de Roma.
– Hoje, quantas estruturas “beijam” o povo com promessas e depois o vendem por 30 moedas?
O texto nos apresenta dois tipos de traição que iluminam as nossas traições cotidianas. Personificado em Judas, temos uma espécie de traição definitiva, que troca o Reino pelo dinheiro. Em Pedro uma negação momentânea, mas esta, seguida de conversão… estes tipos de traições podem ser também personificadas em nossa vida cotidiana, como por exemplo: nos empresários que financiam milícias, e nos administradores públicos que se deixam seduzir por cargo e status… ou ainda em cada cristãos, que denuncia a corrupção, mas compra produtos piratas ou quando criticamos a desigualdade, mas não questionamos nossos privilégios…
– Nossas comunidades são escolas de conversão (como Pedro) ou redes de cumplicidade (como Judas)?
Jesus define seu amor como doação radical: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Enquanto isso, lembramos daqueles e daquelas que doaram a sua vida por um projeto que luta pela garantia de direitos em meio a perda de sua própria vida, como Marielle Franco deu a vida pela democracia (2018); Dorothy Stang deu a vida pela Amazônia (2005) e não podemos esquecer dos mais de 715.833[1] mortos pela COVID-19 eram em sua maioria pobres, negros e de periferia. Enquanto o sistema neoliberal prega o “cada um por si”, Jesus nos convida ao “dar a vida”. Como responder a isso hoje?
Apesar das trevas, há luzes! As Mães de Maio que há 18 anos buscam justiça! Os catadores de recicláveis, verdadeiros “apóstolos da ecologia integral” (Laudato Si’) e as comunidades eclesiais de base que resistem nas periferias. Como não mencionar jovens, na favela da Maré (RJ) que criam alternativas à violência através da arte e cultura, atualizando o mandamento do amor.
- Que Noite Estamos Vivendo? A noite da omissão ou da resistência?
- Que traições praticamos? – Lembremos das pequenas covardias do dia-a-dia
- Por quem daríamos a vida? – Pelos ideais do Reino ou por nossos interesses?
Bibliografia:
CNBB. Documento CF 2025: Fraternidade e Políticas Públicas
BOFF, L. Fidelidade e Coragem. Vozes, 2019
Dados do IBGE, IPEA e FGV sobre desigualdade (2024)