“Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. Não importa quão difícil seja a situação em que você se encontra; continue fazendo o bem aos outros.”
Frei Laércio Jorge de Oliveira, OFM
“Não podemos ficar tranquilos
em espera passiva em nossos templos“.
Papa Francisco na Evangelii Gaudium
Grande é a nossa alegria ao ver a Luz que brilha nas trevas. É a noite santa da “Vigília Pascal”. O símbolo predominante desta noite de Páscoa é a “Luz”, ou seja, é a noite de Deus mesmo, pois a palavra Deus, tem a mesma raiz da palavra dia – Dies/luz.
O costume, que em diversos lugares se conservou durante muito tempo, de tomar o fogo novo, para a celebração da Vigília Pascal, diretamente do sol por meio de um cristal: luz e fogo recebiam-se novamente, por assim dizer, do céu para depois, a partir deles, se acenderem todas as luzes e fogos do ano. Isto é um símbolo do que celebramos na Vigília Pascal.
Com radicalidade do seu amor, no qual se tocaram o coração de Deus e o coração do homem, Jesus tomou verdadeiramente a luz do céu e trouxe-a a terra – a luz da verdade e o fogo do amor que transformam o ser do homem. Ele trouxe a luz, e agora sabemos quem e como é Deus. De igual modo sabemos também como estão as coisas a respeito do homem: o que somos nós e para que fim existimos.
Ser batizado significa que a luz deste fogo novo desce ao nosso íntimo. Por isso, na Igreja Antiga, o Batismo era chamado também o Sacramento da Iluminação: a luz de Deus entra em nós; assim nos tornamos próprios filhos da luz.
Esta luz da verdade que nos aponta o caminho, não deixemos que se apague. Protejamo-la contra todas as forças que pretendem extingui-la para nos lançar novamente na escuridão sem Deus e de nós mesmos. De vez em quando a escuridão pode-nos parecer cômoda. Posso esconder-me e passar a minha vida dormindo. Nós, porém, não somos chamados a viver nas trevas, mas na luz. Nas promessas batismais, por assim dizer, acendemos novamente, ano após ano, esta luz:
Sim, creio que o mundo e a minha vida não provêm do acaso, mas da Razão Eterna e do Amor Eterno, que são criados por Deus Onipotente.
Sim, creio que em Jesus Cristo, na sua encarnação, na sua cruz e ressurreição, se manifestou o Rosto de Deus; que, em Jesus, Deus está presente no meio de nós, nos une e conduz para a nossa meta, para o Amor Eterno.
Sim, creio que o Espírito Santo nos dá a Palavra da verdade e ilumina o nosso coração; creio que, na comunhão da Igreja, nos tornamos todos um só Corpo com o Senhor e, deste modo, vamos ao encontro da ressurreição e da vida eterna, pois “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
O Senhor deu-nos a luz da verdade. Esta luz é ao mesmo tempo também fogo, força que nos vem de Deus. Uma força que não destrói, mas quer transformar os nossos corações, para nos tornarmos verdadeiramente mulheres e homens de Deus e para que, a sua paz que brota da Justiça, se torne realidade neste mundo.
Sempre de novo devemos voltar para Ele, que é O Caminho, A Verdade e A Vida [e não UM caminho, UMA verdade e UMA vida!]. Sempre de novo devemos tornar “convertidos”, com toda a vida voltada para o Senhor. E sempre de novo não devemos deixar que o nosso coração seja subtraído à força da gravidade, que o puxa para baixo, e sim levantá-lo interiormente para o alto: para a verdade e o amor. Somos criados das coisas e para as coisas do céu!
Nesta hora, agradeçamos ao Senhor, porque Ele, com a força da sua palavra e dos sacramentos sagrados, nos orienta na justa direção e atrai para o alto o nosso coração. E rezemos-Lhe deste modo: Sim, Senhor, fazei que nos tornemos pessoas pascais, homens e mulheres da luz, repletos do fogo do teu amor. Que passemos de cristãos ordinários à Cristãos Extraordinários[1]. Amém.
Mas, como vivenciar essa mudança, se estamos adoecidos? Uma pesquisa recente da CDL/BH[2] comparando os anos de 21, 22 e 23 apresentou que o comércio varejista da capital mineira registrou aumento de 1,36% em 2023 [1,32%/2021 e 1,34%/2022]. Conforme o levantamento da CDL/BH, destacaram-se os segmentos de drogarias e cosméticos (6,63%) e supermercados (4,44%). Estamos adoecidos!
Na mesma pesquisa mostra que temos mais academias e farmácias do que escolas e igrejas. O que vem confirmar o nosso adoecimento, pois estamos mal cuidando do corpo em detrimento da consciência e do espírito.
A preocupação com o bem-estar humano não termina nas fronteiras nacionais, assim como a evangelização não está restrita às fronteiras dos templos e das comunidades. Essa é uma ideia que tem seus defensores hoje. A reação deve ser interna e externa ao mesmo tempo, tal como provocou Jesus.
É um trabalho de raiz, de fundo, de pastoral. Embora não vise diretamente derrubar o poder ou propor um modelo alternativo, a nossa pastoral tem uma dimensão política sim! Pois o evangelho trata da vida…e a vida constitui-se de saúde, educação, segurança, alimentação, transporte, etc… E da mesma forma que confundiram Jesus com os Zelotes, hoje também se confunde e se condena a Igreja como comunista e subversiva.
“Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. Não importa quão difícil seja a situação em que você se encontra; continue fazendo o bem aos outros.”
O convite está feito… passemos de ordinários para extraordinários! Mas, para este projeto evangélico, de ecologia integral, reafirmado pela CF/2025 possa dar certo, precisamos “retirar[3] diariamente o lixo do coração, se não, um dia vai ser difícil, ter que tirar o coração do lixo”.
- Como traduzir a luz pascal em ações concretas que combatam as trevas da desigualdade social?
- De que maneira nossas comunidades podem ser verdadeiros “fogos novos” que aquecem e iluminam a sociedade?
- Como superar a dicotomia entre espiritualidade e engajamento social, seguindo o exemplo de Jesus que unificou amor a Deus e serviço aos pobres?
A ecologia integral proposta pelo Papa Francisco na Laudato Si’ (2015) nos alerta: não há transformação social sem conversão ecológica. O “lixo do coração” manifesta-se também no lixo ambiental que contamina nossos rios e no lixo social que marginaliza milhões de brasileiros. Como nos recorda Dom Hélder Câmara: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que não têm comida, me chamam de comunista”. Esta tensão revela o desafio de viver autenticamente a luz pascal em um contexto de profundas desigualdades.
Por fim, a luz pascal nos interpela: seremos cristãos ordinários, contentes com ritos vazios, ou extraordinários, transformando nossas celebrações em compromisso concreto com a justiça social? A resposta está em nossas mãos e em nossa capacidade de manter acesa a chama da esperança e da transformação social.
Bibliografia:
BOFF, L. Sacramento da Vida. Vozes, 1995.
CNBB. Documento da CF 2025: Fraternidade e Políticas Públicas.
FRANCISCO. Evangelii Gaudium. 2013.
GUTIÉRREZ, G. Teologia da Libertação. Loyola, 1971.
REDE PENSSAN. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar. 2023.
[1] ORDINÁRIOS = de todos os dias!
EXTRAORDINÁRIO = excepcional; incomum, fora do padrão!
[2]Comércio de BH tem maior alta dos últimos três anos, diz CDL – Publicado em 28/02/2024 17:08 – atualizado 28/02/2024 17:17 – por: Ana Luiza Soares, Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata. https://www.em.com.br/gerais/2024/02/6810532-comercio-de-bh-tem-maior-alta-dos-ultimos-tres-anos-diz-cdl.html – pesquisa realizada em 28/3/2024
[3] Apóstolo Brivaldo: APÓSTOLO PRESIDENTE DA IGREJA APOSTÓLICA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA & FUNDADOR DO MODELO GERACIONAL E DA REDE APOSTÓLICA. – Pesquisa em 23 de março de 2024:
