Homem pascal, irmão universal, discípulo do Cristo pobre e ressuscitado.
Frei Renieverton Telles de Oliveira, OFM
Na luz serena da Oitava da Páscoa, quando a Igreja ainda canta com júbilo: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia!”, recebemos com comoção e fé a notícia do falecimento do Papa Francisco, o sucessor de Pedro que, à maneira de Francisco de Assis, guiou a barca de Cristo com ternura, coragem e profecia. Sua partida neste tempo litúrgico tão especial nos convida a contemplar sua vida e missão à luz do Cristo Ressuscitado, que venceu a morte e abriu-nos as portas da eternidade.
Um pontificado de ressurreição e conversão
Eleito em 2013, Jorge Mario Bergoglio assumiu o nome “Francisco” — gesto inédito e profundamente simbólico — como um manifesto de seu projeto eclesial: uma Igreja pobre para os pobres, uma Igreja que respira o Evangelho com os pulmões da simplicidade, do cuidado com a criação e da compaixão pelos últimos. Sua escolha foi um eco direto do Cristo ressuscitado que se manifesta nos sinais da vida nova, nos gestos que curam, nos encontros que transformam.
Seu pontificado foi um contínuo apelo pascal à conversão: uma conversão pastoral (Evangelii Gaudium), ecológica (Laudato Si’), fraterna (Fratelli Tutti), familiar (Amoris Laetitia) e sinodal. Cada documento, cada palavra, cada gesto apontava para o Ressuscitado que caminha conosco e nos convida à esperança. Sua voz se ergueu com autoridade evangélica contra as estruturas de morte: a indiferença, o individualismo, o clericalismo, a destruição da casa comum e a exclusão dos pobres.
Um papa franciscano na alma e no estilo
Francisco viveu o Evangelho como São Francisco: com os pés descalços no chão da realidade, com o coração em Deus e os braços estendidos aos irmãos. Preferiu os gestos aos títulos, os pobres aos palácios, o silêncio orante ao barulho das disputas de poder. Como o Pobrezinho de Assis, ele soube “fazer-se menor” para tornar maior o Reino de Deus.
Seu jeito pastoral encantou o mundo com a força da humildade. Visitou periferias, lavou os pés dos esquecidos, abriu as portas da misericórdia, reatou laços com povos indígenas e com irmãos de outras religiões. Foi ponte, nunca muro. Foi pastor, nunca príncipe.
Na Oitava da Páscoa: a morte como passagem pascal
Celebrar sua páscoa pessoal nesta Oitava é reconhecer que sua vida foi uma contínua travessia do egoísmo à fraternidade, da rigidez à misericórdia, da sombra à luz. Francisco nos ensinou que ressuscitar é dar passos concretos de cuidado, justiça e amor. Sua morte não é o fim, mas a consumação de um caminho pascal vivido à luz do Ressuscitado.
Assim como Maria Madalena encontrou o Ressuscitado no jardim do túmulo vazio, também nós, nesta hora de saudade, somos chamados a ver no Papa Francisco não a ausência, mas o sinal da esperança: ele vive agora em Deus, junto àqueles por quem ele viveu e sofreu, e sua memória será como o perfume do Cristo ressuscitado espalhado no jardim da Igreja.
Na alegria da Páscoa, mesmo em meio ao luto, damos graças a Deus pela vida, pelo ministério e pelo testemunho de Papa Francisco. Que ele, agora unido ao Cordeiro imolado e glorioso, interceda pela Igreja que tanto amou. E que nós, como irmãos menores, possamos seguir seus passos de humildade, cuidado e profecia, vivendo a fé como uma contínua páscoa, como uma entrega cotidiana ao Evangelho da vida.
Papa Francisco (1936–2025)
Homem pascal, irmão universal, discípulo do Cristo pobre e ressuscitado.
Aleluia! Aleluia!
Foto: Pixabay (imagens grátis)