Que o Espírito Santo ilumine os cardeais reclusos na capela Sistina a manterem vivo os ideais do Papa Francisco! Que o seu “sapato” calce o novo pastor da Igreja Católica. Paz e bem!
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM [1]
O atual conclave, substantivo de origem latina cum clavis, significa com chave ou fechado à chave, é formado por 133 cardeais oriundos de 70 países, dentre eles, 7 brasileiros, os quais estarão fechados no Vaticano, a partir do dia 7 de maio, para escolher o novo papa. A pergunta que o mundo faz é: se o modo de condução da Igreja ao estilo Francisco de Assis e da periferia do mundo em Roma vai continuar?
Desses cardeais votantes, todos com menos de 80 anos, 90 foram escolhidos pelo Papa Francisco, o que não significa que o seu sucessor seguirá a sua cartilha. Francisco, democrático que era, respeitava as diferentes tendências dentro da Igreja, ainda que tenha tirado o poder de muitos cardeais, como o do americano Raymond Leo Burke, e diminuído o número de cardeais italianos, de 28 para 17, fazendo com que o poder da Igreja deixasse de ser italianocêntrica, ainda que continue eurocêntrica. Atualmente 39,26% dos cardeais votantes são da Europa, seguido pelos americanos (27,4%) e africanos (13,34%). Francisco ampliou a força do voto para o mundo, segundo a proporcionalidade de católicos.
Creio que esse conclave não vai passar de 48 horas, ainda que, na história da Igreja tenha havido um conclave, no século XIII, com duração de 33 semanas, culminando com a eleição de Gregório X. Na época, foi preciso que a comunidade impedisse a entrada de comida no local de votação, de modo que a fumaça branca pudesse aparecer nas chaminés do Vaticano.
Qual será a tendência do novo papa? Conservador, moderado ou progressista? O Brasil, apesar de a CNBB ter mantido, ainda que discreto, o apoio às reformas de Francisco, em meio à forte tendência de um laicato que deseja voltar à grande disciplina da Igreja Medieval. No Brasil, não há, dentre os seus cardeais votantes, algum que desponta poderá assumir essa função. Poderá ter surpresa com o meu confrade franciscano, cardeal de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner? Não se sabe! No passado recente, houve um brasileiro eleito no conclave, mas que declinou da eleição justificando que tinha oito pontes de safena. O ano era 1978, quando da eleição de João Paulo II, e o cardeal era o Aloisio Lorscheider. Detalhe, ele enterrou João Paulo II e morreu 4 anos depois.
Os alinhados com o pensamento de Francisco são maioria, mas numa eleição papal tudo pode acontecer. Acredito que a tendência será eleição de um italiano, visto que isso não ocorre há 47 anos. O novo papa deverá ter idade acima de 70 anos. Eu ponho minha esperança no italiano Mateus Maria Zuppi, atual presidente da conferência italiana de bispos. O filipino Tagle também tem chances, assim como o diplomata italiano Pietro Parolin, que foi secretário de Estado do Vaticano, no papado de Francisco.
Na verdade, torço para que o próximo papa seja um Francisco II, que continue discutindo o celibato do clero e o acesso das mulheres ao presbiterato, que seja crítico do sistema capitalista, que mantenha a urgência da discussão em torno da ecologia integral, que prossiga no projeto de uma Igreja em saída da sacristia etc. Caso não tenha esse perfil, confiemos na força do Espírito Santo para a sua conversão. Caso isso não aconteça, voltaremos à Igreja de um passado longínquo e recente, marcada por dissabores não muito evangélicos.
De Francisco, guardaremos na memória as suas atitudes de simplicidade e acolhida que encantaram o mundo. No dia de sua eleição, em 2013, o fato de ele pedir para ser abençoado; não usar a cruz de ouro própria dos papas, tampouco os sapatos vermelhos; solicitar aos argentinos para não irem a Roma para a missa de posse, mas dar o dinheiro da viagem aos pobres; não aceitar usar o carro papal etc. foram sinais evidentes de sua escolha pelo nome Francisco de Assis, homenageando o santo dos pobres e do povo, para reformar a Igreja no seu modo de evangelizar, como fizera São Francisco no século XIII. Era isso que a Igreja precisava naquele momento e hoje, ainda com mais vigor.
Que o Espírito Santo ilumine os cardeais reclusos na capela Sistina a manterem vivo os ideais do Papa Francisco! Que o seu “sapato” calce o novo pastor da Igreja Católica. Paz e bem!
[1]Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. Presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de treze livros e coautor de quinze. Publicou recentemente Bíblia Apócrifa: Segundo Testamento (Vozes, 2025). São 784 páginas com a tradução de 67 apócrifos do Novo Testamento sobre a infância de Jesus, Maria, José, Pilatos, apocalipses, cartas, atos etc. Canal no Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ
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