A abolição da escravatura foi importante no seu tempo, mas ela não trouxe a igualdade social para os negros.
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM [1]
A treze de maio em Fátima de Maria, na escravidão de Isabel, no Brasil de 13 de maio de 1888, e os Leões XIII e XIV!
O Papa Leão XIII, que inspirou o atual Leão XIV, louvou a atitude da princesa Isabel, enviando-a uma rosa de ouro. Antes, em 5 de maio de 1888, ele havia escrito uma carta aos bispos do Brasil, intitulada de “Entre muitos”, conclamando o fim da escravidão, por ser ela contrária à dignidade dos batizados. O Brasil foi o último país das américas a decretar o fim da escravidão. Era e é para ser comemorado? Sim e não!
Sobre a devoção a Nossa Senhora de Fátima, poucos de nós não conhecemos o canto: “A treze de maio na cova de Iria no céu aparece a Virgem Maria. Ave, Ave Maria!”. Ele evoca a proteção maternal de Maria. Era o ano de 1917, num local chamado Cova de Iria, em Portugal, país que estava em crise econômica, política e religiosa. A revolução russa ganhava seu curso. A Primeira Guerra Mundial caminhava para o fim. Três crianças pobres dos arredores de Fátima diziam ter visto Nossa Senhora e que dela haviam recebido mensagens que foram conservadas como segredos, os quais foram revelados décadas mais tarde e tratavam de uma convocação à devoção ao Sagrado Coração de Maria, à retomada da visão medieval do pavoroso inferno e da conversão da Rússia. Todos esses segredos estão relacionados a um catolicismo devocional, conservador e medieval. A Virgem Maria aparece como um raio de luz vindo do céu e pede para rezar o terço. Nessa relação medieval, ao terço foi acrescentada a jaculatória: “Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem.”
As aparições se sucederam até treze de outubro de 1917. A Igreja sempre tratou com cautela essas aparições, questionando o seu objetivo e veracidade.
A aparição de Maria em Fátima levou o mundo a pedir a paz, sob os mantos da proteção de Maria. A abolição da escravatura foi importante no seu tempo, mas ela não trouxe a igualdade social para os negros. O racismo e as desigualdades sociais continuam imperano no Brasil do século XXI. O fato de o Cardeal Prevost ter reavivado em nós a memória de Leão XIII é um sinal de que o seu desejo é continuar a construir pontes de diálogos em busca da paz e da liberdade, ainda que esse caminho seja difícil de trilhar!
O céu que as ingênuas crianças, Jacinto, Francisco e Lúcia, contemplavam na cova da Iria, começa aqui. Mãos à obra, fé e compromisso. O caminho de transformação, de mudança é aqui. E ele passa por políticas de inclusão social para todos, negros e brancos, pela economia solidária e pela religião que liberta. Que Papa Leão XIV, peruano de coração, nos aponte caminhos, nas trilhas de seu antecessor, Francisco, o argentino que marcou muitos gols no seu papado à modo de Francisco de Assis e sob as bênçãos da Nossa Senhora de Fátima, do Brasil e do mundo. Paz e bem!
[1]Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. Presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de treze livros e coautor de quinze. Publicou recentemente Bíblia Apócrifa: Segundo Testamento (Vozes, 2025). São 784 páginas com a tradução de 67 apócrifos do Novo Testamento sobre a infância de Jesus, Maria, José, Pilatos, apocalipses, cartas, atos etc. Canal no Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ