No Brasil, celebramos o Dia da Árvore em 21 de setembro, data escolhida por marcar a chegada da primavera, estação em que o ciclo da vida se renova e se fortalece.
Frei Danilo Nunes Soares, OFM
No Brasil, celebramos o Dia da Árvore em 21 de setembro, data escolhida por marcar a chegada da primavera, estação em que o ciclo da vida se renova e se fortalece. As árvores, assim como as algas, são organismos fotossintetizantes, base da cadeia alimentar: produzem seu próprio alimento pela luz solar e pela absorção de CO₂, sustentando, assim, toda a rede da vida. As florestas são fonte de alimento – néctar, folhas, sementes, frutos, troncos –, regulam o clima – modulando a temperatura, mantendo a umidade do ar e sustentando o ciclo hidrológico –, oferecem abrigo a inúmeras espécies e permitem a infiltração da água da chuva nos solos, evitando enchentes e desmoronamentos que são frequentes em áreas degradadas pela ação humana.
Sob uma perspectiva franciscana, cristã e bíblica, somos convidados a olhar para a criação não pelo que ela pode nos oferecer, mas pelo que ela é em si mesma. O sistema econômico capitalista, marcado por uma lógica utilitarista, nos ensina a ver tudo como mercadoria – o que não tem valor é descartado. Contra essa mentalidade, a fé nos recorda, no relato da criação, o valor intrínseco da criação: “E Deus viu que tudo era bom”.
A natureza nos educa também pela arte. Como nos recorda a poesia de Manoel de Barros, no trecho do poema Árvore, percebemos que há uma sabedoria maior que ultrapassa nossos sentidos e nos faz transcender:
“No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua mais do que na escola. No estágio de ser árvore, meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam no internato. Aprendeu com a natureza o perfume de Deus. Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.” (Ensaios fotográficos, Rio de Janeiro: Record, 2000).
As florestas, guardiãs da vida, nos ensinam o dom de nos relacionarmos de forma saudável: raízes que se conectam com fungos, pássaros que fazem seus ninhos e dispersam sementes, insetos que polinizam flores, mamíferos que se alimentam dos frutos. Tudo se integra e se conecta em favor da vida.
Entretanto, os sistemas econômicos – sobretudo o capitalismo – têm reduzido a vida a objetos de lucro. Essa “cultura do descarte”, denunciada pelo Papa Francisco, transforma tudo em mercadoria, ceifa florestas, devasta solos e lençóis freáticos, fragiliza o equilíbrio da Terra. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou 47.531 focos de queimadas no Brasil apenas até agosto de 2025. O desmatamento na Amazônia cresceu 8,4% no período de agosto de 2024 a junho de 2025, alcançando 3.959 km², contra 3.652 km² no mesmo período anterior. Esses números revelam a gravidade da situação: não estamos apenas diante de uma crise ambiental, mas de uma crise da própria humanidade, que rompe seus vínculos com a criação e com a fraternidade universal.
São sempre os mais pobres e marginalizados que mais sofrem: as enchentes, desmoronamentos, queimadas e a fome atingem em primeiro lugar as periferias do mundo e da vida. O individualismo e o consumismo desfiguram a humanidade, rompendo a comunhão com a criação e colocando o dinheiro no lugar de Deus, da vida e da dignidade humana.
Neste Dia da Árvore, somos chamados a despertar a consciência de que preservar as árvores e as florestas é preservar a vida em todas as suas formas. Como nos recorda o Papa Francisco nas encíclicas Laudato Si’ e Laudate Deum, há uma íntima relação entre a crise ambiental e a crise humana. Reconheçamos o valor da criação em si mesma, retomemos nossa vocação de guardiães da vida e restabeleçamos nossas conexões com a rede da existência. A vida só é plena quando vivida em fraternidade.