Reflexão do Transitus de São Francisco de Assis

Reflexão do Transitus de São Francisco de Assis

Que o exemplo de Francisco nos encoraje a viver no Espírito, na esperança e no amor, para que, quando chegar a nossa hora, possamos também cantar como ele: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal”.

Frei Ademilson Salvino, OFM[1]

Amados irmãos e irmãs, esta é a noite em que nós, da Família Franciscana, nos reunimos para celebrar o Transitus de São Francisco, isto é, a sua passagem da vida terrena para a vida eterna, junto do Pai, a quem ele tanto amou em sua existência. Uma vida atravessada pela simplicidade, pela radicalidade evangélica e pela dedicação aos empobrecidos daquela sociedade marcada por desigualdades e exclusões. Francisco, em tudo, quis ser pequeno e servo, e por isso, foi feito grande aos olhos de Deus.

Celebrar o Trânsito de São Francisco, neste ano em que também recordamos os 800 anos do Cântico das Criaturas, é ainda mais sublime. Esse cântico nasceu da alma agradecida de Francisco, que mesmo no meio de dores e sofrimentos, soube transformar sua enfermidade em louvor. E foi justamente na hora da sua páscoa, quando se despedia deste mundo, que ele ousou louvar a Deus pela nossa irmã morte corporal, reconhecendo que ela não é o fim, mas porta de entrada para o abraço eterno do Pai. Francisco, que chamou de irmãos e irmãs todas as criaturas, reconheceu até na morte uma irmã, porque em tudo via reflexo do amor de Deus. Assim, o cântico se torna uma herança espiritual que não apenas embala a memória de sua morte, mas ensina a nós, ainda hoje, a viver com gratidão, com esperança e com coragem diante dos limites humanos.

Nesta liturgia, escutamos a Palavra de Deus inspirada na carta de São Paulo aos Romanos, e nela somos convidados a deixar que Cristo habite em nós. O apóstolo nos recorda que “se Cristo está em vós, embora o corpo esteja ferido pela morte em razão do pecado, o espírito é vida por causa da justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus habita em vós, também dará vida a vossos corpos mortais” (Rm 8, 10-11). É justamente esta esperança pascal que sustentou São Francisco: a certeza de que a morte não é derrota, mas triunfo da vida em Deus.

Portanto, amados irmãos e irmãs, celebrar o Trânsito de São Francisco não é apenas recordar com emoção o seu último suspiro, mas é renovar em nós o compromisso de viver como ele viveu: com radicalidade evangélica, com simplicidade de espírito, com alegria diante da criação, com proximidade dos empobrecidos, dos doentes e dos excluídos. É aprender com Francisco a chamar a morte de irmã, porque antes dela chamamos todos de irmãos e irmãs.

Que esta noite seja, para nós, não apenas memória, mas compromisso. Que o exemplo de Francisco nos encoraje a viver no Espírito, na esperança e no amor, para que, quando chegar a nossa hora, possamos também cantar como ele: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal”. E assim, unidos a Cristo e ao seu servo fiel Francisco, possamos entrar no abraço eterno do Pai. Amém.


[1] Frei Ademilson Salvino. Fraternidade Duns Scotus. Celebração do Transitus de São Francisco. 03 de outubro de 2025.

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