“[…] formar cidadãos reflexivos, sensíveis às diferenças e injustiças, capazes de exercer suas profissões com ética e contribuir para o fortalecimento dos valores humanos na sociedade”.
José Geraldo Estevam
1. SER PROFESSOR NO BRASIL ATUAL
O ano letivo de 2025, no Brasil, teve início em fevereiro, como de costume, para mais de 47 milhões de estudantes da Educação Básica (Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio). Cerca de 2,4 milhões de professores/as estavam “a postos” para atender tantos estudantes. Porém, para além dos reencontros entre professores/as e desses com alunos/as, bem como dos tradicionais encontros pedagógicos do início do ano, um alerta estava ligado com notícias por toda Mídia Tradicional e Redes Sociais: o Brasil corre o risco de ter um ‘apagão’ de professores/as.
As muitas perguntas que, geralmente, são feitas no âmbito da Educação Nacional, especialmente no começo de anos letivos, sobre as condições estruturais e salariais de trabalho, as questões socioemocionais de alunos/as e professores/as, formação continuada, entre outras, desta feita vieram acompanhadas por uma onda de reportagens com outra inusitada pergunta: vai faltar professores/as? A resposta? Bem, pelas principais publicações, a situação ainda não é grave, mas pode se tornar, muito em breve. A princípio, o ápice da crise está previsto para 2040, se nada for feito até lá, conforme afirma César Callegari (Presidente do Conselho Nacional de Educação).
Segundo Callegari, caso o país deseje não comprometer seu desenvolvimento econômico e social, precisará seguir exemplos de países que se destacam no campo educacional, tomando algumas medidas, tais como: “formação em tempo integral; bolsas de permanência para estudantes, carreira nacional do magistério, porta de entrada para melhores profissionais e de saída para quem tem baixo desempenho e comprometimento, salários altos para competir no mercado de trabalho e efetiva valorização social da carreira”. Teoricamente, estas medidas podem de fato contribuir para se evitar este ‘apagão’. Contudo, na prática, a situação é muito mais delicada.
Isto, porque a falta de interesse dos jovens em fazer licenciatura e exercer a docência é cada vez maior. E, para piorar, muitos/as profissionais da Educação estão desistindo de suas carreiras. Um exemplo desta realidade é o Estado do Rio Grande do Sul, onde somente este ano, 1.174 professores/as pediram demissão voluntariamente de suas escolas e universidades, apenas na Rede Privada. Esse índice chega a 10 mil professores que desistiram da profissão, quando é compreendido os últimos 5 anos, ou seja, de 2020 a 2025.
Os principais motivos para estas desistências, que não se restringem ao Rio Grande do Sul, são o estresse, os salários baixos, o aumento das demandas e a falta de estrutura para atender às exigências cada vez maiores. Exigências, que incluem aspectos sociológicos e ideológicos, mas também pedagógicos e psicológicos.
2. SER PROFESSOR EM TEMPOS EXTREMOS
Há quase 25 anos como professor nas Redes Públicas (os 10 primeiros anos na Rede Estadual de Minas Gerais e nos últimos 15, na Rede Municipal de Betim), tenho acompanhado as mudanças nesse sentido e vivido na ‘pele’ todas estas demandas crescentes.
Nos campos sociológico e ideológico, as exigências envolvem um ‘jogo de cintura’ muito grande para lidar com situações extremas que podem ser de cunho político, religioso e até científico. Professores/as ameaçados/as e até agredidos/as fisicamente e denunciados/as por parte de famílias (às vezes para a Direção da Escola, outras nas Secretarias de Educação e Conselhos Tutelares, e, por vezes, diretamente ao Ministério Público), tornou-se algo muito comum.
O denuncismo passa por questões diversas, mas está ligado em geral aos extremismos políticos/ideológicos, instigados por lideranças, quase sempre de extrema direita. O movimento é organizado, com apoio, inclusive, de políticos eleitos (vereadores/as, deputados/as, por exemplo), com acusações de que professores/as estão doutrinando alunos/as para serem ‘comunistas’, etc.
Muitas dessas denúncias e tentativas de ingerência, até nos planos de aulas, partem de grupos fundamentalistas religiosos, especialmente, oriundos do Movimento Neopentecostal Cristão, sendo muitas das lideranças, também políticos eleitos. Muitos destes com ativismo antieducação, feito diretamente das Casas Parlamentares (Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas Estaduais e Congresso Nacional), além das muitas inserções nas Redes Sociais, geralmente com Fake News.
3. SER PROFESSOR EM TEMPOS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Não bastassem os desafios supracitados, a chamada Era Digital, com uso desenfreado das Redes Sociais e da tecnologia da Informação, tornou-se um ‘campo minado’. O paradoxo é inevitável. Crianças e adolescentes, nascidos nesse meio, dominam as ferramentas, melhor que a maioria dos/as professores/as, mas não possuem maturidade e condições emocionais para lidar com a avalanche de possibilidades das redes.
A lei 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas de Nível Básico de todo o Brasil, ainda está em fase de implementação, mas tem conseguido diminuir, pelo menos, no ambiente escolar, a dependência que estava sem controle. Os danos emocionais e acadêmicos eram perceptíveis, inclusive, entre crianças.
4. SER PROFESSOR DA PAZ E DO BEM
Pelo descrito acima e por outros tantos desafios de ser professor na atualidade, fica claro que os tempos extremos em que vivemos carecem de luzes para guiar nossas ações individuais e sociais. Nesse cenário, a Pedagogia Franciscana torna-se um convite mais que atual para uma ação conjunta em nome da Educação e da Profissão de professor, com vistas a um mundo mais humano e justo, capaz de transmitir Paz e Bem em meio a tantas desigualdades, guerras, extremismos e excessos, inclusive, de cunho ‘religioso’.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A propósito, vale enfatizar, para quem considere os princípios franciscanos demasiadamente utópicos, frente à realidade docente, descrita em partes nesse breve texto, que mesmo as corporações mais secularizadas e capitalistas têm buscado despertar em seus colaboradores habilidades que passam por esses princípios.
Na condição de professor/educador no Colégio Santo Antônio, não poderia deixar de citar a importância dessa busca constante em tentar, primeiramente, viver os princípios a mim ensinados/repassados por mestres/professores como: Dom Frei José Belisário, Frei Celso Márcio Teixeira, Frei Joaquim Fonseca, Frei Geraldo de Reuver, Frei Frederico, entre outros.
Em suma, concluo com um breve trecho que se encontra no site do Colégio Santo Antônio, sobre o objetivo utópico da instituição que é “[…] formar cidadãos reflexivos, sensíveis às diferenças e injustiças, capazes de exercer suas profissões com ética e contribuir para o fortalecimento dos valores humanos na sociedade”. Eis um caminho aberto para quem deseja ser professor na atualidade.






