Ao celebrarmos, como Igreja, os Fiéis Defuntos, Cristo nos convida a viver a esperança concretamente.
Frei Vitor Vinicios, OFM [1]
O Mestre Jesus, no Evangelho de Lucas (12,35-40), ensina e pede aos seus discípulos vigilância e prontidão. Entretanto, é preciso reconhecer o contexto em que essas palavras foram escritas, pois esse contexto dá pleno sentido às nossas vidas hoje. A comunidade destinatária estava marcada pelo cansaço, pela perseguição e pela desesperança, pois a primeira geração que conhecera Jesus já havia partido e a volta do Messias demorava. Com isso, entendemos a força vivificadora da Palavra de Deus.
Diante das nossas perdas e cansaços, Jesus nos convida a viver a esperança da vigilância e da prontidão. Essa esperança pode ser entendida na expressão “cingir os rins”, um gesto cotidiano da cultura do Oriente Próximo do primeiro século. Tendo como vestimenta túnicas até os pés, cingir os rins significava estar preparado para uma ação. O homem e a mulher cingidos estavam prontos para servir, trabalhar, lutar ou executar uma tarefa urgente. Assim, Jesus nos convida a viver a esperança mesmo diante das dores e perdas neste mundo.
Ao celebrarmos, como Igreja, os Fiéis Defuntos, Cristo nos convida a viver a esperança concretamente. Essa esperança é viver a memória amorosa de quem já partiu deste mundo. Recordar os nossos entes amados não é ficar preso ao passado, mas celebrar a vida que permanece viva em nós. Por isso, ao olharmos fotos, roupas e fazermos memória até mesmo das manias de quem já partiu, mantemos o amor vivo em nós, assim como o nosso próprio Deus é memória viva no meio dos seus.
Nossa fé não nega a dor do luto e da perda, mas dá-lhes um novo sentido. Aquele que acredita não olha para o vazio, mas vive de uma maneira diferente, quando a saudade se torna amor concreto. São aqueles que vivem a ressurreição como força viva e atuante no agora, são aqueles que transformam a saudade em gesto concreto quando se reúnem com amigos, visitam os que mais precisam e ajudam os famintos. No fim, somos chamados a viver a esperança cristã do amor que nunca desiste e continua acreditando. É chorar sem perder a esperança e lembrar com amor.
[1] Graduado em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino, graduado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e Especialista em Ensino Religioso e Gestão Integradora pelo Instituto Pedagógico de Minas Gerais, IPEMIG.






