Virgem da Segunda Ordem (1198-1253). Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu ofício e Missa em sua honra.
Inês era irmã de Clara, mais nova do que ela, nascida em Assis em 1198. Em princípios de abril de 1212 foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis. Os parentes, exasperados com semelhantes gestos, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar os seus intentos, sem excluírem mesmo a violência física: Inês chegou a ser brutalmente ferida pelo seu tio Monaldo, que teve o atrevimento de violar a clausura e a tranquilidade do mosteiro. Porém, nem mesmo a força bruta conseguiu fazer vergar a jovem. Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque, pela fortaleza de que dera provas, esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.
Em 1212 São Francisco trouxe as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso se representa por vezes Santa Inês com o menino Jesus nos braços. Em Assis Inês assistiu à morte da irmã Clara no dia 12 de agosto de 1253.
No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e absoluta pobreza. São conhecidos nomes de senhoras e jovens de Assis que em São Damião tiveram o seu primeiro ninho: Hortolana, Inês, Beatriz, Pacífica, Benvinda, Cristiana, Amada, Iluminada, Consolada … Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana era a sua mãe, e Inês e Beatriz eram suas irmãs.
Inês foi a primeira a seguir o exemplo da irmã Clara, quinze dias depois dela; pouco depois veio a outra irmã, Beatriz, e por fim a mãe Hortolona. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois da irmã Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.
Para pensar:
A história de Clara e Inês, marcada por rupturas familiares, coragem juvenil e uma fidelidade radical à pobreza, ressoa hoje como um convite a repensar nossos próprios vínculos com o poder, com o consumo e com os projetos que nos constituem. Diante da fuga de Clara e Inês do núcleo familiar para abraçar uma vida de radical pobreza e liberdade espiritual, somos confrontados com um paradoxo fundante da sociedade: a instituição que deveria ser porto seguro – a família – transforma-se, aqui, em cena de opressão e violência, exigindo das jovens uma ruptura quase revolucionária para preservarem sua autonomia.
A decisão das duas irmãs de romper com um destino social pré-escrito — enfrentando violência, expectativas de classe e a ordem patriarcal — revela um gesto filosófico de liberdade: escolher a si mesmas em confronto com o que parecia inquestionável. No plano sociológico, sua opção por uma vida comunitária, igualitária e despojada questiona a lógica de acumulação e distinção social que ainda estrutura nossas relações cotidianas. A coragem feroz de Inês, rebatizada justamente por sua fortaleza, não nos fala apenas de fé, mas da violência estrutural necessária para se desprender dos grilhões do mundo e forjar uma nova irmandade, uma nova família eleita.
Diante do testemunho dessas mulheres que fizeram da renúncia uma forma de potência, surge uma interrogação que não busca respostas prontas, mas deslocamentos interiores:
O que, nas nossas próprias relações e pertencimentos, ainda precisa ser desapegado ou reconfigurado para que possamos viver com a mesma liberdade que inspirou Santa Clara e Inês?
Em sua própria vida, que estruturas de afeto e controle você é convidado a desafiar para ser fiel à sua voz mais íntima, assim como o gesto de Santa Clara e Santa Inês desafiou o modelo social de seu tempo?
[1] Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
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