Que a festa da encarnação do Verbo de Deus seja para nós uma renovação da Esperança em dias melhores.
Frei Jhonatan de Jesus Luiz, ofm[1]
Irmãos e irmãs, a kenosis do verbo de Deus, Jesus Cristo, dá um novo sentido a história humana. Isso porque o tempo foi agora fecundado pela eternidade e os seres humanos ganham, por essa ação de Deus, uma significação decisiva: nos fatos se constrói a salvação ou a perdição da vida. Acreditar num Deus que assume a condição humana é acreditar que toda pessoa tem uma dignidade e um valor fundamental, pelo simples fato de viver, isso porque a vida é sagrada.
Depois que Deus assume nossa condição humana e mortal, tudo tem a ver com Ele: as criaturas, a natureza, as diferentes culturas, as raças, e todas as coisas mais comuns que constituem a vida humana. “Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada se fez de tudo o que foi feito” (Jo 1,3). A encarnação do verbo de Deus nos oferece um caminho de volta, ou melhor um reencontro com o divino por meio de cada pessoa e do mundo em que vivemos. Isso porque podemos descobrir nas singelezas do mundo a presença do Deus que assumiu nossas feições e torna-se um de nós. “Entre nós armou sua tenda e nós vimos sua glória” (Jo 1,14).
Francisco de Assis, em sua intuição, recriou o presépio em Greccio, nosso pai seráfico quis ver, mesmo que em representação, o belíssimo gesto da encarnação. Isso porque desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus. Ao recriar o presépio Francisco inaugura um modo de compor com figuras e materiais comuns e ordinários a encarnação do verbo de Deus. Essa composição tornou-se um ato de fé, por meio do qual vislumbramos a presença do Deus encarnado em tudo aquilo que constitui a vida. No entanto, para descobrir no presépio a revelação divina no cotidiano humano, há uma condição: e essa se baseia na transformação do modo como o coração e o olhar interpretam o mundo.
Na perspectiva de Francisco de Assis, o mundo torna-se o presépio, ou melhor, o mundo torna-se a manjedoura onde Deus repousa, e essa requer de nós um olhar mais humanizado e fraterno sobre toda a criação. O sentido de compor e imaginar a cena do nascimento de Jesus Cristo nas mais diferentes situações e culturas leva-nos a enxergar o menino Deus no indígena, no negro, no pobre, no homem comum, na cidade, na favela, no campo, no martirizado. Isso porque todo ser humano tornou-se sacramento do Filho, e todo lugar e cultura tornaram-se sacramento da manjedoura de Belém. Universal não é o presépio, e sim o mistério da vida que só tem uma morada: o coração humano.
Natal e presépio, Belém, Greccio, Minas Gerais ou qualquer outro lugar e família que ao redor de seu presépio se reúne na noite de Natal revela-nos uma condição simples e nova: a de que quando Deus assumiu nossa carne e as limitações da vida humana, elimina toda distância e supera toda separação. Assim sendo, cada pessoa pode escolher como se relacionar com essa mudança pessoal proposta pelo presépio e por Francisco de Assis. Podemos não viver na dinâmica do divino amor e de algum modo, experimentar o paradoxo de uma vida fechado em si mesmo. Mas devemos recordar que o Natal é proveniente de uma linguagem divina, e que se assim o compreendemos conseguiremos ver que o Presépio é pedagogia humana para que, na abertura ao mundo, se possa descobrir o que é essencial. Somente nessa descoberta seremos capazes de sentir, mesmo na precariedade da vida que, “Deus armou sua tenda entre nós, e vimos sua glória” (Jo 1,14.16).
Que a festa da encarnação do Verbo de Deus seja para nós uma renovação da Esperança em dias melhores. E que ao nos reunirmos em família, ao redor de nossos presépios, possamos sentir o amor do Deus que se encarnar e nos ensina que com amor a nos aproximamos Dele e uns dos outros. Uma feliz e Santa noite a todos e que o menino Deus possa nascer em nossas vidas e nos transformar em homens e mulheres renovados em seu amor.
Paz e bem!
[1] Animador vocacional





