Marilis Marchezini Pinto – Graduanda em Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, julho de 2022 Desde o princípio, a humanidade utiliza o dom de cada homem e de cada mulher para o sucesso; seja no âmbito profissional, social e/ou espiritual. Este último, como nosso assunto principal, é o que torna as pessoas
Marilis Marchezini Pinto – Graduanda em Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, julho de 2022
Desde o princípio, a humanidade utiliza o dom de cada homem e de cada mulher para o sucesso; seja no âmbito profissional, social e/ou espiritual. Este último, como nosso assunto principal, é o que torna as pessoas capazes de formar um sujeito participativo na vida do outro; esta alteridade que impele o ser humano a se tornar uma pessoa melhor e mais sociável. É neste sentido que a família é primordial para o sucesso desta jornada.
O papa Francisco, na exortação Apostólica Amoris Lætitia (AL), tão bela e simplesmente define o que é a vocação familiar, apresentando como exemplo a Sagrada Família de Nazaré: não por seu formato, mas por sua construção e vivência: “[…] aliança de amor e fidelidade, da qual vive a Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá forma a cada família, tornando-a capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história. Sobre este fundamento, cada família, não obstante a sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo” (AL 66). Eis, pois, a vocação familiar: uma construção com base nos ensinamentos de Jesus Cristo, que antes aprendeu com seus pais como agir e ser no mundo.
Viver a vocação familiar não é tão simples e fácil quando não há o “sim” sincero e verdadeiro; assim como Maria de Nazaré quando recebeu a visita do anjo Gabriel (cf. Lc 1, 38). Primeiro, intrigada, ela questiona e, em seguida, abraça a palavra de Deus. Vivendo a vocação à qual foi chamada, Maria, ao lado de José, que também sofre antes da assertiva decisão em desposá-la, cria Jesus, que cresce em “sabedoria, estatura e graça” (cf. Lc 2, 52), mesmo com todas as dificuldades que tiveram que enfrentar.
Esse “sim” é crucial para a vivência da vocação familiar: sempre em busca da perfeição. Essa comparação pode nos parecer um tanto clichê para os dias atuais, porém não se engane quem pense não fazer sentido; ao contrário, essa comparação nos revela por que inúmeras famílias se formam e continuam sendo constituídas ao longo de toda a história. Viver em família é aprender a ser mais humano, mais amável e mais compreensível; é estar em meio à pluralidade e à diversidade de pessoas, permanecendo firme e decidido de suas convicções, sem perder o amor ao próximo, que é o elemento fundador em sua formação como sujeito social.
Uma pergunta que talvez alguns leitores devam estar fazendo agora: e quanto aos vários formatos de família atuais? Elas também têm vocação? A resposta é sim. A constituição de famílias de pais ou mães solteiros; famílias constituídas somente por pais ou somente por mães; famílias consanguíneas; se há amor inspirado pelo Espírito Santo, como o amor de Deus revelado ao mundo através de seu Filho Jesus Cristo, essas famílias vivem plenamente a vocação familiar, pois seus filhos e filhas crescerão em ambiente verdadeiro e regado de carinho e experiência fraterna, serão preparados(as) para viverem uns com os outros com fé e caridade. Este é o caminho relacional da Santíssima Trindade: todos se relacionando como um só corpo, constituído por vários membros.
Viver a vocação familiar é ter plena consciência de que nada é perfeito; somos limitados, não detemos de todo conhecimento. Haverá dias de conflito, em que nada fará sentido, e aquela luz que tanto desejamos vislumbrar no final do túnel nos pareça impossível; mas um novo dia nascerá e, com o raiar do sol, tudo se iluminará e fará sentido. Mais uma vez, o papa Francisco tem uma palavra de conforto e esperança: “[…] a família consegue concentrar-se em Cristo, Ele unifica e ilumina toda a vida familiar. Os sofrimentos e os problemas são vividos em comunhão com a Cruz do Senhor e, abraçados a Ele, pode-se suportar os piores momentos” (AL 317). Superar todos os desafios e obstáculos juntos, em família, e perseverantes no Senhor, faz com que tudo se torne mais leve, com soluções plausíveis para as intempéries da vida.
Portanto, a família é chamada a ser amparo para todos os seus membros, cuidando e protegendo como se fossem um hospital (cf. AL 321), lugar onde se restaura a saúde física e espiritual, onde se recupera forças para enfrentar os obstáculos da vida. Ter a vocação familiar é ser luz para o mundo, é ser base para todas as outras vocações; sejam elas sacerdotal, religiosa consagrada ou leiga: “Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos à procura da plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL 325). Através da vocação familiar, o compromisso batismal que recebemos se consolida e se torna real.
Referência:
FRANCISCO. Amoris Lætitia: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre o amor na família. 2016. AL 66, 317, 325.
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