Como os apóstolos, os leigos são testemunhas e servos do projeto de Deus na história.
Marilis Marchezini Pinto – Graduanda em Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA, julho de 2022
A Igreja em relação à Cristo confere-lhe uma atitude esponsal, ou seja, deve-se ser fiel, companheira e amorosa. Este relacionamento deve sempre ser uma busca pela perfeição. Os leigos, enquanto membros do corpo de Cristo, cabeça da Igreja, tenham a missão de evangelizar. Portanto, a vocação dos leigos é relevante na progressão e no caminhar de toda comunidade de fé. Porém, antes de falar em que se consiste a vocação dos leigos, precisamos compreender o que se entende por “leigo” na Igreja Católica Apostólica Romana. A Lumen Gentium (LG, luz dos povos), De Ecclesia, Constituição Dogmática sobre a Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II, entende “leigos” como: “o conjunto dos fiéis, […] por haverem sido incorporados em Cristo pelo batismo e constituídos em povo de Deus, e por participarem a seu modo do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo – realizam na Igreja e no mundo, na parte que lhes compete, a missão de todo o povo cristão” (LG 31). Desta forma, leigos são todos(as) que, ao receberem o sacramento do Batismo, são instituídos como evangelizadores e propagadores da Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo Filho de Deus, e que, portanto, agem sob a ação do Espírito Santo.
Vivendo a sua vocação extramuros dos conventos e seminários, os leigos são convidados a buscar o Reino de Deus vivendo segundo à sua vontade, sendo fermento para a santificação do mundo (cf. LG 31). A vocação dos leigos, podemos compreender como uma cola que mantém unidas as partes do corpo místico de Cristo, como nos exorta o Apóstolo Paulo em sua Carta aos Romanos. Em consonância com sua vida social, os leigos evangelizam e a semente por eles lançada, produz frutos (cf. Mc 4, 8), sempre em conformidade com a Igreja que lhes orienta. No seu cotidiano, o leigo é missionário da ação salvífica da Igreja. No ato do sacramento do Batismo, em especial na Sagrada Eucaristia, o leigo poderá alimentar e nutrir a fé de todo o povo de Deus (cf. LG 33).
Como os apóstolos, os leigos são testemunhas e servos do projeto de Deus na história. Por sua vocação, o leigo partilha suas experiências de fé com seus familiares, pessoas de seu convívio profissional e social, fortalecendo o Evangelho. Não precisam de atos de extrema grandeza; são gestos simples que permitirão àqueles à sua volta vislumbrar o rosto de Cristo. Quando o leigo assume posição de servo em alguma pastoral e/ou movimento dentro da comunidade de fé, enquanto catequista, ministro da sagrada comunhão ou ministro da palavra, agindo com diligência; sua missão abrangerá mais crentes, alcançando até os mais afastados. Além disso, “congreguem os leigos os seus esforços para sanar as estruturas e as condições do mundo, se acaso elas incitam ao pecado, de modo que tudo se conforme às normas da justiça e, longe de impedir, favoreça a prática das virtudes” (LG 36), ou seja, que todos, independentemente se consagrado, sacerdote ou leigo, desde que batizado, seja luz e sal da terra para o mundo (cf. Mt 5), criando assim a possibilidade de mudanças e esperança para um mundo melhor e mais fraterno.
A tarefa de ser missionário leigo é árdua, pois vivemos em constantes conflitos externos e internos. Estamos sempre sujeitos a nos entregarmos à renúncia quando somos acuados ou confrontados. Porém, é uma tarefa infinitamente prazerosa e carregada da graça e do amor de Deus. O evangelista Mateus, ao relatar o Sermão da Montanha, declara que “felizes sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem […] regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus […]” (Mt 5, 11-12). Viver a vocação de leigos é ter nas palavras certas a força para mudar o mundo.