Em nosso quarto dia, vamos relembrar a carta do Papa Francisco às Clarissas, em seu primeiro ano de pontificado, no dia de São Francisco daquele ano.
Eu pensava que este encontro fosse como aqueles que fizemos por duas vezes em Castel Gandolfo, na sala capitular, sozinho com as religiosas, mas — confesso — não tenho a coragem de mandar embora os Cardeais. Realizemo-lo assim.
Bem. Agradeço-vos profundamente o acolhimento e a oração pela Igreja. Quando uma religiosa de clausura consagra a sua vida ao Senhor, verifica-se uma transformação que nunca se entende totalmente. A normalidade do nosso pensamento diria que esta religiosa se torna isolada, vivendo a sós com o Absoluto, sozinha com Deus; trata-se de uma vida ascética, penitente. Mas este não é o caminho de uma religiosa de clausura católica, e nem sequer cristã. A vereda passa por Jesus Cristo, sempre! Jesus Cristo está no centro da vossa existência, da vossa penitência, da vossa vida comunitária, da vossa prece e também da universalidade da oração. E ao longo deste caminho acontece o contrário daquilo que se pensa, que esta será uma religiosa de clausura ascética. Quando ela caminha pela senda da contemplação de Jesus Cristo, da oração e da penitência com Jesus Cristo, torna-se profundamente humana. As religiosas de clausura são chamadas a ter uma grande humanidade, uma humanidade como aquela da Mãe-Igreja; humanas, para compreender todas as realidades da vida, para ser pessoas que sabem entender os problemas humanos, que sabem perdoar, que sabem rezar ao Senhor pelas pessoas. Eis a vossa humanidade! E a vossa humanidade percorre este caminho, a Encarnação do Verbo, a vereda de Jesus Cristo. E qual é o sinal de uma religiosa tão humana? A alegria, o júbilo, quando há alegria! Sinto-me triste quando encontro religiosas que não são alegres. Talvez sorriam, mas com o sorriso de uma assistente de bordo, mas não com o sorriso da alegria, daquela que nasce de dentro. Sempre com Jesus Cristo! Hoje na Missa, falando do Crucifixo, eu dizia que Francisco o tinha contemplado com os olhos abertos, com as feridas vivas, com o sangue que fluía. E esta é a vossa contemplação: a realidade. A realidade de Jesus Cristo. Não ideias abstratas, porque elas tornam a cabeça árida. A contemplação das chagas de Jesus Cristo! E levou-as para o Céu, sim, levou-as! Este é o caminho da humanidade de Jesus Cristo: sempre com Jesus, Deus-homem. E por isso é muito bonito quando as pessoas vão ao locutório dos mosteiros, pedem orações e falam dos seus problemas pessoais. Talvez a religiosa nada diga de extraordinário, mas uma palavra que lhe brota precisamente da contemplação de Jesus Cristo, porque a religiosa — como a Igreja — percorre o caminho que a leva a tornar-se perita em humanidade. E este é o vosso caminho: não demasiado espiritual! Quando as religiosas são demasiado espirituais… Penso na fundadora dos mosteiros da vossa concorrência, por exemplo Santa Teresa. Quando uma irmã ia ter com ela, oh, com coisas (demasiado espirituais), dizia à cozinheira: «Dá-lhe um bife!».
Sempre com Jesus Cristo, sempre. A humanidade de Jesus Cristo! Porque o Verbo veio na carne, Deus fez-se carne por nós, e isto dar-nos-á uma santidade humana, grandiosa, bonita e madura, uma santidade de mãe. E a Igreja quer que vós sejais assim: mães, mães, mães! Deveis dar vida. Quando vós orais, por exemplo, pelos sacerdotes, pelos seminaristas, mantendes com eles uma relação de maternidade; mediante a oração vós contribuís para fazer deles bons Pastores do Povo de Deus. Mas recordai-vos do bife de Santa Teresa! É importante. E este é o primeiro ponto: sempre com Jesus Cristo, com as chagas de Jesus Cristo, as chagas do Senhor, porque é uma realidade que Ele as tinha e as levou consigo depois da Ressurreição.
E o segundo ponto que eu vos queria dizer, brevemente, é a vida de comunidade. Perdoai, suportai-vos umas às outras, porque a vida de comunidade não é fácil. O diabo aproveita-se de tudo para dividir! E diz: «Eu não quero falar mal, mas…», e assim começa a divisão. Não, isto não é bom, porque não leva a nada: leva à divisão. Cuidai da amizade entre vós, da vida de família, do amor recíproco. E que o mosteiro não seja um Purgatório, mas uma família. Os problemas existem e existirão, mas como se faz numa família, com amor, procurai uma solução com caridade; não destruais esta para resolver aquela; que não haja competição. Cuidai da vida de comunidade, pois quando na vida de comunidade é assim, em família, é precisamente o Espírito Santo que se encontra no seio da comunidade. São estas duas coisas que eu vos queria dizer: sempre a contemplação, sempre com Jesus; Jesus: Deus e Homem. E a vida de comunidade, sempre com um coração grande. Deixai passar, não vos vanglorieis, suportai tudo e sorri com o coração. E o sinal disto é a alegria. E Peço para vós esta alegria que nasce precisamente da verdadeira contemplação e de uma bonita vida comunitária. Obrigado, obrigado pelo acolhimento! Peço-vos que rezeis por mim, por favor, não o esqueçais! Antes da Bênção, oremos a Nossa Senhora: Ave Maria…