Do ponto de vista literário, a primeira letra das sete Antífonas em latim, lidas de trás para frente, formam o acróstico ERRO CRAS, cuja tradução “Estarei amanhã”, constitui a resposta do Salvador esperado às insistentes súplicas de seu povo por sua vinda.
Frei Kelisson Geraldo Machado, OFM
A palavra antífona tem origem no grego anti-foné e significa “canto contrário, algo que se responde”. Na liturgia cristã católica, as antífonas estão presentes nas diversas Horas do Ofício Divino e na Celebração Eucarística. Tratam-se breves frases, quase sempre retiradas do próprio salmo, a serem rezadas ou cantadas, antes e depois dos salmos e cânticos na celebração da Liturgia das Horas. Essas breves frases destacam a ideia mais oportuna do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Em outras palavras, as antífonas são os versículos emolduradores do salmo a ser recitado ou cantado em dois coros.
Tesouro litúrgico e espiritual do tempo do Advento, as “Antífonas do Ó”, também conhecidas como “Antífonas Maiores”, tratam-se do nome dado às sete antífonas ao Magnificat, nos dias que precedem a solenidade do Natal de Jesus, as quais invocam o Messias esperado, começando com a interjeição “Ó” sucedida por títulos messiânicos do Antigo Testamento, seguindo-se uma prece que suplica a vinda do Salvador. As Antífonas do Ó emolduram o Cântico de Maria nos dias 17 a 23 de dezembro proporcionando profunda reflexão cristológica em preparação para o Natal de Jesus.
Como a celebração da Liturgia das Horas está basicamente restrita às mãos do clero e da vida religiosa consagrada, o texto dessas antífonas, de forma simplificada, está presente no versículo do “Aleluia” nas celebrações eucarísticas desses mesmos dias (17 a 23/12), de modo que todo o povo de Deus tenha acesso a essa riqueza espiritual própria da segunda fase do tempo do Advento.
As Antífonas do Ó são consideradas de origem gálica, região que compreende o norte da Espanha, o sul da França e também a região de Milão. Acredita-se que na segunda metade do século VI já eram cantadas em Roma.
Do ponto de vista do conteúdo, segue-se uma breve e limitada síntese de cada uma das “Antífonas Maiores”. Por questão de espaço, limitou-se a apresentar apenas uma referência bíblica do Antigo Testamento para cada antífona, ciente de que há diversas outras, inclusive do Novo Testamento.
Dia 17/12 – Ó Sabedoria (Pr 9,1-6). Esta antífona sublinha a divindade de Cristo. Refere-se à pré-existência da Sabedoria divina, Cristo e sua atuação na criação. Força criadora que tudo abarca. Suavidade que conserva e orienta a ordem das coisas. Atributo de Deus no Antigo Testamento, a Sabedoria, para nós cristãos, é a Divina Sabedoria, o Verbo, a Palavra de Deus que se fez carne em Jesus de Nazaré que vem nos ensinar o caminho da prudência.
Dia 18/12 – Ó Adonai (Ex 3, 14 )Também esta antífona sublinha a divindade de Cristo. Remete ao evento do êxodo. Deus vê o sofrimento de seu povo, ouve seu clamor e desce para libertá-lo. A encarnação do verbo é a suprema descida de Deus, o Adonai que vem remir, com poder, seu povo peregrino da esperança.
Dia 19/12- Ó raiz de Jessé (Is 11,10). Esta antífona sublinha a humanidade de Jesus e seu mistério pascal. Refere-se à linhagem davídica do Salvador. O troco seco e as velhas raízes remetem a Jessé, antepassado do Rei Davi. Ramo e broto referem-se ao Messias cuja vinda é pedida. Mas, a Raiz de Jessé é o próprio Messias que se erguerá como sinal para reunir os povos.
Dia 20/12 – Ó Chave de Davi (Is 22,22). Também esta antífona constitui uma referência davídica. O Messias é a própria Chave de Davi que, com poder, liberta definitivamente seu povo de todos os cárceres do pecado.
Dia 21/12 – Ó Sol nascente (Zc 6,12). Esta antífona refere-se ao tempo dos profetas. O Cristo que há de vir é o Sol, é a luz que iluminará todos os que estão sentados nas trevas e na sombra da morte.
Dia 22/12 – Ó Rei das nações (Jr10,7). Esta antífona também refere-se ao tempo dos profetas. Está no contexto da crítica profética à idolatria em comparação como culto ao Deus vivo. Entre os mais sábios nos reinos do mundo ninguém se iguala ao Messias esperado.
Dia 23/12 – Ó Emanuel ( Is 7,14; Is 8,8.10). Esta antífona é a única referência explícita ao Natal, constitui o ponto culminante, com a invocação de Cristo, “Deus-conosco”, como “Senhor nosso Deus”. Cristo é rei e legislador que, enfim, vem salvar seu povo.
Por fim, do ponto de vista literário, a primeira letra das sete Antífonas em latim, lidas de trás para frente, formam o acróstico ERRO CRAS, cuja tradução “Estarei amanhã”, constitui a resposta do Salvador esperado às insistentes súplicas de seu povo por sua vinda.






