Fruto dos dias de partilha, memória e profecia, o manifesto expressa a esperança de quem acredita que outra economia já está acontecendo
Fruto dos dias de partilha, memória e profecia, o manifesto expressa a esperança de quem acredita que outra economia já está acontecendo, enraizada nos territórios e sustentada pela indignação diante das injustiças e pela esperança de novas possibilidades.
A Carta reafirma o chamado do Papa Francisco a mudar estruturas e convida todas as pessoas a somarem forças por uma economia com alma, que respeite a vida, a terra e os povos.
Seguimos como rio coletivo, tecendo laços, repartindo os bens comuns e organizando a esperança
Carta de Recife
“Estamos fazendo o suficiente para mudar essa economia ou nos contentamos em envernizar uma parede, mudando de cor, sem mudar a estrutura da casa? Não se trata de dar algumas pinceladas de verniz, não: é preciso mudar a estrutura”.
(Papa Francisco)
Nós, poetas e poetisas da esperança, vindos de todos os cantos do Brasil e reunidos na Universidade Católica de Pernambuco, na cidade do Recife, para o 3º Encontro Nacional da Economia de Francisco e Clara, motivados pela convocação “A economia pode ser justa para todas as vidas, já!”, queremos expressar a todas as mulheres e homens de boa vontade nosso encorajamento e compromisso renovados para — resistindo a esta economia que mata — seguir lançando sementes de novas economias.
No décimo aniversário da Carta Encíclica Laudato Si’, e na celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas, reconhecemos, com tristeza, que a crise climática e da biodiversidade, consequência direta de um modelo de desenvolvimento extrativista e predatório, compromete cada vez mais o futuro de todas as vidas.
Em um tempo em que o mundo convive com genocídios como o de Gaza e de tantos lugares do mundo, com a concentração obscena de riquezas nas mãos de bilionários e milionários, o aumento do número de pessoas que sofrem com a escassez de água, o enfraquecimento das instituições democráticas diante dos mercados da ganância e do poder, e a naturalização da miséria, mantemos viva a chama do convite feito pelo Papa Francisco em 1º de maio de 2019: construir pactos comunitários, regionais, nacionais e continentais.
Queremos continuar a resgatar a centralidade da transformação do sistema econômico e, em diálogo latino-americano, tecer pontes para uma ampla rede de encontros, diálogos e convergências. Que em cada comunidade se costurem laços e se desenvolvam processos de conscientização. No contexto do Jubileu da Esperança, reafirmamos nosso compromisso com o descanso da terra e o fim das dívidas econômicas, sociais e ecológicas.
Diante de tantas violências financeiras e de ataques à soberania nacional, construir uma economia “com alma” passa por somar esforços na luta pelo fim da escala 6×1, por justiça tributária em favor dos mais pobres, pela universalização dos sagrados direitos à terra, ao teto e ao trabalho, pela retomada de um orçamento público verdadeiramente participativo e popular e por uma transição justa de modelo econômico a partir dos territórios.
As Casas de Francisco e Clara têm sido faróis de esperança em muitos territórios, espaços fecundos de educadores e educadoras de novas expressões econômicas, pautadas em valores comunitários, solidários, nos saberes ancestrais e em uma espiritualidade ecológica. É nossa tarefa promover sempre mais experiências de cooperativismo, associativismo produtivo, autogestão e finanças solidárias, como alternativas concretas para a superação comunitária do capitalismo.
Reivindicamos, assim, um modelo econômico regional e territorial que respeite as especificidades de cada lugar, valorize a diversidade cultural e promova a autonomia das comunidades locais, trazendo viva a bandeira de uma reterritorialização da economia!
Como disse o saudoso Papa Francisco: “Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas”. Por isso convocamos todas as pessoas que desejam ser articuladoras (es) da Economia de Francisco e Clara a assumirem as duas ideias-força deste processo: indignação e esperança. A primeira nos impede de nos acomodarmos diante do modelo em que vivemos e nos impulsiona a retomar sonhos e projetos comunitários; a segunda nos move a semear continuamente comunidades em que cooperação e solidariedade sejam sinais de que outra economia-política não apenas é possível, mas já existe — e pode se expandir por todos os cantos do mundo.
Com o coração alimentado pelas resistências e utopias partilhadas nas rodas, oficinas, místicas, caminhadas e cantorias, assumimos o compromisso da proximidade e de um esforço de articulação conjunta. Seguimos como um rio coletivo que anuncia e reparte os bens comuns da vida. Convidamos você a seguir conosco, pois o caminho se faz ao caminhar.
Paz, bem e soberania!
Recife, chão sagrado da profecia de Dom Helder Câmara,
14 de setembro de 2025
Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara

