Nessa liturgia recomeçamos nossas vidas assim como os discípulos que tiveram que recomeçar a caminhada, é um tempo novo impulsionado pelo Ressuscitado.
Frei Vitor Vinicios, ofm
Nessa liturgia as leituras nos ofertam um grande panorama da história da salvação, desde a criação até o anúncio da nova aliança. Essa nova aliança é selada pela morte e ressureição de Jesus. Ao resgatar a história, podemos perceber o amor incondicional de Deus pelo povo. No percurso, é visto por diversas vezes o povo abandonando e desacreditando de Deus em várias etapas, com dúvidas e incertezas. Na libertação da escravidão, há o desejo de retornar; no exílio da Babilônia nutre-se a memória do esposo (Senhor). Em síntese, Deus esgota todas as possibilidades para salvar o seu povo e anuncia a libertação definitiva em Cristo que é a passagem dos cristãos da morte à vida.
No evangelho da noite de hoje, ápice de todas as demais leituras, somos alimentados pelo evangelista Mateus que nos incita os ouvidos para sermos testemunhas do Ressuscitado. As protagonistas da narrativa estão logo no começo, Maria Madalena e a outra Maria que vão, não com a certeza de que Ele ressuscitou, mas pela fidelidade e mesmo sem entender o que aconteceu naquele momento. Elas desejavam manifestar os últimos ritos que o Cristo, como judeu, merecia, um gesto de amor. Logo à frente, escutam: “Ide depressa dizer aos seus discípulos: Ele ressuscitou dos mortos”, é com esse indicativo que somos convocados a anunciar com nossas vidas a Boa Notícia por onde quer que estejamos. Entretanto, sabemos que os medos nos paralisam, situações de morte nos enrijecem e arranca-nos a capacidade de dar a Boa Nova. Em suma, é real que enfrentamos situações de violência, depressão, doenças, desânimos e outros diversos sinais de perca de luz, mas é preciso ter fé e, a maneira do nosso Deus, esgotar todas as possibilidades.
Ao olhar para o evangelho, percebemos que o medo é substituído pela alegria do anunciar. Quando dizemos de anúncio, não falamos de algo distante de nossas vidas, mas pelo contrário, toca nossa existência. É algo tão próprio que acontece nos detalhes, anunciamos vida (o Ressuscitado) quando estendemos a mão àquele que está do nosso lado, quando partilhamos o pão de cada dia, ao olhar para os invisibilizados e ao chorar com aqueles que se encontram no vale das lágrimas. Não tenhamos medo das situações que enfrentamos e iremos enfrentar, mesmo nas nossas incertezas e sem entender os motivos dos desafios da nossa vida, vamos por fidelidade e amor. Além disso, Deus trindade está conosco e nos diz “não tenham medo”, pois Eu ressuscitei e, por vezes, ele se manifesta (teofania) em nosso caminho e precisamos estar com os olhos abertos para perceber os sinais. É preciso se assemelhar as mulheres, primeiras testemunhas da ressureição, irmos correndo para dar a notícias com a consciência de que é com temor e alegria, mesmo nas incertezas. Ademais, recebemos um mandato de anunciar e ao ouvir do mestre que direcionemos a Galileia, lugar onde tudo começou, nos indica que é preciso recomeçar, ressureição é também recomeço. Em síntese, nessa liturgia recomeçamos nossas vidas assim como os discípulos que tiveram que recomeçar a caminhada, é um tempo novo impulsionado pelo Ressuscitado que nos incita a enfrentar os desafios e anunciar/testemunhar a Boa Nova, é preciso dar um novo sentido a nossa vida e as situações que enfrentamos. Anunciai!