Mesmo após décadas de mobilização, o racismo continua a estruturar desigualdades em diversos países.
Marcos Vinícius Furtado de Araújo Marques[1]
“Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história”[2]
O dia internacional do combate à Discriminação racial, celebrado no dia 21 de março, rememora o massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960 na África do Sul, quando a polícia do apartheid abriu fogo contra manifestantes negros que protestavam contra as chamadas ‘’ leis do passe’’, deixando 69 mortos e centenas de feridos. Em 1966 a ONU instituiu esta data como um marco da luta global contra o racismo estrutural e pela igualdade racial.

O racismo é um fenômeno histórico e estrutural que deixam marcas fortes nos indivíduos, sujeitando-os a uma inferioridade a partir de um fenótipo, neste caso, a questão preponderante é a cor da pele, ou seja, as pessoas que tem a pele negra são inferiorizadas devido somente por este fator. Deste modo, os que sofrem racismo, devido a cor de sua pele, trazem consigo a marca de um sistema que produz o racismo e o alimenta, deixando chagas abertas na sociedade.
Abdias do Nascimento, um dos maiores intelectuais do Movimento Negro Brasileiro, cunhou o conceito de “ genocídio do negro brasileiro”, denunciando a violência racial, o apagamento da história negra e marginalização sistemática da população afrodescendente no Brasil. Para ele, o racismo no Brasil opera de maneira velada, disfarçado pelo mito da democracia racial, mas continua a produzir desigualdade e exclusão.
Mesmo após décadas de mobilização, o racismo continua a estruturar desigualdades em diversos países. No Brasil, a violência policial contra pessoas negras, a sub-representação em espaços de poder e a desigualdade de acesso a direitos básicos como educação e saúde, demostram que o racismo não é um problema do passado, mas uma realidade cotidiana.
Ações afirmativas desenvolvidas pela Rede Educafro Minas, que promove o pré-vestibular para pessoas negras, o café preto, que visa a promoção de empreendedores negros/as, e as paneleiras de goiabeiras no Estado do Espírito Santo, que fomentam a produção de panelas de barro para ajudar na renda familiar de mulheres negras, são formas concretas de contribuir para o fim do racismo e suas sequelas deixadas na sociedade brasileira.


O dia que celebramos hoje deve, portanto, ser um momento de reflexão e ação coletiva. A luta antirracista exige não apenas a condenação do preconceito, mas a transformação das estruturas sociais que perpetuam a desigualdade racial. Como disse Angela Davis “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. O combate à discriminação racial não pode ser um compromisso apenas do dia 21 de março, mas uma prática cotidiana de enfrentamento às injustiças históricas e contemporâneas.
Vidas Negras importam!
[1] Postulante Franciscano da Província Santa Cruz – Atualmente residindo em São João Del-Rei/MG
[2] Identidade – Canção de Jorge Aragão: 1992