22 de março – Dia Mundial da Água

22 de março – Dia Mundial da Água

Neste Dia Mundial da Água, somos convidados a retomar a missão de cuidar da nossa Casa Comum.

Frei Danilo Nunes Soares, OFM

No livro do Gênesis, na narrativa da criação, o Criador manifesta sua ação amorosa, ativa e contemplativa, demonstrando o valor intrínseco de toda a criação. Um amor que se desdobra em movimentos progressivos, orientando nosso olhar para os elementos resultantes da criatividade divina.

No relato bíblico, o nascimento da vida ocorre após o surgimento dos componentes essenciais a ela: a água, a terra, o sol, o firmamento, etc. O ápice da criação consiste na contemplação dos frutos gerados no e pelo amor de Deus, concretizados em cada criatura. A pedagogia divina nos conduz a uma caminhada reflexiva sobre nossa identidade e sobre a identidade de cada elemento desta grande e harmoniosa obra de arte.

A água, fonte primordial da vida, ocupa um lugar importante na obra criadora. Presente desde os primeiros momentos da narrativa do Gênesis, ela simboliza tanto a abundância quanto a dependência que toda criatura tem da generosidade divina. No entanto, a humanidade, muitas vezes infiel à sua vocação de guardiã da criação, tem explorado esse recurso de maneira irresponsável. A poluição dos rios e oceanos, o desperdício desenfreado e a contaminação das fontes de água ameaçam gravemente a vida em todas as suas formas, ferindo o equilíbrio estabelecido pelo Criador. A destruição dos espaços naturais, por sua vez, agrava essa crise, levando à escassez hídrica e ao sofrimento de inúmeras populações, especialmente as mais vulneráveis.

O solo, concebido como uma grande caixa d’água natural, desempenha um papel essencial na manutenção da vida, permitindo a infiltração e o armazenamento das águas que sustentam ecossistemas inteiros. No entanto, a destruição desenfreada das florestas tem comprometido essa capacidade vital. O desmatamento indiscriminado reduz a absorção da água pelo solo, intensificando os períodos de seca e provocando erosões que, por sua vez, afetam a fertilidade da terra. As consequências dessa degradação são visíveis: o esgotamento dos aquíferos, a desertificação de regiões outrora férteis e o aumento da vulnerabilidade das populações que dependem da terra para sua subsistência.

Essas agressões à criação repercutem diretamente nas mudanças climáticas, cujos efeitos já são sentidos em todo o planeta. Secas prolongadas, inundações devastadoras, o avanço de doenças relacionadas ao clima e a extinção acelerada de espécies são sinais de uma crise que clama por uma resposta urgente. A criação, que antes refletia a harmonia do amor divino, agora geme sob o peso da exploração desenfreada e do consumo irresponsável. Como nos alerta o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ e na exortação apostólica Laudate Deum, estamos diante de uma “dívida ecológica” que exige conversão, responsabilidade e um compromisso concreto com a nossa “Mãe Terra”.

Neste Dia Mundial da Água, somos convidados a retomar a missão de cuidar da nossa Casa Comum. O chamado do Criador ressoa com força em meio ao clamor da terra e dos pobres que sofrem as consequências do descuido e da ganância. É primordial que repensemos nossa relação com a natureza, adotando um estilo de vida que respeite os ritmos da criação, promova a regeneração dos ecossistemas e valorize o bem comum acima dos interesses individuais. Somente assim poderemos honrar o dom da criação e participar ativamente na restauração da obra divina, assegurando um futuro digno para todas as gerações. “Que, assim como São Francisco de Assis no Cântico das Criaturas, possamos dizer: ‘Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é muito útil, humilde, preciosa e casta.’”

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