Viva meu povo, negros somos e venceremos nesta terra com armas do amor!
Texto escrito por uma aluna do Polo Educafro Minas, na cidade de Betim. A Educafro é um projeto nacional que fortalece e orienta a juventude preta e periférica a conquistar seus sonhos e acessar o ensino superior. Mais que um cursinho, é uma rede de esperança e transformação.
Neste material, a jovem compartilha sua visão sobre o 13 de maio – data oficialmente marcada como o dia da abolição da escravatura, mas que para o povo negro carrega uma história incompleta.
Enquanto a história oficial exalta a assinatura da Lei Áurea por uma princesa, a população negra questiona que liberdade é essa que não garantiu terra, trabalho e indignidade? Desde então, seguimos resistindo e lutando por reparação, representatividade e justiça social.
A partir dessa reflexão, o texto propôs caminhos para visibilizar as contribuições do povo negro na construção do Brasil, exaltando nossas referências nas artes, nas ciências, no empreendedorismo e na cultura.
É a juventude preta escrevendo, sonhando e exigindo um país mais justo para todos.
Betim, 9 de abril de 2025.
Excelentíssimo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Mais um 13 de maio se aproxima e ainda se faz necessária a resistência e o combate aos resquícios da escravidão no Brasil. Nesse sentido, a invisibilidade de negros e negras notáveis que contribuíram e de outros que continuam contribuindo para a formação e o desenvolvimento do país é um dos desafios enfrentados por brasileiros afrodescendentes.
Nesse contexto, eu, Júlia Soares − aluna do cursinho comunitário Núcleo Foco no Futuro da Rede Educafro Minas, na cidade de Betim, onde nasci e vivo com minha família − venho apresentar a V. Exa algumas medidas que, uma vez implantadas, poderão contribuir para valorizar os referidos brasileiros e dar visibilidade ao seu legado para a história do Brasil nas áreas da arte, das ciências e do empreendedorismo.
Uma delas é implementar mais políticas de inclusão em instituições culturais e científicas a fim de garantir a representatividade de profissionais, artistas e empresários negros. Sugiro também dar a ruas, praças e monumentos públicos o nome de negros que contribuíram para o desenvolvimento do Brasil em alguma dessas áreas como forma de reconhecimento a eles. A realização de mais concursos e festivais de música, dança e literatura negra é outra medida necessária para que brasileiros de todas as idades possam conhecer mais amplamente a origem dessas expressões culturais e valorizá-las como merecem.
É claro que muitas outras ações são necessárias para vencermos a invisibilidade de toda a contribuição que o provo negro deu e continua dando para a construção e o crescimento do nosso país. Todavia, eu acredito que essas medidas que apresento a V. Exa podem inspirar a elaboração de um Plano Nacional de Valorização do Povo Negro Brasileiro, com impactos na economia, nas artes, nas ciências e, sobretudo, nas relações humanas entre todos nós que, juntos, formamos uma nação miscigenada.
Respeitosamente,
Júlia Soares

LIBERDADE ASSINADA, MAS AINDA EM CONSTRUÇÃO
Que a poesia seja voz e memória.
Frei Carlos Alexandre da Silva Lima,OFM
NEGRO SOU
Num entardecer de um dia de inverno ou verão; primavera ou outono, pouco importava, em qualquer das estações lá vinham nossos algozes.
O cais antes lugar de encontro e contemplação, tornou-se luto, sangue e dor,
Aqueles (as) que ali iam não era mais para contemplar o nascer ou o pôr do sol, mas era a partida definitiva da terra que nos gerou e amou;
Os navios ou matadouros lá estavam ancorados para levar nossos tesouros, meu sangue e meu povo, desnudando-nos da terra que amamos, eles simplesmente não importavam, homens, mulheres e até crianças a todos levavam e o Atlântico atravessa.
Nos porões do cativeiro, dor, medo e morte nos cercavam; gritos e agonias atormentavam; pedíamos aos nossos ancestrais, guardai-nos e protegei-nos da impiedade;
Ao barulho das ondas do mar, no escuro da noite, nossos corpos invocavam nossos ancestrais, pedíamos aqueles que nos antecederam justiça e paz; coragem e força, pois, não sabíamos para onde aquelas ondas iam embocar;
Nossos corpos embalados na dor e no cansaço, não cansava de pedir por libertação e paz; afinal que havíamos feito para tal mal nos acarretar?
Diante da imensidão do mar, assim era também a nossa coragem a nos guiar, somos um povo forte e lutador, saberíamos vencer e lutar e entre os nossos, mesmos distantes, a nossa mãe terra iria nos visitar!
Terra, ah que saudades tenho do meu chão! Do meu lugar, do meu sol e do meu Deus! “Quiseram nos calar, mas nós decidimos não morrer”!
Meu povo é de luta, coragem, nosso Deus Oxalá não deixa seu filho entregue aos seus inimigos;
Xangô forte guerreiro justiça vêm nos dar! Oxóssi que nas matas nos ensinou a caminhar, tirar nosso sustento e a amar a mãe natureza que tudo nos dá;
A tempestade que vêm com seus raios e ventos é Iansã, valente guerreira que nos auxilia na luta diária;
Nosso Deus não se calou diante do seu colonizador, não se rebaixou aos seus chicotes e comandos de dor;
Eis que anos se passaram, e nós aqui estamos, fazendo história mesmo diante da dor, porque não tememos a morte e a dor, nossos antepassados nos ensinaram que maior é o amor!!
Viva meu povo, negros somos e venceremos nesta terra com armas do amor!