Porciúncula

Porciúncula

Segundo a tradição, as origens da capela da Porciúncula remontam ao século IV com a chegada de quatro peregrinos vindos de Jerusalém com uma relíquia do túmulo da Virgem, os quais queriam levar vida eremítica.

Frei Celso Márcio Teixeira ofm.

Na paisagem da cidade que hoje se chama Santa Maria degli Angeli (Santa Maria dos Anjos), sobressai a basílica de grandes proporções que deu nome à cidade. Situada no vale de Spoleto (planície que se estende de Spoleto a Perúgia), distante apenas 2,5 km de Assis, a grande basílica guarda em seu interior como relíquia a pequena igrejinha da Porciúncula. No tempo de São Francisco, a pequena capela era cercada por um bosque, e havia nas proximidades uma casa de leprosos.

Segundo a tradição, as origens da capela da Porciúncula remontam ao século IV com a chegada de quatro peregrinos vindos de Jerusalém com uma relíquia do túmulo da Virgem, os quais queriam levar vida eremítica. O Papa Libério (352) tê-los-ia encaminhado para a planície da Úmbria, onde eles construíram uma capela dedicada à Virgem Maria.

Uma busca cientificamente mais exata, pelo exame do material de construção da capela, permitiu deduzir que a capela foi construída antes do século X. Junto a ela, existiu uma pequena edificação, talvez para abrigar algum eremita ou peregrinos que eventualmente por ali passassem.

A primeira documentação escrita do lugar cognominado Porciúncula data do ano de 1054. Trata-se de um documento que fala do lugar. Só no século XII, numa bula de Eugênio III (1145-1153), se cita especificamente a capela. Esta bula elenca a capela entre os bens do mosteiro beneditino do Monte Subásio. Posteriormente, a capela foi mencionada em outras bulas.

A grande basílica que hoje se vê teve seu início em 1569 (lançamento da pedra fundamental).  Só foi concluída mais de um século depois. Dois eram motivos para a grande construção: acolher as multidões de peregrinos e preservar a pequena capela.

Chama-se Santa Maria da Porciúncula, porque desde a origem, segundo a tradição, era dedicada a Maria. E o nome Porciúncula é dado ao terreno onde estava construída a capela, nome que significa “pequena porção”. E o segundo nome, Santa Maria dos Anjos, teria sido dado pela devoção popular. Segundo esta devoção, lá se ouviam cantos de anjos.

Acontecimentos importantes da vida de São Francisco e da Ordem Franciscana estão ligados à Porciúncula:

– Em 1207, Francisco restaurou a capela e adaptou perto dela um pequeno aposento, possivelmente aquele mesmo a que acima se fez alusão. É muito provável que durante a restauração e mesmo depois ele morasse ali.

– Em fevereiro de 1208, ao ouvir naquela capela o texto do Evangelho em que se narra que Jesus enviou os discípulos a anunciarem o Evangelho, Francisco percebeu a sua vocação. Cheio de entusiasmo disse: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração”.

– Em abril do mesmo ano, Francisco recebeu ali os três primeiros companheiros, a saber, Frei Bernardo de Quintavalle, Frei Pedro Cattani e Frei Egídio. Era o início da gestação de uma nova Ordem religiosa. Por isso, a Porciúncula é conhecida como o berço da Ordem Franciscana.

– No decorrer de 1210, Francisco obtém oficialmente do abade beneditino Teobaldo a permissão para ocupar definitivamente a Porciúncula, embora não queira obter nenhum título de propriedade.

– Em 1211, ao acolher Clara que fugira de casa e se refugiara na Porciúncula, dá início com ela à Ordem das Senhoras Pobres de São Damião.

– Em 1216, Francisco pede ao Papa Honório III a indulgência conhecida como Indulgência da Porciúncula. Aos dois de agosto daquele ano, a capela, segundo a tradição, foi consagrada, estando presentes sete bispos da região, ocasião em que foi solenemente anunciada ao povo a indulgência.

– Em 1226, estando Francisco doente, hospedado na casa do bispo de Assis, pede para ser transportado para Santa Maria dos Anjos para terminar lá onde com a graça de Deus havia começado seu itinerário. Poucos dias depois, aos 4 de outubro de 1226, ele entregava sua alma a Deus.

A predileção de Francisco pela Porciúncula vem transmitida magistralmente pelo primeiro hagiógrafo: “Francisco, o servo de Deus, pequeno de estatura, humilde de espírito, menor por profissão, enquanto vivia no mundo, escolheu do mundo para si e para os seus uma pequena porção, já que de outra maneira não podia servir a Cristo, se não tivesse algo do mundo. Pois, não sem a presciência do oráculo divino, desde tempos antigos se chamava Porciúncula o lugar que devia caber por sorte àqueles que absolutamente nada desejavam ter do mundo. Nele também havia sido construída uma igreja da Virgem Mãe que, por sua singular humildade, mereceu depois de seu Filho ser a cabeça de todos os Santos. Nela teve início a Ordem dos Menores; aí, como sobre fundamento estável, se levantou a nobre estrutura deles, em grande multidão. O santo amou este lugar mais do que todos, ordenou que os irmãos o venerassem com especial reverência, quis que ele fosse sempre guardado como espelho da Religião [Ordem] na humildade e na altíssima pobreza, reservando a outros a propriedade dele, retendo tão somente o uso para si e para os seus. O feliz pai dizia que lhe fora revelado por Deus que a bem-aventurada Virgem, entre outras igrejas no mundo construídas em sua honra, amava aquela igreja com amor especial; e, por isso, o santo a amava mais do que as outras” (2Cel 18, 1-5 e 19, 9).

Foto: https://ofm.org/porziuncola-terra-di-riconciliazione

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