O lugar do presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai Francisco…
E aproximou-se o dia da alegria, chegou o tempo (cf. Tb 13,10; Ct 2,12) da exultação. Os irmãos foram chamados de muitos lugares; homens e mulheres daquela terra, com ânimos exultantes, preparam, segundo suas possibilidades, velas e tochas para iluminar a noite que com o astro cintilante iluminou todos os dias e os anos. Veio finalmente o santo de Deus e, encontrando tudo preparado, viu e alegrou-se (cf. Jo 8,56). E, de fato, prepara-se o presépio, traz-se o feno, são conduzidos o boi e o burro. Ali se honra a simplicidade, se exalta a pobreza, se elogia a humildade; e de Greccio se fez como que uma nova Belém.
Ilumina-se a noite como dia (cf. Sl 138,12) e torna-se deliciosa para os homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas respondem aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O santo de Deus (cf. Mc 1,24) está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria. Celebra-se a solenidade da missa sobre o presépio, e o sacerdote frui nova consolação.
O santo de Deus veste-se com os ornamentos de levita, porque era levita, e com voz sonora canta o Evangelho. E a voz dele, de fato, era uma voz forte, voz doce (cf. Ct 2,14), voz clara e voz sonora, a convidar todos aos mais altos prêmios. Prega em seguida ao povo presente e profere coisas melífluas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre Belém, a pequena cidade. Muitas vezes, quando queria nomear o Cristo Jesus, abrasado em excessivo amor, chamava-o de “Menino de Belém” e, dizendo “Belém” à maneira de ovelha que bale, enchia toda sua boca com a voz, mas mais ainda coma doce afeição. Também seus lábios, quando pronunciava “Menino de Belém” ou “Jesus”, como que o sorvia com a língua, saboreando com feliz paladar e engolindo a doçura desta palavra. Multiplicam-se aí os dons do Onipotente, e uma admirável visão é contemplada por um homem de virtude (cf. 1Mc 5,50).
Via, pois, deitado no presépio um menino exânime, via que o santo de Deus se aproximava dele e despertava o mesmo menino como que de um sono profundo. E esta visão era muito apropriada, pois que o menino Jesus tinha sido relegado ao esquecimento (cf. Sl 30,13) nos corações de muitos, mas neles ele ressuscitou, agindo a sua graça por meio de seu servo São Francisco, e ficou impresso na diligente memória [deles]. Terminada finalmente a solene vigília, cada um voltou com alegria à própria casa.
O feno colocado no presépio foi guardado para que, por meio dele, o Senhor salvasse os jumentos e animais, assim como multiplicara sua santa misericórdia (cf. Sl 35,7.8). E, na verdade, aconteceu que muitos animais que tinham diversas doenças pela região ao redor, ao comerem deste feno, foram libertados de suas doenças. Até mesmo as mulheres que trabalhavam em grave e longo parto, colocando sobre si um pouco do predito feno, dão à luz com parto saudável; e a multidão de homens e mulheres obtém a desejada saúde de diversas doenças. – Finalmente, o lugar do presépio foi consagrado como templo ao Senhor (cf. 1Rs 8,63), e em honra do beatíssimo pai Francisco construiu-se sobre o presépio um altar, e dedicou-se uma igreja, para que, onde uma vez os animais comeram forragem de feno (cf. Dn 5,21), aí doravante os homens comam, para a salvação da alma e do corpo, a carne do cordeiro imaculado e não contaminado, Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Pd 1,19; 1Cor 1,10), que com a suprema e inefável caridade se entregou a si mesmo por nós (cf. Tt 2,14), e que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, Deus eternamente glorioso, por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia (cf. Ap 1,18; 19,4). Aleluia. (1Cel 85-87)
Fontes Franciscanas