A Igreja do Brasil dedica o mês de agosto às vocações.
Frei Oton Júnior, OFM
A Igreja do Brasil dedica o mês de agosto às vocações. Desse modo, o terceiro domingo é dedicado aos homens e mulheres que consagraram suas vidas mediante os conselhos evangélicos, na Vida Religiosa.
A presença da Vida Religiosa na história da Igreja é muito significativa. Pense-se em quantos santos e santas pertenceram às congregações em diferentes épocas e contextos. Desde o monacato às Ordens Mendicantes e às congregações de vida apostólica, a Vida Religiosa Consagrada vem tentando testemunhar o evangelho ‘onde a vida mais clama’, como a Conferência dos Religiosos do Brasil costuma dizer.
Com a renovação Conciliar, também a Vida Religiosa foi chamada a rever sua maneira de atuação na Igreja e no mundo. Em Lumen Gentium, a Igreja assim refletiu sobre essa vocação: “os conselhos evangélicos, assumidos livremente segundo a vocação pessoal de cada um, contribuem muito para a pureza de coração e liberdade de espírito, alimentam continuamente o fervor da caridade e, sobretudo, como bem o demonstra o exemplo de tantos santos fundadores, podem levar o cristão a conformar-se mais plenamente com o gênero de vida virginal e pobre que Cristo Nosso Senhor escolheu para Si e a Virgem Sua mãe abraçou” (n.46).
Paulo VI, por sua vez viu nos religiosos o papel de vanguarda na atividade evangelizadora. “Eles são empreendedores e o seu apostolado é muitas vezes marcado por uma originalidade e por uma feição própria, que lhes recebem admiração. Depois, eles são generosos: encontram-se com frequência nos postos de vanguarda da missão e a enfrentar com os maiores perigos para a sua saúde e para a sua própria vida. Sim, verdadeiramente a Igreja deve-lhes muito!” (Evangelii Nuntiandi, n. 69).
João Paulo II sublinhou a pluralidade dos carismas religiosos, os quais “assemelham-se a uma planta com muitos ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz frutos abundantes em cada estação da Igreja. Que riqueza extraordinária!” (Vita Consecrata, n. 5).
Francisco, por sua vez, ao convocar o Ano da Vida Consagrada, nos convidou a considerar o passado com gratidão, o presente com paixão e o futuro com esperança. E no provoca: “eu vivo inquieto por Deus, por anunciá-lo, por dá-lo a conhecer? (…) Nós, consagrados, pensamos nos interesses pessoais, no funcionalismo das obras, no carreirismo. Mas podemos pensar em tantas coisas… Por assim dizer, ‘acomodei-me’ (…) ou conservo a força da inquietação por Deus, pela sua Palavra, que me leva a sair e ir rumo aos outros?” (Alegrai-vos, n.12).
Atualmente, a Vida Consagrada busca se reinventar perante os desafios contemporâneos. O contexto de mundo e de Igreja já não são os do passado, as vocações diminuíram, as exigências e mentalidades são diferentes. Chama a atenção, no entanto, o belo testemunho que muitos homens e mulheres dão em tomar a peito as grandes questões humanitárias de nosso tempo: buscam as periferias, unem-se em projetos intercongregacionais e interculturais, abraçam as questões dolorosas de nosso tempo como o tráfico de pessoas, a degradação ambiental, as diversas formas de vulnerabilidade humana.
Sim, muitas religiosas e religiosos se veem perdidos e desmotivados em sua missão. Muitas congregações buscam se ressignificar a duras penas. A Pandemia nos convidou a repensar a consagração para além de nossas muitas ações, mas não resta dúvida que o horizonte da Vida Consagrada continua como uma resposta concreta ao Evangelho.
Em julho de 2022, celebramos a 26ª. Assembleia Geral Eletiva da CRB Nacional. Como horizonte inspirador foi dito assim: “Nós, na busca de ressignificar a Vida Religiosa Consagrada no discipulado de Jesus Cristo, em sinodalidade, missionariedade e contínua conversão, à luz da Palavra, somos convocadas e convocados a permanecer no Seu amor, escutar e responder, com esperança, os gritos e os clamores de nosso tempo, para tornar visível o Reino de Deus”.
A Confederação Latino Americana e Caribenha dos Religiosos (CLAR), por sua vez, elegeu ‘as Mulheres da Aurora’ (Mc 16, 2) como ícone inspirador (2022-2025). Na madrugada, quando tudo parecia perdido e as trevas imperavam, a teimosia da fé levou as mulheres ao túmulo e lá se tornaram testemunhas da ressurreição do Senhor. Eis a Vida Religiosa!
Nesse terceiro domingo de agosto, voltemos nosso olhar para tantas mulheres e homens consagrados, peçamos perdão ao Senhor por nossas incoerências em nossa vida e missão e peçamos a força renovadora do Espírito para que nos conduza e faça de nós instrumentos de paz e esperança.
Foto: Banco de imagens gratuito – Cathopic.