Vocação Laical

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“Ser sal da terra e luz do mundo” deve constituir um desejo de todo aquele que decide atender ao chamado de seguir a Cristo como leigo.

Marlucia Alessandra Santos

Para falar sobre o papel dos leigos e leigas na Igreja, faz-se necessário buscar inspiração na palavra de Deus: “Vós sois sal da terra e luz do mundo” (Mt 5-13,14). De acordo com o documento “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”, produzido pela 54ª Assembleia da Confederação Nacional dos Bispos (CNBB), “ser sal da terra e luz do mundo” deve constituir um desejo de todo aquele que decide atender ao chamado de seguir a Cristo como leigo.

Temperar vidas, iluminar caminhos. Como isso foi necessário em todos os tempos da história da humanidade e continua sendo, sobretudo neste tempo em que nos tocou viver. Somos, portanto, chamados a agir como sujeitos responsáveis, que lutam para conquistar um mundo justo e solidário. Assim, no dia a dia de nossa própria família, no meio religioso ou nos amplos e complexos meios político e social, temos sempre muito, muito a realizar. Para tanto, é preciso não perder de vista o norte colunar: contribuir para a edificação de uma comunidade fraterna e solidária, onde não há lugar para o egoísmo, tampouco para a indiferença.

Nessa perspectiva, penso ser importante pedir luz e coragem ao Espírito Santo perante todas as contingências sociais pelas quais somos atravessados e que tantas vezes nos provocam medo e dificuldade. Precisamos da luz Dele para discernir e escolher quais ações devemos realizar para efetivamente preservar a dignidade humana. Isso é necessário porque vivemos em uma sociedade em que impera o Capitalismo – sistema econômico que tantas vezes superestima o poder e a acumulação de bens materiais em detrimento da vida, gerando dor e desolação na humanidade.

Sendo assim, temos diante de nós um paradoxo angustiante: como ser “sal da terra e luz do mundo” em meio a tantas adversidades sociais? Por conseguinte, inspirada na proposta do Concílio Vaticano II, como discípulas e discípulos de Jesus Cristo que somos, devemos encontrar lugares que propiciem perdurar nossa atuação no serviço em favor do próximo, sobretudo dos pobres e excluídos, nos quais o rosto e a carne do Cristo se revelam.

Em minha experiência, a Rede Educafro Minas (especificamente no Núcleo Foco no Futuro, liderado por frades franciscanos da Província Santa Cruz – OFM) constitui um dos lugares que me possibilitam assumir o papel de leiga. Isso porque trata-se de uma organização educacional comunitária, que se pauta em reflexões sobre inclusão e filosofias de movimentos antirracistas. Além disso, tem como objetivo contribuir para a transformação social por meio da educação e da inclusão social. Assim, soma esforços com outros voluntários e juntos contribuímos para o ingresso e a permanência de jovens e adultos negros e/ou periféricos em instituições de ensino superior. Imbuída desse desejo, prossigo meu caminho acreditando ser possível me abrir, cada dia mais, à proposta do Evangelho.

Portanto, a partir de minha experiência na Educafro, acredito que a área de educação é um lugar rico de oportunidades para a atuação de leigos e leigas que desejam viver a proposta do Evangelho, estando dispostos a temperar e a iluminar a vida de pessoas que sonham e acreditam ser possível propagar o amor, a “comum-unidade”, a paz e o bem para todos. Assim, considero que atuar no campo da educação é se dispor a contribuir com a proposta do Evangelho, que é perpassada pelo ato de amor e coragem, manifestada por meio do Mistério da Salvação, seguida do sim de Maria, do sim de Francisco de Assis e de tantos outros sins.

Atualmente, esse mesmo sim continua ecoando por meio do exemplo do Papa Francisco, de tantos homens e mulheres religiosos ou leigos que dedicam suas vidas com responsabilidade, coragem e fé em diversos lugares do mundo. De forma especial, o campo educacional clama por leigos inventivos, criativos e dispostos a subverter a lei do capital para fazer imperar a lei do amor. Todavia, ressalto: é muito importante que, ao assumirmos nosso protagonismo como leigos e leigas, não percamos de vista o que nos disse Francisco de Assis em seus escritos: “sê, entre os homens, um sinal de amor fraterno e de alegria!”

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