11 de fevereiro – Jornada mundial do enfermo

11 de fevereiro – Jornada mundial do enfermo

A Jornada foi instituída pelo Papa João Paulo II em 1993, com o objetivo de celebrar a vida e o sofrimento dos doentes, oferecer-lhes conforto e apoio, e destacar a importância da cura dos corpos e das almas.

A Organização Mundial de Saúde define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade (1946). Tal definição chega a ser utópica, quase inatingível, uma vez todos nós conviveremos, em alguma medida, com algum desconforto em qualquer uma dessas ordens. Mas, isso faz parte da vida, e não significa propriamente um problema. A grande questão é o que se faz com esse desconforto. 

Se no passado predominavam as doenças contagiosas, hoje, grande parte das enfermidades são aquelas não contagiosas, como os problemas de coração, hipertensão, colesterol e somado a isso, as questões do mundo psíquico, como a depressão, as diversas síndromes que fazem do adoecimento psíquico um grande mal da civilização tempos modernos.

Numa sociedade do espetáculo e das mídias sociais, em que o estar bem e sorridente passou a ser um ideal invejado e exibido, fica cada vez mais difícil conviver com algum desconforto, físico ou psíquico. A indústria farmacêutica agradece e aumentara a produção de medicamentos, a fim de aliviar o fardo de viver. Para cada incômodo há um rosário de medicamentos que podem ser comprados com a promessa de aliviar a dor.
No mundo antigo, incluindo muitas narrativas bíblicas, a doença era a consequência de algum desvio moral. Um corpo belo seria um corpo bom, e o contrário se impunha: um corpo enfermo significava algum desvio de conduta. Eram frequentes a exclusão e o isolamento do doente, como a indicar que conviver com ele significasse comungar com o seu delito.

O cristianismo, nesse sentido, trouxe uma importante contribuição, ao dizer que o enfermo não deveria ser excluído ou ignorado, mas, ao contrário, deveria ser integrado, tanto na vida social, quanto religiosa. Nesse sentido, expressões de misericórdia e de compaixão serão as grandes máximas do agir cristão, e a partir do enfermo, muitas instituições foram erguidas a fim de acolher devidamente a pessoa adoecida.

Se lembrarmos dos tempos bíblicos e medievais, a relação com os leprosos, por exemplo, passa da exclusão e do isolamento para a reintegração nos leprosários, mesmo que não houvesse a possibilidade de cura. Cabe lembrar que as práticas terapêuticas atuais desenvolveram uma passagem importante do paradigma da Cura para o paradigma do Cuidado, tendo em vista que nem sempre é possível curar devidamente uma pessoa.

Para os gregos, seria um desperdício empreender forças para com alguém incapaz de ser curado. O esforço dos médicos deveria se ater àquelas pessoas com possibilidades de cura ou, ao menos, de melhora.

Para o corpo clínico, muitas vezes é frustrante reconhecer que nem sempre é possível curar alguém e aqui a passagem para o paradigma do cuidado tem uma relevância muito grande. Nem sempre é possível curar, mas sempre é possível cuidar. Aqui entram os chamados “cuidados paliativos”, em que Pálio, no radical latino, indica o “manto” que deverá cobrir a pessoa adoecida. Humanizar as relações com o doente significa estar a seu lado, não abandoná-lo, deixá-lo falar, quando for possível, dar-lhe a atenção devida.

Papa Francisco, por ocasião da Jornada Mundial do Doente, (celebrada no dia 11 de fevereiro), faz questão de lembrar do drama recentemente vivido na Pandemia: “Os anos da pandemia aumentaram o nosso sentimento de gratidão por quem diariamente trabalha em prol da saúde e da investigação médica. Mas, ao sair duma tragédia coletiva assim tão grande, não é suficiente o prestar honras aos heróis. A covid-19 pôs à prova esta grande rede de competências e solidariedade e mostrou os limites estruturais dos sistemas de assistência social existentes. Por isso, é necessário que a gratidão seja acompanhada, em cada país, pela busca ativa de estratégias e recursos a fim de serem garantidos a todo o ser humano o acesso aos cuidados médicos e o direito fundamental à saúde” (10.01.23).

Para concluir, relembremos a contribuição da antropóloga Margaret Mead (1901-1978). Ao ser questionada por um aluno sobre o primeiro vestígio de civilização humana, a estudiosa surpreendeu a todos ao responder que foi a descoberta de um fêmur partido, mas cicatrizado. “É um dos maiores ossos do corpo humano (liga a anca ao joelho) e demora seis semanas a curar. Alguém tinha cuidado daquela pessoa. Abrigou-a e alimentou-a. Protegeu-a, ao invés de a abandonar à sua sorte”.
Na natureza, qualquer animal que parta uma perna está condenado. Se for um predador, não consegue caçar; se for uma presa, não consegue fugir. Está morto. Então, concluía Mead, o que nos distingue enquanto civilização é a empatia, a capacidade de nos preocuparmos com os outros.

Perante atitudes de descaso, ações negacionistas, abandono de populações inteiras, (como vemos com os povos indígenas, p.e.), é hora de dar uma conferida em nosso grau de humanidade e saber a quantas anda nosso esforço em curar o fêmur partido.

Frei Oton Júnior, ofm

admin
ADMINISTRATOR
PERFIL

Leia outras notícias