A encíclica Laudato Si’ (2015), é um apelo urgente pelo cuidado da Casa Comum (o planeta Terra).
Frei Laércio Jorge de Oliveira, ofm
Compartilhamos com vocês o registro de nosso 1º café entre os colaboradores do Centro Administrativo da Província Santa Cruz e da Associação Irmão Sol, realizado na Cúria Provincial neste dia 16 de maio, com o Tema: “Laudato Si’: Ecologia integral e economia de Francisco e Clara”. A assessoria foi com Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofm.
A encíclica Laudato Si’ (2015), é um apelo urgente pelo cuidado da Casa Comum (o planeta Terra). O documento aborda a crise ecológica, vinculando-a a problemas sociais e éticos. O Papa Francisco defendia que todos – governos, empresas, indivíduos e religiões – devem agir juntos por um desenvolvimento sustentável e justo. Mas como isso se aplicaria à prática diária?
Frei Oton iniciou lembrando que em 2025 celebramos os 10 anos de publicação deste manual que vai para além da fé cristã, pois esta encíclica não se dirige unicamente a católicos de todo o mundo, mas a todos que se preocupam com a vida. A ideia central é de que tudo está interligado, o que aponta para um grande erro da modernidade que fragmentou tudo, dificultando uma relação mais aprofundada quando se abre mão do todo.
O problema é de quem? – Indagou Frei Oton.
Para esta pergunta uma afirmação nos faz a encíclica: O todo é superior às partes! A saída, portanto, é uma ecologia integral. Por integral se entende aquilo que integra. Assim, cuidar de gente é uma atitude ecológica. A grande questão da atualidade é o cuidado pelo ser humano, que se torna a causa e a vítima de nossas ações.
A Ecologia anteriormente era entendida como algo descontado da humanidade. Hoje, com o novo olhar nos traz uma preocupação – as futuras gerações… Mas atenção, o futuro não está por vir, ele já começou! Não dá para descartar e desconectar o ser humano… o ser humano é parte da criação de Deus. Cuidar da natureza é cuidar de gente. Cuidar de gente é atitude ecológica.
É daqui que surge a crise socioambiental. Ou seja, uma crise social e ambiental, que não pode ser vista fragmentada. Um exemplo nos salta aos olhos: O rompimento da barragem Mariana, é uma crise social OU ambiental? Não existe a possibilidade deste “ou”. Ouvimos dizer que estamos no mesmo barco. Ledo engano! Estamos todos no mesmo rio, sofremos todos com a agitação de suas águas, mas não estamos no mesmo barco, ou seja, com as mesmas condições de enfrentar a agitação deste rio.
Existe uma ideia do antropoceno, que se refere a uma nova era geológica proposta, na qual a atividade humana se tornou a principal força de transformação do planeta, afetando ecossistemas, clima e até a geologia da Terra. Mas não são todos os seres humanos que se tornam responsável pelas transformações acometidas ao planeta. Existe um humano mais responsável que outro humano. Na hora que apresentada a conta todos iremos pagar igualmente? Não! Não é justo.
Lembrando Chico Mendes (“Ecologia sem luta de classes é jardinagem”), a ecologia está ligada a luta de classes, pois ao contrário disso, sem luta, seria uma ecologia de jardinagem, ou seja, não basta cuidar de um jardim se o sistema continua queimando florestas. A verdadeira ecologia exige mudança sistêmica mais resistência. Por isso a verdadeira ecologia passa pelo combate à pobreza e pela restituição da dignidade aos excluídos.
O problema da ecologia passa pela economia. Estamos espremendo o mundo e promovendo uma economia que privilegia o enriquecimento (indevido). Diante da realidade brasileira, parece que vivemos uma dualidade: consumismo OU acesso aos bens? Acessar os bens e serviços é um direito que não pode ser renegado a ninguém.
A ecologia passa pela fraternidade. E não qualquer fraternidade. Temos um modelo, a fraternidade expressa no Cântico das Criaturas, uma atualidade de uma utopia, onde o ser humano não é chamado de irmão, como todas as demais criaturas mencionadas, mas aquele que perdoa e promove a paz.
Assim, fraternidade é uma decisão ética. Citando o livro “A invenção da Fraternidade” (2022) do filósofo italiano Paolo Flores d’Arcais, Frei Oton destacou que “Estaremos aqui, veremos se somos irmãos”, frase que ganha profundidade no contexto de critica à ideia de fraternidade como um mito político usado para mascarar desigualdades. Nesse contexto, é um ultimato ético. Desvela a hipocrisia da fraternidade abstrata e aponta para a única que importa: a que se constrói na luta.
Ainda nesta ótica, Frei Oton mencionou a obra “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” (Petit Traité des Grandes Vertus, 1995), do filósofo francês André Comte-Sponville, é uma reflexão acessível e profunda sobre 18 virtudes humanas, da polidez ao amor. O amor aqui é entendido como um projeto em construção.
Terminada a explanação, Frei Oton pontuou as consequências para a evangelização franciscana: Não fazer por caridade aquilo que é por justiça!; A terra é nossa casa comum; Agir como irmãos e não como senhores, pois Terra, Trabalho e Teto são direitos fundamentais para uma vida digna; Integrar as diferenças: Você não precisa Ser como eu para nos darmos bem.
Por fim, Frei Oton indagou aos presentes: Você que trabalha conosco. Em sua vida cotidiana a pessoa de Francisco de Assis inspira você de algum modo? Como fruto das partilhas apontamos que: há necessidade de modificar muito o nosso olhar, para que possamos crescer envolvidos com a natureza. O nosso trabalho, executado pelas diversas frentes provinciais pode ser considerado um trabalho ecológico, no sentido da busca pelos Direitos, o que nos questiona e acaba por refletir em nosso dia a dia. Crescer na consciência de que o menos é mais. Que pela nossa fé, acreditamos que Deus criou todo o mundo primeiro e só no fim nos criou, e viu que tudo era muito bom. Que a Justiça ambiental é combater a desigualdade social, isso nos faz levantar para trabalhar todos os dias, inspirados em Francisco. Cuidar para não provocar a objetificação do colega de trabalho. Como Francisco, que mesmo sentindo a proximidade de sua morte, ao compor o Cântico das Criaturas, manteve um olhar positivo.
E também solicitou aos colaboradores dicas e conselhos para dar os frades: Esperamos essa mesma verdade e carinho com o que se faz ao próximo e ao me fazer próximo; Trazer um pouco mais sobre a vida religiosa dos frades; Fazer mais vezes este momento/espaço de formação e partilha; Continuar com os trabalhos sociais; Ter positividade acima de tudo.
Ao fim do encontro foi disponibilizado aos colaboradores presentes a peça literária de autoria de Frei Oton da Silva Araújo Júnior: “Educar para a Ecologia Integral” e em seguida um lanche farto e saboroso.





