Dia do Papa: comunhão, memória e esperança no serviço de Pedro

Dia do Papa: comunhão, memória e esperança no serviço de Pedro

Que o Papa Leão XIV encontre no coração do povo de Deus uma rede viva de apoio, oração e comunhão.

Marcus Tullius[1]

No dia 29 de junho, a Igreja celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo, apóstolos que testemunharam de forma radical o seguimento de Jesus Cristo. Pedro, o pescador chamado à beira do mar da Galileia, e Paulo, o fariseu convertido no caminho de Damasco, representam juntos a missão fundacional da Igreja: anunciar o Evangelho a todos os povos e manter a comunidade unida na fé.

Não por acaso, é nesta data, a Igreja celebra também o Dia do Papa, que é mais do que uma homenagem a uma figura institucional. É um chamado à oração de toda a Igreja, num exercício de comunhão com aquele que, como sucessor de Pedro, é chamado a confirmar os irmãos na fé e a exercer o ministério da unidade e da caridade entre todas as Igrejas particulares espalhadas pelo mundo. Celebrar o Dia do Papa é, portanto, um gesto de afeto e compromisso com o caminho sinodal da Igreja universal.

Não nos esqueçamos de elevar as preces de gratidão pelos 12 anos de pontificado do Papa Francisco, que partiu no dia 21 de abril, o Papa que escolheu ser lembrado por Francisco, conforme seu testamento e nome que seguirá em sua lápide no lugar de seu eterno repouso na Basílica de Santa Maria Maior. Depois de mais de uma década de um pontificado marcado pela ousadia pastoral, pelo compromisso com os pobres, pelo chamado à conversão ecológica e pela sinodalidade como modo de ser Igreja, somos convidados a olhar com gratidão para o legado de Francisco. Sua coragem em tocar feridas, sua insistência em uma Igreja que escuta, acolhe e acompanha, e sua linguagem de misericórdia deixaram marcas profundas na vida e na comunicação da fé em nosso tempo.

Ao mesmo tempo, nossa oração pelo atual pontífice, o Papa Leão XIV, que dá sinais muito claros de continuidade – a seu estilo – com o pontificado anterior. Talvez ainda seja precoce para cravar algumas definições ou análises mais aprofundadas. Como Igreja, devemos, neste momento, escutar atentamente ao sucessor de Pedro e acompanhar suas primeiras decisões. Tudo que foge disso, é especulação.  

Neste contexto de celebração do dia do Papa, que é marcadamente um dia de oração da comunidade cristã pelo seu pastor, é bonito olhar para o recém iniciado pontificado de Leão XIV, com uma abertura ao diálogo com os desafios contemporâneos, especialmente da paz. Em seu discurso inaugural, Leão XIV pediu uma “paz desarmada e desarmante” e no encontro com os jornalistas alertou para os riscos da desinformação e reforçou a importância de uma comunicação comprometida com a fraternidade.

Diante de um mundo atravessado por tensões, guerras e profundas desigualdades, Leão XIV já é uma voz que propõe, com vigor e serenidade, um caminho marcado pela escuta, pela reconciliação e pela promoção da dignidade humana. A centralidade da paz em seus primeiros discursos — não apenas como ausência de conflitos, mas como prática da justiça— aponta para um pontificado que pretende ser ponte entre as feridas do presente e a esperança do Evangelho.

Num tempo em que a Igreja enfrenta crises internas, tensões externas, e a sociedade vive acelerada por transformações tecnológicas e culturais, o Papa tem a missão nada fácil de ser ponte. Ponte entre a tradição e a inovação, entre o centro e as periferias, entre as tantas realidades da Igreja espalhada em toda terra. A figura de Pedro, com seus limites e sua fé, ajuda a compreender que esse ministério é mais serviço do que poder, mais escuta do que discurso, mais testemunho do que controle.

Por isso, celebrar o Dia do Papa é também assumir, como batizado, a corresponsabilidade pela missão da Igreja. Como? Primeiramente, rezando. No livro dos Atos dos Apóstolos (12,5), encontramos que, no contexto da perseguição à Igreja de Jerusalém por Herodes Agripa I, “Pedro, pois, estava guardado na prisão; mas a Igreja fazia contínua oração por ele a Deus”. Devemos rezar não somente nos momentos de tribulação, mas fazer uma oração perene por seu ministério. É rezar por quem guia, mas também caminhar junto. É reconhecer que a fé não se vive de modo isolado, mas em comunhão. Pedro e Paulo nos lembram que não há Evangelho sem cruz, nem missão sem discernimento comunitário, à luz do Espírito. Eles selaram com o sangue aquilo que haviam proclamado com a vida.

Portanto, ao celebrar o dia do Papa, que cada comunidade cristã e cada batizado possa renovar sua adesão a Cristo, em sentimento de pertença eclesial, unido ao sucessor de Pedro. Que Pedro nos inspire a firmeza na fé. Que Paulo nos impulsione à criatividade missionária. E que o Papa Leão XIV encontre no coração do povo de Deus uma rede viva de apoio, oração e comunhão.


[1] Mestre em Comunicação e coordenador de comunicação da Cáritas América Latina e Caribe. Atuou como coordenador da Pascom Brasil entre 2018 e 2024 e integra o Grupo de Reflexão sobre Comunicação (Grecom) da CNBB. Apresenta o programa Igreja Sinodal em emissoras de inspiração católica.

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