Marco Túlio de Sousa

Este ano, a Marcha Franciscana celebrou um marco especial: 25 anos de história, fé e caminhada e teve como tema “Canastra: Memória e Celebração”. O percurso começou em São João Batista do Glória e terminou em Vargem Bonita, com algumas horas vividas no Parque Nacional da Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco e, no próprio parque, se transforma na imponente Cachoeira Casca D’Anta.

A Marcha Franciscana foi muito mais do que uma viagem de 7 dias, muito mais do que uma caminhada de 80km em 5 dias. Vivenciar a Marcha foi uma experiência profunda de Simplicidade, Fraternidade, Contemplação, Fé e Alegria. Uma experiência franciscana!

Simplicidade

Entender que a vida cabe dentro de uma mochila e que a nossa grande riqueza é que precisamos de pouco para vivermos e sermos felizes. Reconhecer o valor de um pedacinho de cenoura e de uma maçã pela manhã, do banho quente, de se ter um teto para dormir (mesmo que seja uma barraca da Shopee, rs), de uma boa prosa na caminhada. Contemplar a simplicidade é observar a grandiosidade dos pequenos gestos.

Fraternidade

Dividir as dores do corpo e da alma com quem se caminha junto. Mais de 100 pessoas trilhando a mesma estrada. Não importa ir mais rápido ou devagar, pois todos chegamos juntos no mesmo destino. A alegria é coletiva, a felicidade é compartilhada. Nesse caminho, dividimos uns com os outros as dores do corpo, carregando a mochila do colega, segurando a mão para evitar quedas, emprestando pomadas para curar feridas e alergias. Compartilhamos o lanche e a alegria de fazer as refeições juntos. Dividimos também o que há de mais precioso em nós: nossos corações! Nossas histórias se entrelaçam com a de outras pessoas. O nó desse entrelaçamento não prende, o nó dá firmeza para enfrentar os desafios da vida. O nó não está só, são muitos nós que, juntos, dão força e sustentam. Ao final de cada dia de caminhada, a alegria de ser acolhido pela comunidade local. Por gente, que como o Cristo ensinou, recebe o estrangeiro com alegria. Na experiência de Fraternidade da Marcha, conhecemos muita gente diferente da gente. E a Marcha nos mostra que fraternidade não é negar o diferente, mas reconhecê-lo como parte da igualdade que Cristo vê em todos como seus filhos, entendendo que juntos podemos construir um mundo melhor: com mais paz e justiça social.

Contemplação

Ser acordado nas madrugadas e caminhar em silêncio na escuridão. O apoio vinha da luz das lanternas. Partilhamos as nossas luzes, desfazendo a escuridão que reinava na esperança da luz havia de vir. Ao caminhar em silêncio deixamos de lado o barulho do mundo, contemplamos a nossa vida, nossa trajetória. Observamos com atenção o irmão Sol chegar com todo o seu esplendor, dissipando toda a escuridão, trazendo sua luz e o calor que aquece o corpo e a alma. Contemplamo-nos como criação e contemplamos a natureza, mundo que Deus deixou para nós cuidarmos e protegermos.

Fé

Manifestar a Fé em Deus e a Fé no ser humano. A cada dia recebíamos não só o alimento do corpo, mas também o alimento da alma em momentos profundos de oração, missas e no acolhimento que encontramos em cada peregrino com quem dividimos o caminhar. A fé é da ordem do incompreensível: dividida, ela se multiplica. Em uma pregação, uma palavra de incentivo, um gesto, um sorriso, um olhar de contemplação, a certeza do cuidado de Deus e do outro que a Marcha amadurece a cada passo. 

Alegria

Rir das histórias, se alegrar com as brincadeiras, levar com bom humor aquela dorzinha que incomoda. A alegria manifesta nas coisas mais simples, a alegria fraterna, de ser feliz com o outro, a alegria de contemplar a criação e entender, de fato, o significado de “e Deus viu que era bom”, a alegria de ter fé e esperançar, tendo profunda confiança em Deus.

Simplicidade, Fraternidade, Contemplação, Fé e Alegria. 

Sim, o mundo pode ser um lugar melhor. 

Obrigado, Marcha Franciscana!