Festa da Impressão das Chagas de nosso Pai São Francisco: Memória, atualidade e esperança

Festa da Impressão das Chagas de nosso Pai São Francisco: Memória, atualidade e esperança

Nesta grande data nós recordamos com carinho que o próprio Cristo Jesus concedeu ao Santo de Assis se assemelhar no corpo com ELE, trazendo os estigmas de sua paixão e morte.

Frei Eduardo Vely de Mesquita, OFM

O dia 17 de setembro é marcadamente especial para todos os franciscanos e franciscanas do mundo inteiro, pois celebramos, neste dia, a festa da Impressão das chagas de Nosso Pai São Francisco. Nesta grande data nós recordamos com carinho que o próprio Cristo Jesus concedeu ao Santo de Assis se assemelhar no corpo com ELE, trazendo os estigmas de sua paixão e morte. Afinal, São Francisco buscava imitar, em tudo, a vida do Filho de Deus ao ponto de ser merecedor de se parecer com ELE em seu corpo mortal.

A experiência da cruz de Jesus sempre foi algo que provocou comoção e a veneração em São Francisco. Sua conversão foi marcada por longos períodos de oração diante do Crucificado. Foi em um desses momento de oração que Francisco escutou a voz do Crucificado lhe dizendo para restaurar a sua Igreja. Daí por diante o Pobrezinho de Assis buscava imitar a vida de Jesus e fez do Evangelho a sua Regra e modelo de vida.

As nossas fontes mais fidedignas dizem que em 1224 Francisco se recolheu no monte Alverne para realizar um jejum de 40 dias em honra de São Miguel arcanjo. “Um dia próximo a festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), São Francisco viu descer do céu um serafim de seis asas flamejantes e se aproximou dele. Era Jesus que apareceu-lhe não apenas munido de asas, mas também crucificado, com as mãos e os pés estendidos e pregados a cruz (…). Tal aparição deixou Francisco mergulhado num profundo êxtase, enquanto em sua alma se mesclavam a tristeza e a alegria: uma alegria transbordante ao contemplar a Cristo que se lhe manifestava de uma maneira tão familiar, mas ao mesmo tempo uma dor imensa, pois a visão da cruz traspassava sua alma com uma espada de dor e de compaixão (…). Essa visão lhe fora concedida para lhe ensinar que não era o martírio do corpo, mas o amor a incendiar sua alma que deveria transformá-lo, tornando-o semelhante a Jesus crucificado. Após uma conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela visão, deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe na carne a semelhança externa com o Crucificado. Logo começaram aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos. O lado direito estava marcado com uma chaga vermelha, feita, dir-se-ia, por uma lança; da ferida corria abundante sangue”[1].

Quando recordamos a impressão das chagas, de São Francisco, somos convidados a refletir o seu significado mais profundo. Primeiramente é necessário lembrarmos que a vida de Francisco foi totalmente dedicada ao seguimento de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado por amor. Literalmente o Santo de Deus ouviu as palavras do Evangelho que diz: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e depois vem e segue-me” (Lc 9,23). Sendo assim, Francisco encarou a cruz como sinal de entrega total e amor, mas era sinônimo também de dor e morte. Por isso ele sabia que seguir o Senhor era abrir mão de si mesmo, de seu orgulho e vaidades humanas. Dessa forma podemos dizer que a cruz marcou a vida do Pobrezinho de Assis, a tal ponto, que o seu próprio corpo foi marcado com os sinais (estigmas) da cruz de Jesus.

Dessa forma ao contemplarmos os estigmas, olhamos também para a vida de Francisco que se foi modelando e se formando pelo Evangelho para seguir os passos de Jesus. Sendo assim, a festa da Impressão das chagas de Nosso Pai São Francisco é uma festa de esperança, pois nos recorda que o Cristo nos ama radicalmente até o fim[2]. Mas também é motivo de esperança para nós quando nos espelharmos em São Francisco, que seguiu em tudo os passos do Bom Jesus, nós também recebemos as mesmas consolações que ele. Quando buscamos ser um outro Francisco de Assis neste mundo, certamente haverá algumas chagas impressas em nosso corpo. Contudo será motivo de alegria para nós, pois “se com Cristo morremos, com ele também viveremos” (Ro 6,8).

Portanto, ao celebrarmos a impressão das chagas de São Francisco, recordamos com carinho aquele homem que nos ensinou o caminho da cruz. Recordamos também que sua mensagem é extremamente atual e por isso mesmo nos enche de esperança em nossa caminhada cristã.

Por fim, convido a rezarmos a oração à São Francisco das Chagas[3]:

Ó São Francisco, estigmatizado do Monte Alverne,

o mundo tem saudades de ti como imagem de Jesus Crucificado.

Tem necessidade do teu coração aberto para Deus e para o homem,

dos teus pés descalços e feridos,

das tuas mãos trespassadas e implorantes.

Tem saudades da tua voz fraca, mas forte pelo Evangelho.

Ajuda, Francisco, os homens de hoje a reconhecerem

o mal do pecado e a procurarem a purificação da penitência.

Ajuda-os a libertarem-se das próprias estruturas de pecado,

que oprimem a sociedade hodierna.

Reaviva na consciência dos governantes a urgência da paz

nas Nações e entre os povos.

Infunde nos jovens o teu vigor de vida, capaz de fazer frente

às insídias das múltiplas culturas da morte.

Aos ofendidos por toda espécie de maldade,

comunica, Francisco, a tua alegria de saber perdoar.

A todos os crucificados pelo sofrimento, pela fome e

pela guerra, reabre as portas da esperança. Amém.

Foto: Cathopic – Banco de imagens gratuitas.


[1] Conforme a Legenda Menor de São Boaventura, capítulo VI

[2] Conforme o Evangelho de João 13,1.

[3] Oração feita por São João Paulo II em 17.09.1983, na Capela dos Estigmas – Monte Alverne

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