No cotidiano da vida, a gente, por vezes, vai perdendo a sensibilidade dos sentidos, não sabemos quem nos toca, quem nos fala, quem nos olha, o sabor dos alimentos e, assim, vai acorrendo nossas existências. Dentre essas várias experiências da vida, quero partir de uma sutil e profunda saudação que ecoa pelos nossos corredores, salas e tantos outros espaços, quero falar do “Paz e Bem”. Essas duas palavras quando bem compreendidas tem um profundo significado e desafio a ser seguido, existe uma coerência interna e externa. Quando São Francisco decide viver um projeto de vida radical a partir do Evangelho, emerge com ele a saudação da ‘Paz e do Bem’, é claro que não era algo inédito, pois já existia diferentes formas de saudação da Paz e entre elas essa. Entretanto, Francisco radicaliza essas palavras a ponto de torná-las um projeto de vida. Dessa forma, encontramos na Legenda dos Três companheiros, São Francisco dando um significado único para a Paz.

“A paz que anunciais com a boca deveis tê-la em vossos corações. Ninguém seja por vós provocado à ira ou ao escândalo, mas todos por vossa mansidão sejam levados à paz, a benignidade e à concórdia. Pois é para isso que fomos chamados: para curar os feridos, reanimar os abatidos e trazer de volta os que estão no erro” (58)

É perceptível que se compreendermos bem a saudação da ‘Paz e Bem’ percebemos que é um projeto de vida. Anunciar e viver a paz é estar disposto a enfrentar as contingências da vida, é saber amar o outro não ideal, mas real. Em consonância, esse projeto de vida reflete numa mudança não apenas pessoal, mas comunitária e social. Esconde-se um dinamismo em que viver a paz leva-se ao Bem e, assim, Francisco está colocando os fundamentos da cultura da paz em contrapartida a uma realidade de morte e ódio.

Olhando para nossas realidades diversas (escola, casa, trabalho), podemos nos perguntar se de fato estamos sendo mestres (pedagogos da paz e do bem). Esse projeto perpassa todas as realidades que habitamos, é desde a acolhida até o momento da despedida, é vivido na maneira como lidamos com os conflitos, julgamentos e, sobretudo, na maneira como relacionamos com o outro. Em outras palavras, não podemos falar de uma realidade da ‘Paz e do Bem’ se não existe um respeito, compreensão, capacidade de perdoar, uma linguagem não violenta e outros tantos valores que estão atrelados a esse projeto de vida. Além disso, nos saudarmos com a Paz e o Bem é se comprometer com a instauração de uma sociedade em que reine o bem a todos (as). Em síntese, é compreender que todos possuem um valor em si mesmo e aprender com São Francisco a consideramos todos como irmãos e irmãs, seus fundamentos não são as coisas efêmeras do mundo, mas o amor, a capacidade de suportar as contradições, o perdão a reconciliação para além de qualquer pressuposição ou exigência prévia.

Frei Vitor Vinicios