Anjos, você é um deles!

Anjos, você é um deles!

São Miguel Arcanjo – recorda a supremacia de Deus sobre todas as criaturas.

Pe. Jaldemir Vitório SJ -FAJE/BH

Os anjos estão presentes em nosso imaginário, desde a infância. Aprendemos que cada um tem o anjo da guarda para protegê-lo, de modo especial, nos momentos de perigo. Existe uma pintura bem conhecida onde um anjo acompanha uma criança sozinha, às margens de um rio, correndo risco de vida, sem se dar conta. O anjo protetor tem a tarefa de guardá-la da tragédia. A oração “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador…”, ensinada pelas mães, é rezada, também, por adultos. Recentemente houve uma proliferação de anjos. A música “Anjos de Deus”, muito cantada nas comunidades, diz que tem anjos “subindo e descendo em todas as direções”.

Jesus falou dos anjos intercessores dos pequenos, diante de Deus. “Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10). O ensinamento do Mestre é claro. Quem ofende os pequeninos, está ofendendo o próprio Deus, sob cujo olhar eles estão, pela ação dos anjos.

A palavra anjo vem da língua grega – “aggelos” – e significa mensageiro, portador de uma notícia. Ângelo e Ângela tornaram-se nomes de pessoas. Os anjos, na Bíblia, são os mensageiros de Deus. Daí serem chamados de “anjo do Senhor” (Mt 1,10; Lc 1,11). A comunicação de Deus com as pessoas acontece por meio dele.

Nos textos mais antigos da Bíblia, a palavra hebraica “malak”, traduzida para o grego como “aggelos”, era usada como recurso literário para se falar da comunicação de Deus com os seres humanos. Se lermos com atenção Gn 18,1-16, perceberemos como a fala dos três homens (designados como dois Anjos, em Gn 19,1.15) é substituída pela fala de Deus (Gn 18,13ss), como se fossem a mesma pessoa. Os anjos não são referidos como seres pessoais, distintos de Deus. Quando eles falam, é Deus quem fala!

A linguagem bíblica sobre anjos, enquanto seres personificados, teve origem na volta dos deportados do exílio na Babilônia, no séc. VI a.C. A ausência de profetas para falar em nome de Deus e estabelecer a comunicação entre Deus e o povo abriu espaço para seres celestes exercerem essa função. Deus não havia abandonado seu povo; antes, encontrara um meio novo de se comunicar com ele. Uma rica terminologia, com variadas espécies de anjos, começou a ser elaborada, como a que aparece na Carta aos Colossenses: “Tronos, Soberanias, Principados e Autoridades” (Cl 1,16). Entretanto, o Novo Testamento é discreto ao se referir aos anjos. Os anjos aludidos nos evangelhos estão, quase sempre, ao serviço da intervenção divina na história. Deus se faz presente, por meio deles. O Apocalipse é o livro do Novo Testamento com mais referências aos anjos. Os textos do Novo testamento permitem estabelecer uma hierarquia angélica. Miguel é um dos três arcanjos, chefes dos anjos, juntamente com Gabriel e Rafael.  O Credo cristão confessa Deus como criador das “coisas visíveis e invisíveis”. Os anjos são as criaturas invisíveis!

Um bom caminho para se falar dos anjos consiste em analisar os nomes que lhes foram dados. São formas de sublinhar diferentes ações de Deus em favor da humanidade. Os três arcanjos (chefes dos anjos) são um bom exemplo: Miguel é uma pergunta “Quem é como Deus?”; Gabriel significa “Deus é meu defensor”; Rafael quer dizer “Deus cura”. A partícula “el” nos nomes bíblicos é uma evocação divina. As palavras com essa terminação chamam-se teofóricas. São evocadoras de Deus.

São Miguel Arcanjo – recorda a supremacia de Deus sobre todas as criaturas. Ninguém pode competir com Deus, nem ter a pretensão de superá-lo em poder.

O Arcanjo Miguel é referido no livro de Daniel em luta contra os inimigos do povo de Deus (Dn 10,13-14). O versículo 9 da carta de Judas, também, faz alusão a ele em disputa com o diabo. O Arcanjo guerreiro aparece no Apocalipse, lutando com seus anjos contra o Dragão (Ap 12,7-9). Miguel luta em favor do povo de Deus, para protegê-lo. Seu nome recorda, continuamente, o amor zeloso de Deus, sempre pronto a se levantar para defender seus escolhidos, quando ameaçados pelos inimigos. Deus jamais permite que os eleitos pereçam, pois está sempre ao seu lado. Ninguém se iguala com ele, como recorda o nome Miguel.

Cada vez que invocamos São Miguel Arcanjo, trazemos à mente o início do Credo, onde dizemos: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra”. Se assim é, podemos perguntar: “Quem é como Deus?” Em hebraico, mi kî el, de onde vem Miguel. Quem poderá se comparar com ele em grandeza e poder? “Qual Deus é como tu?” é a pergunta de Mq 7,18.

A devoção a São Miguel Arcanjo deveria nos precaver de todo tipo de idolatria, a tentação de colocar as criaturas no lugar do Criador e a dar as coisas do mundo o valor que só Deus possui. Um devoto verdadeiro, jamais, colocará o dinheiro, o poder, o prazer, a fama, tampouco, a si mesmo em primeiro lugar.

Ao se perguntar continuamente – “Quem é como Deus (Miguel)?” –, se colocará no caminho da fé verdadeira, sem mistura de idolatria, dando às criaturas seu devido valor.

Portanto, a missão de São Miguel Arcanjo é a de todos nós. Cabe-nos a tarefa de ser autênticos anjos, proclamadores da soberania divina, numa sociedade tão cheia de ídolos, onde o Deus verdadeiro é deixado de lado. A fé nos exige dizer sem cessar: “Quem é como Deus?”, como nos recorda o Arcanjo São Miguel, e, de fato, torná-lo o centro de nossas vidas. Portanto, todos nós somos Miguel, batalhadores pela causa da fé, na contramão da idolatria!

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