Confira como foi a celebração do Perdão de Assis em Brumadinho

Confira como foi a celebração do Perdão de Assis em Brumadinho

Na espiritualidade franciscana, o Perdão de Assis rememora a experiência mística de Francisco ao desejar que todas as pessoas que se dirigissem à igrejinha da Porciúncula recebessem a indulgência por seus pecados.

Frei Oton Júnior

Na manhã de sábado, 30 de julho, os frades dos regionais de Belo Horizonte e Divinópolis, juntamente com leigos, leigas e religiosas, celebraram o Perdão de Assis em Brumadinho, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, que ficou mundialmente identificada pelo rompimento da barragem de mineração da Vale, em 25 de janeiro de 2019, ceifando a vida de 272 pessoas, quatro delas ainda não localizadas.

Na espiritualidade franciscana, o Perdão de Assis rememora a experiência mística de Francisco ao desejar que todas as pessoas que se dirigissem à igrejinha da Porciúncula recebessem a indulgência por seus pecados. Unindo esta motivação à pauta socioambiental, o Secretariado de Missão e Evangelização decidiu estender o pedido de perdão à irmã e mãe terra, como reza o Cântico do Irmão Sol.

O encontro teve início às 9h30min, junto ao santuário de Nossa Senhora do Rosário, sede da região episcopal de mesmo nome, que compreende o Vale do Paraopeba, na Arquidiocese de Belo Horizonte. Como o Santuário está em reforma, o Secretariado providenciou toda a estrutura para acolher os participantes.

Num primeiro momento, celebrou-se o Ofício Divino das Comunidades, relembrando as três conversões propostas pela Igreja: conversão individual, pastoral e ecológica. Após o lanche, às 11h houve a celebração eucarística, presidida pelo Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Vicente de Paula Ferreira, o qual tem se destacado como uma voz significativa junto aos atingidos pela mineração, na denúncia dos abusos exploradores do sistema de mercado, que deixa um rastro de destruição por onde passa.

A esse respeito, pontua a encíclica Laudato Si: “Constatamos frequentemente que as empresas que assim procedem são multinacionais, que fazem aqui o que não lhes é permitido em países desenvolvidos ou do chamado primeiro mundo. Geralmente, quando cessam as suas atividades e se retiram, deixam grandes danos humanos e ambientais, como o desemprego, aldeias sem vida, esgotamento dalgumas reservas naturais, desflorestamento, empobrecimento da agricultura e pecuária local, crateras, colinas devastadas, rios poluídos e qualquer obra social que já não se pode sustentar” (n.51).

Em sua homilia, Dom Vicente destacou quatro palavras motivadoras para pensar os impactos da mineração, sobretudo relacionadas a Brumadinho:

a) MEMÓRIA, que não deixa os crimes caírem no esquecimento, mas não como fazem os museus, “com tudo limpo e ar condicionado”, mas como a memória rebelde e inquieta do Ressuscitado. “É preciso tocar as chagas, pois elas são a senha do Senhor Ressuscitado” – disse Dom Vicente.

b) VERDADE, uma vez que a mídia publica uma realidade de forma mentirosa, como se a reparação às vítimas e ao lugar estivesse acontecendo de forma elogiável, quando na verdade, as indenizações ainda são um grave problema. Ao mesmo tempo, as belas iniciativas locais nem sempre recebem a devida atenção midiática.

c) JUSTIÇA. “Não existe vida feliz sem justiça”, insistiu o Bispo Auxiliar. A imparcialidade da justiça frequentemente não dá o devido crédito aos atingidos e os processos vão sendo protelados, deixando as famílias sem o amparo devido.

d) Por fim, Dom Vicente destacou a importância da RESISTÊNCIA que tem brotado entre as pessoas, inspirando ações de solidariedade, motivado projetos criativos, como o Coletivo de Fé e Política e outras ações que visam assegurar emprego e renda para a população local.

Dom Vicente insistiu ainda que no atual momento brasileiro, não é hora de perdermos tempo com pequenas questões, coisas de menor importância, mesmo dentro da Igreja, quando o que de fato está em jogo é um projeto de nação, de bem-estar legítimo para todo o povo.

Dessa forma, o Perdão de Assis quis unir a espiritualidade a uma grande reconciliação com o meio ambiente, no desejo sincero de conversão do olhar e das atitudes, em vistas de um mundo onde todos possam ter espaço, vez e oportunidades. Como em Francisco de Assis, vemos como inseparáveis “a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior” (Laudato Si, n. 10).

Confira mais algumas fotos da celebração:

Fotos: Frei Jhonatan Luiz, Frei Renieverton Telles, Frei Adilson Corrêa, Frei Vitor Vinicios da Silva e Sarah Luísa.

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