O Dia da Consciência Negra é uma celebração das nossas vitórias e da importância do legado negro na construção do Brasil.
Frei Gustavo Silva Coimbra Neves, ofm
“É chegada a hora de tirar nossa nação das trevas da injustiça racial.” (Zumbi dos Palmares)
Pela primeira vez o Dia da Consciência Negra será feriado em todo o Brasil. Embora seja uma data que frequentemente recorde as nossas lutas e resistências, é essencial destacar as inúmeras vitórias que o povo negro alcançou ao longo da história. Desde a resistência à escravidão até a contribuição para a cultura, arte, ciência e política, o povo negro tem sido uma força transformadora na sociedade brasileira. Não se trata apenas de recordar as dores, mas de reconhecer que nossa trajetória é também de vitória, força e superação.
Uma das figuras mais emblemáticas dessa resistência e vitória histórica é Zumbi dos Palmares, líder quilombola que se tornou símbolo da luta pela liberdade. Zumbi não foi apenas um guerreiro, mas um estrategista que entendeu a importância de manter a autonomia e a cultura de seu povo diante da opressão. O Quilombo dos Palmares, na época liderado por ele, resistiu por décadas, tornando-se um símbolo de liberdade e afirmação da identidade negra. A coragem de Zumbi e seu compromisso com a liberdade nos inspiram até hoje, sendo um exemplo de que, mesmo em face da opressão extrema, sempre existirá espaço para a luta e a construção de um futuro melhor.
Além da luta por liberdade, o povo negro sempre foi responsável por uma grande contribuição cultural que moldou a sociedade brasileira. A música, a dança, a culinária, as religiões de matriz africana e a literatura são apenas algumas das áreas em que a influência negra se faz sentir profundamente. O samba, o candomblé e a capoeira são manifestações culturais que não apenas resistiram ao tempo, mas se tornaram parte essencial da identidade nacional. Essas expressões culturais representam a vivacidade e a resiliência de um povo que, mesmo diante de tantas adversidades, soube transformar a dor em arte e afirmação de sua existência.
As vitórias políticas também têm sido um marco importante para o povo negro, especialmente nas últimas décadas. A criação de políticas públicas de ações afirmativas, como as cotas nas universidades e no serviço público, tem garantido maior acesso à educação e ao mercado de trabalho para a população negra, contribuindo para a diminuição das desigualdades históricas.
A raça continua sendo um dos principais marcadores das desigualdades sociais no Brasil, determinando quem vive e quem morre, quem tem acesso à saúde, alimentação e segurança. A população negra, especialmente nas periferias, enfrenta uma expectativa de vida mais baixa, maiores taxas de violência policial e dificuldades no acesso a serviços básicos. A cada 12 minutos um jovem negro no brasil é assassinado. Dessa forma, o racismo no Brasil não é apenas uma questão de atitudes individuais, mas uma estrutura que perpetua a exclusão e a marginalização do povo negro, tornando urgente a implementação de políticas públicas que garantam igualdade de direitos e o fim da violência e da discriminação racial.
O Dia da Consciência Negra é mais do que um lembrete das nossas dificuldades e sofrimentos, é uma celebração das nossas vitórias e da importância do legado negro na construção do Brasil. Somos o começo e o meio, como disse Antônio Bispo, e nossas trajetórias, alimentadas pela força de nossa ancestralidade, nos guiam para um futuro mais justo e plural. Continuamos a trilhar os caminhos de Zumbi e de tantos outros heróis e heroínas anônimos, que, com coragem e determinação, transformam a história do Brasil em um testemunho vivo de resistência, criação e luta.