“Conversão/penitência: a reforma da nossa forma de vida começa aqui”, diz o Ministro Geral

“Conversão/penitência: a reforma da nossa forma de vida começa aqui”, diz o Ministro Geral

O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Massino Fusarelli, animou e orientou os frades por duas horas neste início de trabalhos da nova entidade.

Os 77 frades que participam da 1ª Assembleia Ampliada da Conferência Franciscana do Brasil e Cone Sul tiveram um encontro, ainda que por videoconferência, muito especial nesta quarta-feira (23/3), na Casa de Eventos e Hospedagem Sagrada Família, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, Frei Massino Fusarelli, animou e orientou os frades por duas horas neste início de trabalhos da nova entidade.

Com base no documento final do Capítulo Geral e a apresentação dos mandatos e orientações, ou seja, as decisões votadas e aprovadas em Capítulo, Frei Massimo traçou as bases e apontou os desafios para a nova Conferência, partindo do título do documento: “Respondendo ao convite do Espírito Santo como irmãos e menores na Igreja e no mundo”. Segundo ele, o documento final tem na sua estrutura cinco “convites”: Convite à Gratidão (nº. 4-6); Convite a “Renovar nossa Visão” (nº. 7-16); Convite à Conversão e à Penitência (nº. 17-24); Convite à missão e à evangelização (nº. 25-33); e Convite a “abraçar nosso Futuro” (nº. 34-42).

“A gratidão/agradecimento nasce do reconhecimento de ter recebido um dom, e é uma das dimensões fundamentais da vida de quem tem fé. Precisamos cultivar a virtude da gratidão para reconhecer os dons de Deus que existem entre nós e os cultivar, não os extinguir”, disse.

No segundo convite, “Renovar a nossa visão”, a expressão retoma a primeira parte do lema do Capítulo que dizia: “Renovemos a nossa visão. Abracemos o nosso futuro. Levanta-te… e Cristo te iluminará”. “Nestes meses, depois do Capítulo, os sinais de crise sofreram uma aceleração enorme com a guerra e os riscos que essa encerra. Somos impelidos a nos perguntar o que o Espírito nos mostra e pede de nós neste tempo. Para isso, precisamos aprimorar muito a nossa capacidade de conjugar história e fé, mundo e Espírito: na América Latina, vocês são mais acostumados a essa leitura. Ao mesmo tempo, podemos progredir e não ficar paralisados porque também é urgente situar o nosso carisma hoje, abrindo-se para o futuro”, recordou o Ministro Geral, indicando a necessidade de “renovar a Formação em todos os níveis, para se tornar, não somente em palavras, o que somos! Continua com a necessidade de oferecer apoio àqueles freis que vivem momentos de crise, sendo útil, nesse sentido, conhecer o subsídio ‘Nossa vocação entre abandonos e fidelidade’, preparado pela Ordem em 2019. Afim de que a renovação aconteça verdadeira e plenamente, o Capítulo retoma o convite do CPO 2018: tornar-se “Fraternidades contemplativas em missão”, acrescentou.

O tema da conversão e da penitência, o terceiro convite, é profundamente cristão. “Justo por ser profundamente evangélico, este tema é profundamente franciscano. Esta conversão/penitência é o núcleo de nossa forma de vida e redescobri-lo assim em toda a sua consistência é da maior urgência, sem a qual simplesmente não temos mais um presente e, muito menos, um futuro. A reforma da nossa forma de vida hoje começa aqui, aqui se nutre e cresce”, ensinou. Nesse sentido, a Ordem se ocupa com três ações prioritárias: a que se refere  à tutela dos menores e dos adultos vulneráveis (nº 18-19); o aspecto econômico (nº. 20-21); chegando, enfim, ao clericalismo no seio da Fraternidade (nº. 22-24). “Desafios com os quais estamos todos ocupados”, informou.

Missão e evangelização faz parte do quarto convite, segundo o Ministro Geral. “Se ser ‘discípulos missionários’ é tarefa de todo cristão, com maior razão o é para quem segue Jesus ao modo de Francisco. A Ordem se empenhará, de modo especial, na missão-evangelização com: jovens e jovens/adultos, que com frequência não confiam mais na Igreja, afastam-se das tradições de fé de suas famílias, ou, inclusive, jamais foram iniciados em uma religião; ecologia integral; continente digital. Referente a este último âmbito, é interessante notar como Francisco recorria a todos os meios que estavam a sua disposição para fazer chegar longe a Palavra do Evangelho”, disse Frei Massimo.

“Abraçar nosso futuro” (nn. 34-42), que é também a segunda parte do lema do Capítulo, já acima apresentado, é o quinto convite, que indica diretamente quatro propostas de ação. Na verdade, abraçar o futuro significa caminhar, chamados por Cristo, como irmãos, inspirados pelo Espírito Santo, em direção ao que momentânea e transitoriamente ignoramos, porque o ponto de chegada de nosso caminho é o próprio Cristo! Que desafio! Estamos conscientes dele?”, perguntou.

A segunda proposta é a de utilizar os importantes centenários referentes à vida de Francisco (2021: Regra não Bulada; 2023: Regra Bulada [e o presépio de  Greccio]; 2024: os Estigmas; 2025: Cântico do Irmão Sol ou Louvores das Criaturas; 2026: Testamento e Trânsito), “não para rever e lamentar de modo saudosista um passado, “mas com um olhar para aquilo que pode ser regenerativo e novo, uma oportunidade para abraçar nosso futuro” (n. 38), porque a fidelidade não é repetitiva, mas sim criativa! Estas comemorações são motivação para um maior sentido de colaboração entre as três Primeiras Ordens e a Terceira Ordem Regular”, reforçou o Ministro Geral.

Em terceiro lugar, “apresenta-se a necessidade de rever as estruturas das Entidades da Ordem (Cúria Geral, Conferências, Províncias, Custódias), para que possamos responder sempre melhor à nossa missão, “em conformidade com o espírito de solidariedade fraterna” (n. 40). E, por fim, há um apelo para cultivar um sentido maior de colaboração com todos: leigos, outros institutos de vida religiosa e consagrada, e toda pessoa de boa vontade.

“Eis, então, uma síntese de todo o desafio em que já nos encontramos e do qual não podemos escapar, senão a insignificância pode se tornar maior do que aquela que vivemos. Precisamos ser capazes de enfrentar tudo isso e, em meio a tudo isso, aprender a caminhar. Sei que temos os recursos para fazê-lo; precisamos mais do que audácia para dar os passos justos hoje, neste e para este tempo. Bom trabalho em vossa grande e significativa porção de terra, onde a conjugação de fé e história pode inaugurar tantas novidades evangélicas. Que vocês trilhem um bom caminho como nova Conferência internacional e bela!”, desejou Frei Massimo, que em seguida respondeu às perguntas dos frades. Na segunda parte da manhã, os frades se reuniram em grupos conforme os serviços e secretarias, assim como os Ministros e Custódios.

Também da Cúria Geral participaram os Secretários Gerais para a Formação e Estudos, Frei Darko Tepert;  para as Missões e a Evangelização, Frei Francisco Gómez Vargas; e o Animador do Serviço de Justiça Paz e Integridade da Criação (JPIC), Frei Jaime Campos. A proposta de criar uma nova Fraternidade da Conferência na Amazônia, junto aos índios Munduruku, dominou os debates antes da Celebração Eucarística das 18 horas. O tema vai continuar nesta quinta-feira.

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

O Definidor Geral, Frei César Külkamp, presidiu a Santa Missa às 18 horas, tendo como concelebrantes Frei Fernando Aparecido dos Santos, da Custódia do Sagrado Coração de Jesus (SP e MG) e Frei Esteban Sebastian Robledo, missionário na Amazônia. Frei César celebrou esta Eucaristia em torno da temática da Evangelização, muito presente nas reflexões do dia. “De acordo com a Evangelii Gaudium 176, do Papa Francisco, evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo. Em outras palavras, é pôr-se no seguimento de Cristo, como seu discípulo de onde se recebe o envio para continuar a sua obra. O Papa traz aqui o binômio já tão insistido na Conferência de Aparecida: ser discípulos e missionários”, disse.

“A fé que recebemos é dom, como ouvimos esta manhã do nosso Ministro Geral. E a missão é envio. Assim, o centro nunca é a nossa própria pessoa. O Reino é de Deus, a missão é de Jesus Cristo. Nós somos servos humildes, como gostava de se definir São Francisco. Assim, evangelizar é servir, seja à Palavra ou ao irmão na comunidade e na caridade. A pessoa humana se torna centro quando está na dimensão relacional, no encontro de irmãos”, ressaltou Frei César, lembrando que na Palavra de Deus se ouviu a proclamação da parábola do Bom Samaritano. “Esta parábola foi tomada como ícone ou paradigma na outra Carta Encíclica do Papa Francisco, a Fratelli Tutti. A FT nos alerta para os riscos, sombras e armadilhas do nosso tempo que descarta pessoas ou anestesia os indivíduos, mesmo com os meios e redes mais modernas de comunicação”, lembrou o Definidor Geral.

Referindo-se à leitura do texto alegórico de Elói Leclerc, “Sabedoria de um Pobre”, Francisco e o irmão Tancredo conversam sobre evangelização. “Este texto antigo parece tão atual quando falamos de nossa reestruturação. Abandonar estruturas pesadas, arrogantes e abraçar o que é simples, pequeno, pode ser um caminho para que nossa vida seja de fato significativa. A Ordem, desde o Capítulo Geral, deseja para esta reestruturação um caminho de sinodalidade. A Ordem quer que façamos este processo em todas as nossas instituições”, adiantou Frei César.

“Comecemos, conforme a FT, num verdadeiro e receptivo encontro humano. Sentar-se e escutar o outro. Superar o narcisismo e prestar atenção. Libertar-se da surdez e insensibilidade do mundo de hoje. Não percamos a capacidade de estudar. Francisco de Assis escutou a voz de Deus, a voz dos pobres, a voz do enfermo, a voz da natureza. E transformou tudo isso em estilo de vida. A forma de vida que abraçamos”, completou o Definidor Geral.

Texto reprodução:  Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.

Leia outras notícias