Deus do Povo Negro

Deus do Povo Negro

Deus do Povo Negro.

Frei Carlos Alexandre da Silva Lima, OFM

Pai, Senhor e guarda de todos os povos, Senhor do tempo, da história que comunicou a sua palavra por meio de homens e mulheres. De Abraão, Isaac e Jacó, por mulheres como Sara, Rebeca e Raquel, que não se calou quando observou que um povo era sofredor. Deus dos nossos ancestrais que habita os corações, de Zumbi e Dandara, que deu força à nossa luta por Palmares, pelo martírio de Marielle Franco ao defender os negros. Pai que não se cala pela dor das balas atravessadas nos corpos negros como a do músico Evaldo Rosa Santos, como tantos outros corpos negros tombados no chão de nossa história. Pai que consola a dor e o pranto quando são as nossas crianças condenadas por serem periféricas e negras, ameaçadas constantemente por um sistema opressor: Emilly, Rebeca, Ágatha, João, Kauê, Miguel e tantas crianças e jovens negros, mortos diariamente pelo racismo estrutural entranhado em nosso país e, agora, são reluzentes de nossa história.

Senhor, que dança com o seu povo, continuas sensível ao grito por liberdade, sensível ao toque dos tambores, e encarna em nossos corpos as lutas diárias por sustento e pão; numa roda de capoeira ou samba, espalhas a alegria mesmo diante de tanta dor e sofrimento; concede um sorriso e um olhar esperançoso que dias melhores virão, mesmo que a luta seja constante.

Pai que foge das grandes estruturas e mora em palafitas, Quilombos e morros de nossas comunidades; Senhor dos nossos terreiros, que com o cuidado da terra, nos dá o sustento com a partilha do pão;

Senhor da resistência, que fez do seu povo preto, homens, mulheres, jovens e crianças resistirem a todos os atos de exclusão, com amor, sabedoria e persistência, resistindo todos os dias a dor e à violência; com a força dos nossos ancestrais queremos continuar nossa existência.

Ao Artífice que modela o cosmos e esculpe toda a criação; ao Senhor que dança com o seu povo e o encoraja sempre para nunca desistir; ao nosso povo preto espalhado pelo mundo todo que anseia por um dia voltar para nossa Mãe África e às sombras do Baobá, enfim, repousar.

Ao Deus de todas raças, glória e honra para todo sempre!

E que seu Axé permaneça em nós! Amém, axé, awerê, aleluia!

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