Escrevivência de nós mesmos – 25 anos de caminhos, ações e palavras da EDUCAFRO Minas

Escrevivência de nós mesmos – 25 anos de caminhos, ações e palavras da EDUCAFRO Minas

Uma rede que se sustenta em palavras, silêncios, afetos e luta.

Nos dias 02, 03 e 04 de maio, vivemos mais que um evento. Foi um reencontro com nossas raízes. Um retorno à palavra viva, aos corpos que caminham, aos sonhos que insistem e à memória que floresce, mesmo diante das negações históricas.

Como nos inspira Nego Bispo, plantamos nossos passos com a terra, não sobre ela. A EDUCAFRO Minas, ao completar 25 anos, não celebra apenas uma data, mas reafirma um território simbólico, político e afetivo, onde o tempo é tecido em coletivo.

Inspiradas e inspirados por Paulo Freire, sabemos que ninguém liberta ninguém: nós nos libertamos em comunhão. Assim vivemos este encontro, entre escuta e partilha, denúncia e anúncio. Uma rede que se sustenta em palavras, silêncios, afetos e luta.

A escrevivência foi nossa guia. Não só testemunho, mas ferramenta de reinvenção. Como disse Conceição Evaristo, escrevemos para incomodar, por necessidade, não por maldade. E ao narrar nossas histórias, desobedecemos os silenciamentos que tentaram nos apagar.

Realizamos rodas de conversa-quilombo, reatando laços, reconhecendo ancestralidades, afirmando identidades. Construímos estratégias para seguir adiante com coragem, amor e fé. Celebramos a vida que pulsa em cada militante, educador, jovem negro e negra que ousa sonhar e transformar.

Tivemos momentos que atravessaram nossa história coletiva. Ao acolhermos Eduardo, o primeiro bolsista da rede, escutamos a sua escrevivência — mais que um relato, um sonho realizado. Assim como ele, outros depoimentos iluminaram a potência transformadora da EDUCAFRO.

Robert compartilhou com emoção que, sem o apoio da rede, não teria conseguido realizar seus sonhos. Este ano se forma, com plena consciência de que a EDUCAFRO transformou sua vida — não apenas com oportunidades, mas com pertencimento e dignidade.

Luiz, formado em engenharia, nos lembrou das dificuldades de estudar em uma escola particular, convivendo com colegas de realidades muito distantes da sua. Foi na EDUCAFRO que ele se reconheceu, se encontrou e se fortaleceu, pois ali, suas vivências deixaram de ser exceção e passaram a ser acolhidas como parte do todo.

Jórgia, mulher negra, mãe de uma filha com deficiência, nos emocionou com sua trajetória. Aos 54 anos, se formou em Direito. Compartilhou as inúmeras dificuldades de conciliar os estudos com a vida, mas também afirmou a força que encontrou na rede para seguir em frente e se tornar exemplo de perseverança e vitória.

Frei Laércio nos lembrou que respeito e luta andam juntos. Gabs Ativista semeou palavras-potência em sua formação sobre escrevivência e, junto de Elaísa Souza, nos conduziu por uma oficina de escrita onde nos reconhecemos nas entrelinhas de nós mesmos.

Homenageamos Frei Luciano Brod, cuja presença foi mais que passagem: foi plantio. Trouxe a EDUCAFRO para Minas com mãos abertas e olhos firmes no futuro, fincando o primeiro núcleo — o Núcleo Águia — que segue resistindo e florescendo no bairro São José. Ele não apenas iniciou um caminho; ele confiou na força do coletivo, apostou na transformação pela escuta, pela presença e pelo compromisso. A ele, nossa profunda gratidão, respeito e memória viva. Sua ação virou chão fértil onde tantas vidas seguem germinando.

Visitamos também a Moradia Estudantil EDUCAFRO Minas, espaço de acolhida, resistência e futuro. Ali, vidas seguem sendo costuradas com afeto, disciplina e ancestralidade.

Porque, como bem nos ensina Jurema Werneck, nossos passos vêm de longe. Firmam-se sobre um chão ancestral feito de memória, resistência e amor coletivo. Cada história contada, cada nome dito com orgulho, é uma semente no tempo.

Agradecemos, com o coração cheio e os olhos atentos, aos Jesuítas, pelo apoio constante e silencioso que nos fortalece nos bastidores da caminhada. Em especial, ao Thalisson Bomfim, Sj, cuja energia vibrante e justa move ações com intensidade e propósito. Sua presença é ativa, comprometida, inquieta no melhor sentido: ele nos impulsiona, nos provoca, nos acompanha. Entre fé, justiça e educação popular, lançou ainda mais raízes. Sua escuta atenta, seu passo ao lado e sua força mobilizadora fizeram diferença. Que essa parceria continue semeando futuros possíveis, onde a palavra se faz gesto e a esperança, ação.

Este encontro foi corpo-território, chão de memória e altar de afeto. Como nos ensina a ancestralidade: nada termina, tudo se transforma, tudo segue.

Seguimos, com o peito cheio e os pés firmes. Com a lembrança dos que vieram antes e a responsabilidade pelos que virão depois.

Nos encontramos no caminho.

Com amor, sabedoria e rebeldia ancestral,

Ariene Cabral – Rede EDUCAFRO Minas

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