Como se pode observar, o Tríduo Pascal não tem aquela conotação de “tríduos” preparatórios para festas, mas, aqui, ele já é a festa.
Frei Joaquim Fonseca, OFM
“O Tríduo da Paixão, Sepultura e Ressurreição do Senhor resplandece no vértice do ano litúrgico, porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus foi cumprida por Cristo, especialmente por meio do mistério pascal, com o qual, morrendo, destruiu a morte, e ressuscitando, nos restituiu a vida” (Normas do Ano Litúrgico e do Calendário, n. 18).
Trata-se da Páscoa celebrada, sacramentalmente, em três dias, sem perder de vista a globalidade do mistério da Paixão (sexta-feira), Sepultura (sábado) e Ressurreição do Senhor (domingo). O epicentro é a Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”. Nessa Vigília, a Igreja celebra, com máxima solenidade, o memorial da Páscoa de Cristo, mediante os sacramentos primordiais de nossa fé: o Batismo e a Eucaristia.
Como se pode observar, o Tríduo Pascal não tem aquela conotação de “tríduos” preparatórios para festas, mas, aqui, ele já é a festa. O “tempo favorável” de preparação para a Páscoa anual é a Quaresma. Ao longo de quarenta dias, aqueles que se preparam para o batismo concluem seu itinerário catecumenal, e os já batizados se preparam para a renovação das promessas batismais, na noite da Páscoa.
Em algumas orações das missas do tempo quaresmal, somos lembrados disso. Exemplo: “Ó Deus, vós sempre cuidais da salvação dos homens e das mulheres e, nesta quaresma, nos alegrais com graças mais copiosas. Considerai com bondade aqueles que escolhestes, para que a vossa proteção paterna acompanhe os que se preparam para o batismo e guarde os que já foram batizados” (Oração do dia – sábado da 5ª semana).
Na véspera do primeiro dia do Tríduo, os fiéis se reúnem para celebrar a “Ceia do Senhor”. Essa celebração recorda aquela última refeição de Jesus com seus discípulos, na véspera de sua “bem-aventurada Paixão”. A “antífona da entrada” da missa (Gl 6,14) nos orienta para o sentido teológico-litúrgico do primeiro dia: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou”. O mistério central é a entrega do Senhor, no corpo dado e no sangue derramado. O lava-pés é símbolo eloquente desse Amor “que nos amou até o fim”.
Na sexta-feira, a comunidade de fé dobra os joelhos diante do “lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”. Nesse dia, ao celebrar a “bem-aventurada e gloriosa paixão”, a Igreja comemora o seu próprio nascimento do lado aberto de Cristo na cruz. A leitura da “Paixão segundo João” e a “Adoração da Cruz” constituem o núcleo da ação litúrgica, pois, nelas, é exaltada a vitória do Cristo, a “Páscoa da cruz”.
Durante o sábado santo (segundo dia do Tríduo), a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, a sua descida à região dos mortos, e espera, na oração e no jejum, a sua ressurreição. Trata-se de um dia de profundo silêncio, de meditação do mistério central de nossa fé, como bem nos ensina o Apóstolo: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3-4). A Liturgia das Horas (Ofício Divino) tem primazia nesse dia. A comunidade, reunida na igreja (não na capela da reposição), encontrará sólido alimento nos salmos, nos relatos evangélicos referentes ao sepultamento de Jesus e nos textos dos santos Padres. Rende graças Àquele que desceu à região dos mortos e libertou todos que ali jaziam.
Assim como o primeiro dia tem seu início com uma celebração solene de véspera, o terceiro dia (domingo) tem seu início com a Vigília Pascal. Trata-se da maior e mais importante celebração de todo o ano litúrgico. Ao redor da fonte batismal e da mesa da eucaristia, na força do Espírito do Ressuscitado, alimentamo-nos da esperança de sermos, no mundo, sinais visíveis de sua presença; somos impulsionados a lutar em favor da vida, da justiça e da paz. O “Aleluia” pascal retorna aos nossos lábios com renovado ardor, pois “este é o dia que o Senhor fez para nós”; “as coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”.
Em suma, para que a assembleia participe ativa e frutuosamente do Tríduo Pascal, as equipes de celebração (juntamente com quem preside), deverão dispensar cuidado redobrado, no preparo de cada ação litúrgica, a começar pela dignidade da proclamação da Palavra, do repertório de cantos, do espaço celebrativo e da homilia.
Boa Páscoa a todos!