A temática da Exortação é “o anúncio do evangelho no mundo atual”, cujas propostas surgiram durante o Sínodo sobre a nova evangelização.
Frei Oton Júnior, ofm
No dia 24 de novembro, comemoramos os 10 anos de publicação da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium a qual, como o primeiro grande documento do Papa Francisco, é considerada como um plano de governo de seu pontificado.
A temática da Exortação é “o anúncio do evangelho no mundo atual”, cujas propostas surgiram durante o Sínodo sobre a nova evangelização. O documento se dirige a dois públicos, sendo o primeiro, aqueles cristãos que participam da comunidade eclesial, mas numa pastoral de conservação, sem o devido ardor missionário; um segundo grupo seriam as pessoas que, apesar de terem sido iniciadas na fé da Igreja, se encontram afastadas da comunidade por algum motivo. Estas constatações não são feitas de maneira a culpabilizar tais pessoas, mas Francisco reconhece igualmente as limitações eclesiais em não conseguir atrair, acolher e acompanhar adequadamente as pessoas em suas reais necessidades.
Outra característica que poderíamos indicar é o próprio nome do documento ao ressaltar que a adesão ao Evangelho não se dá como algo pesado, mas com alegria. O primeiro número de Evangelii Gaudium ressalta justamente esta característica ao dizer: “a alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele são libertados do pecado da tristeza, do vazio interior e do isolamento. Com Jesus Cristo renasce sem cessar a alegria”.
O documento é dividido em cinco capítulos, a saber: 1. A transformação missionária da Igreja; 2. Na crise do compromisso comunitário; 3. O anúncio do evangelho; 4. A dimensão social da evangelização; 5. Evangelizadores com espírito.
Como dito anteriormente, é possível perceber na Evangelii Gaudium alguns temas que serão propostos pelo Papa Francisco ao longo da última década, como o compromisso da Igreja pelos pobres, cuja insistência aparecerá em vários outros documentos, pronunciamentos e gestos do Pontífice argentino; as críticas a uma economia de exclusão, que aparecem fortemente na Laudato Si (2015), na Fratelli Tutti (2020) e no movimento da economia de Francisco e Clara; o tema da família, desenvolvidos posteriormente no sínodo da família e da juventude e apresentados as exortações apostólicas Amoris Laetitia (2017) e Christus Vivit (2019), o tema da misericórdia, dentre outros.
Algumas expressões presentes na Exortação tornaram-se verdadeiros jargões eclesiais como “Igreja em saída” (n. 20-23) e “pastores com cheiro de ovelhas” (n. 24).
O capítulo 4, ao tratar da dimensão social da evangelização, ressalta o valor do diálogo com diferentes interlocutores: como entre a fé, a razão e a ciência, o diálogo ecumênico, as relações com judaísmo, o diálogo inter-religioso e no contexto de liberdade religiosa. O convite ao diálogo é outra característica do Papa Francisco, e que aparecerá em vários outros documentos nos quais ele reconhece a complexidade das questões do mundo, mas sem assumir uma postura de quem deve ser ouvido por já ter respostas prontas. A Igreja tem suas convicções, mas também é capaz de ouvir opiniões divergentes.
Retomar ao texto da Evangelii Gaudium dez anos depois, tendo presente todo o modo de Francisco de entender a vida e a missão da Igreja na sociedade atual, nos faz concluir que ali estavam de fato as grandes intuições do Papa, as quais serão desenvolvidas ao longo de seu Pontificado.
Foto: https://www.vatican.va