Frei Francisco van der Poel: “começo do princípio do início de alguma coisa…”

A Província Santa Cruz e a Equipe do Hospital do Madre Teresa, durante esses dias, se dedicaram intensivamente no cuidado e na busca da recuperação da saúde de Frei Francisco van der Poel.

Frei Francisco van der Poel, no dia de hoje, 14 de janeiro, realizou a sua Páscoa! Um homem amante da Religiosidade Popular! Dedicou-se longos anos de sua vida pesquisando e registrando as rezas, os benditos, os remédios, as histórias do povo do Vale do Jequitinhonha, MG. Seus lábios se enchiam de palavras alegres e ternas quando falava da cultura do povo. Ele foi o “começo do princípio do início de alguma coisa”.

No dia 03 de agosto de 1940, na cidade de Zoeterwoude (Diocese de Rotterdam), Holanda, nasceu o menino Franciscus Henricus van der Poel, o nosso conhecido: Frei Chico. Filho de Christina Hendrica Boks e Petrus Hubertus van der Poel. Entrou para a vida franciscana em 07 de setembro de 1960, quando ingressou no noviciado. Sua primeira profissão ocorreu no dia 08 de novembro de 1961 e, a Profissão Solene no dia 08 de setembro de 1964. Sua ordenação presbiteral se deu no dia 14 de julho de 1967, ano que passou a residir no Brasil.

O começo do princípio se deu lá na cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), isto era o ano de 1968, onde exerceu os primeiros anos de padre e se deu início de uma paixão: a religiosidade popular. No início um pouco resistente, mas que com a força do Espírito foi se abrindo a um novo mundo, como ele mesmo já disse: “a cultura popular não costuma separar vida e religião. Tudo é feito com a fé num Deus vivo e presente. O povo que recebe graça da revelação tem autonomia para responder e criar formas de culto. Em rituais e orações faladas ou cantadas, é essencial a ‘linguagem do encontrar’, expressão de uma grande fé nos mistérios da revelação, da aliança e da encarnação.” Ali, ele conheceu uma grande irmã, amiga e companheira de caminhada: Maria Lira Marques. Ela foi parceira e o acompanhou em toda sua vida dedicada a religiosidade popular. Residiu em Araçuaí até o ano de 1978. Foram dez anos de muitos aprendizados.

Ele se empenhou incansavelmente no resgate de cantigas das lavadeiras, nas rezas de benzedeiras e tantas outras manifestações da cultura e religiosidade que corriam o risco de se perder, graças aos avanços da modernidade. Fundou assim o coral Trovadores do Vale, cujo repertório é dedicado basicamente às cantigas populares.

Seu aprendizado não se encerrou ali, ele só foi o princípio de alguma coisa: a religiosidade popular.

A partir de 1978 até o ano de 1985, ele residiu na Fraternidade Santa Maria dos Anjos, em Betim, MG. Ali ele passou a mergulhar nas águas mais profundas da religiosidade popular, ele mesmo diz: “estudei e viajei, compartilhei festas e romarias, visitei terreiros, naveguei pelo rio São Francisco, caminhei pelo Nordeste”. Isto foi só o começo de longos anos de estudo sobre o povo pobre e simples, com suas alegrias e tristezas, com suas esperanças e angústias, com o seu modo de viver e rezar.

No ano de 1985, passou a residir na Colônia Santa Isabel, em Betim (MG). No meio dos hansenianos, ele começou do princípio o seu maior sonho: um dicionário da religiosidade popular. Obra construída com labor e simplicidade, tecido com diversas mãos, não faltaram amigos e colaboradores nessa empreitada, sua publicação se deu em 2013. Ali, também, organizou e regeu o Coral Tangarás de Santa Isabel; que além de cantar em celebrações litúrgicas, tinha um repertório variado, realizando diversas apresentações em programas de TV, como também gravou cd’s. O Coral Tangarás de Santa Isabel foi muito bem acolhido pelo meio musical. Em sua História, Frei Chico vivenciou histórias de superação do sofrimento humano por meio do canto e da arte. Na escrita e na arte fora um verdadeiro amante do “pensamento redondo”, dispensando o linear. Não foram, somente, quarenta anos de pesquisa e escrita, mas fora uma vida dedicada a história sagrada do povo.
De 2001 a 2013, residiu na Fraternidade Rivotorto, em Ribeirão das Neves. Depois na Fraternidade Santa Maria dos Anjos, em Betim (MG); e, por fim, na Fraternidade São Francisco das Chagas, Carlos Prates, Belo Horizonte (MG).

Em sua história de vida, Francisco van der Poel tornou-se: membro do Conselho do Centro da Memória da Medicina, na UFMG; membro do corpo docente do Instituto Santo Tomás de Aquino; membro da Comissão Mineira do Folclore; Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, membro da Ordem dos Músicos do Brasil e Palhaço do Teatro Terceira Margem (Belo Horizonte, MG).

Suas principais publicações são: Deus vos salve, casa santa (Estudos da CNBB), “Abra a porta” (1979), obra que auxiliou na elaboração; Com Deus me deito, com Deus me levanto (2018), e o Dicionário da religiosidade popular, cultura e religião no Brasil (Nossa Cultura, 2013).

Para além, redigiu artigos para diversas revistas e participou de conferências em diversos institutos do Brasil. Por fim, o seu maior desejo era escrever um último livro, reunindo as histórias sagradas do povo, a mote de narrativas bíblicas populares. Infelizmente, sua saúde não mais o permitiu. Este seria mais um presente de gratidão que gostaria de ter dado ao povo que tanto o ensinou que “o pouco com Deus é muito.”

Sua personalidade foi a de um apaixonado, convencido da importância daquilo que fazia. Frei Chico nunca passava desapercebido: onde chegava se fazia logo notar com seu violão, seu assovio imitando passarinhos, seu palhacinho dependurado na cintura, seus versos bem-humorados, seu nariz de palhaço e muita, muita prosa.
Seus últimos dias se deram no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, MG. Após passar mal, no dia 02 de janeiro, na Fraternidade São Francisco das Chagas, Carlos Prates, Belo Horizonte, MG, foi encaminhado ao hospital, onde, primeiramente, foi diagnosticado com gastroenterite e disfunção renal. Na tarde de domingo, pela tarde, foi acometido de uma parada cardiorrespiratória. A equipe médica realizou as manobras de reanimação, tendo um retorno após quarenta minutos, o que ocasionou um quadro de Encefalopatia Anóxica, ocasionando graves danos neurológicos irreversíveis. Para além, foi coletado o líquido cerebroespinhal (líquor) que o diagnosticou com infecção do SNC.

A Província Santa Cruz e a Equipe do Hospital do Madre Teresa, durante esses dias, se dedicaram intensivamente no cuidado e na busca da recuperação da saúde de Frei Francisco van der Poel. Familiares e amigos se uniram em oração. Familiares e amigos se uniram em oração, até que hoje, dia 14 de janeiro, o Senhor o chamou para Si. Foram momentos que nos fizeram compreender o que este nosso irmão sempre dizia: “Começo do princípio do início de alguma coisa…”
Ele mesmo conclui: “Finalmente, mesmo estando no começo do princípio do início de alguma coisa, nunca desanimei, pois aprendi com os pobres deste país que O POUCO COM DEUS É MUITO.”

Frei Francisco van der Poel
03/08/1940
14/01/2023

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  • Waldeci da Silva
    14 de julho de 2023, 21:07

    Convivi num rstágio na Comunidade de Santa Izabel com frei.Chicão…..bons ensinamentos, bons tempos!

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