O fim da vida de São Paulo foi marcado pelas ações do cruel e sanguinário imperador de Roma, Nero Cláudio César, que reinou de outubro de 54 a junho de 68 E.C.
Frei Jacir de Freitas Faria [1]
O fim da vida de São Paulo foi marcado pelas ações do cruel e sanguinário imperador de Roma, Nero Cláudio César, que reinou de outubro de 54 a junho de 68 E.C.
Nero, que sempre mandava matar e torturar homens que ele amava. Condenou à morte a sua própria mãe, Agripina e duas de suas esposas, assim como o filósofo Sêneca. Ele não agiu diferentemente com São Paulo. Ele, então, promulgou um decreto que todos os cristãos e soldados do Cristo fossem procurados e executados.
Atos de Paulo[1] narra que entre muitos outros cristãos, Paulo também foi acorrentado e levado. Os que foram presos com ele olhavam para ele, de maneira que César percebeu que ele era o líder dos soldados. Nero, então, disse a Paulo: “Homem do grande rei, agora meu prisioneiro, o que te incitou a entrar furtivamente no Império romano e a recrutar soldados no meu território?” Paulo, cheio do Espírito Santo, disse, na presença de todos: “César, nós alistamos soldados não apenas no teu território, mas em todos os países da terra. Pois recebemos a ordem de a ninguém excluir dos que querem lutar por meu rei. Se te parecer justo, serve-o, pois nem a riqueza, nem as coisas preciosas desta vida te poderão salvar, mas somente se te tornares sujeito dele e o suplicar, serás salvo. Pois num dia, ele fará guerra, destruirá o mundo.”
Tendo ouvido aquilo, Nero mandou queimar todos os prisioneiros, e degolar Paulo segundo a lei dos romanos. Paulo não ficou calado e comunicou a palavra ao prefeito Longo e a Cesto, o centurião. Nero instigado pelo demónio, ficou enraivado e executou muitos cristãos sem julgamento.
Então os romanos ficaram em frente do palácio e gritaram: “Basta, César! Esses homens são nossos. Tu destróis a força dos romanos. Sendo assim convencido, ele desistiu e ordenou que nenhum cristão fosse molestado até que o processo dele tenha sido investigado.
Depois da publicação do decreto, Paulo foi levado perante Nero e este insistiu que ele fosse executado. Paulo disse: “César, vivo não apenas por curto tempo para o meu rei; e se tu me executares, farei o seguinte: ressuscitarei e te aparecerei, porque não estarei morto, mas vivo para o meu rei, o Cristo Jesus que virá para julgar a terra.
Longo e Cesto disseram a Paulo: “Donde tens tu esse rei a ponto de acreditares nele sem mudar de pensamento, mesmo com perigo de morte?” Paulo respondeu: “Vós, homens, estais agora ignorantes e no erro, mudai de pensamento e sereis salvos do fogo que vem sobre a terra inteira. Pois nós lutamos, não como vós o pensais por um rei terrestre, mas por um (rei) que é do céu: ele é o Deus vivo que vem como juiz por causa das iniquidades que acontecem no mundo. Bem-aventurado aquele que acreditar nele, pois viverá eternamente, quando ele virá com o fogo para purificar a terra.”
Eles suplicaram, dizendo: “Nós te pedimos, ajuda-nos e nós te soltaremos”. Ele respondeu: “Eu não sou um desertor de Cristo, mas um fiel soldado do Deus vivo. Se soubesse que iria morrer, eu continuaria no mesmo propósito, Longo e Cesto. Mas já que vivo em Deus e que me amo a mim mesmo, eu vou para o Senhor, para que possa voltar com ele na glória de seu Pai”. Disseram: “Como poderemos viver depois que tiveres sido degolado?”
O dia em que Paulo foi degolado
Enquanto estavam conversando, Nero enviou um tal Partênio e Feretas para fiscalizar se Paulo havia já sido degolado. Eles o encontraram ainda vivo. Paulo os chamou perto de si e disse: “Acreditai no Deus vivo, que ressuscita dos mortos a mim e a todos quantos acreditarem nele”. Responderam: “Vamos agora a Nero, mas quando tiveres morrido e ressuscitado, então, acreditaremos no teu Deus”.
Longo e Cesto continuaram interrogando-o sobre a salvação. Então ele lhes disse: “Ide depressa ao meu túmulo de madrugada e encontrareis dois homens em oração, Tito e Lucas. Eles vos darão o selo do Senhor”.
Então, virando-se para o leste, Paulo levantou suas mãos para o céu e orou longamente depois de ter conversado em hebraico com os antepassados na sua oração, ele apresentou a sua cabeça sem falar mais nada. Quando o algoz o degolou saiu leite de sua cabeça e jorrou sobre a túnica do soldado. O soldado e os outros que estavam por perto ficaram atônitos quando viram isso e glorificaram a Deus que honrou Paulo dessa maneira. Foram se embora e relataram a César o que havia acontecido.
Quando César ouviu isso, ficou estupefato e não soube o que dizer. Enquanto muitos filósofos e o centurião estavam reunidos ao redor do Imperador, Paulo veio pelas 15 h e, na presença de todos, disse: “César, vê aqui Paulo, o soldado de Deus. Não estou morto, mas vivo no meu Deus, mas sobre ti, miserável, muitos males e castigos cairão, porque faz poucos dias, derramaste iniquamente o sangue de muitos justos”.
Depois de ter assim falado, Paulo partiu. Mas quando Nero ouviu aquilo, ele ficou profundamente perturbado e ordenou libertar os prisioneiros, inclusive Patroclo, Barsabas e seus companheiros.
Como ele lhes tinha ordenado, Longo, Cesto centurião foram muito cedo ao túmulo de Paulo. E como se aproximassem, acharam dois homens em oração e Paulo com eles. Ficaram gelados quando viram esse milagre inesperado, mas Tito e Lucas, ficaram apavorados quando viram Longo e Cesto e fugiram. Mas eles correram atrás deles e lhes disseram: “Não estamos vos perseguindo para vos matar, como pensais, vós bem-aventurados homens de Deus, mas para a vida que podeis nos dar, como Paulo nos prometeu. Acabamos de vê-lo em oração convosco”. Ouvindo isso Tito e Lucas lhes conferiram alegremente a crisma no Senhor, glorificando a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a glória para todo sempre. Amém.
Paulo foi degolado, por causa de seu privilégio de cidadão romano, segundo tradições no ano de 64 ou 67 E.C., na Igreja de São Paulo Extramuros, em Roma. Há testemunhos também de que isso tenho acontecido na Abadia das Três Fontes, em Roma, sendo a primeira hipótese a mais aceita.
[1]Doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH). Mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Sacerdote Franciscano. Autor de doze livros e coautor de quinze. Canal no Youtube: Frei Jacir Bíblia e Apócrifos. https://www.youtube.com/channel/UCwbSE97jnR6jQwHRigX1KlQ Última publicação: Os murais do Santuário Santo Antônio, de Divinópolis (MG), no simbolismo do Três na Trindade e na Crucifixão de Jesus: interpretação bíblica, teológica, catequética e franciscana das pinturas de Frei Humberto Randang. Belo Horizonte: Provincia Santa Cruz, 2024.
[2] VOUAUX, Leon: Les actes de Paul e se letres apocryphes. Paris: librairie letouzey et ané, 1913. A tradução estará disponível na nossa próxima obra, no prelo: Bíblia Apócrifa – Segundo Testamento: tradução e comentários aos cristianismos perdidos, 2024.