Os educadores à luz do Pacto Educativo Global

Os educadores à luz do Pacto Educativo Global

No caso do Dia dos Professores e Professoras, comemorado no dia 15 de outubro, os temas de reflexão não costumam variar muito.

Frei Oton Júnior, ofm

Datas comemorativas são importantes. Dia das mães, dia dos pais, Natal, e tantas outras são ocasiões em que colocamos uma figura na berlinda e isso, de modo geral, suscita bons sentimentos em nós. No caso do Dia dos Professores e Professoras, comemorado no dia 15 de outubro, os temas de reflexão não costumam variar muito: bate aquela nostalgia dos anos iniciais (“Que saudade da professorinha que me ensinou o B-a-Bá” – Ataulfo Alves, 1956); se admite o valor dos professores, as más condições de trabalho, e a conclusão de que deveria ser a profissão mais valorizada, visto que dela provém as demais. Passam-se os anos e os comentários não parecem variar muito além disso.

Mas, para ultrapassar este ritornelo, vamos tomar como referência o Pacto Educativo Global, lançado pelo Papa Francisco em 15 de outubro de 2020. No ano anterior, o Papa justificava sua intuição: “[este é um] convite ao diálogo sobre a forma como estamos construindo o futuro do planeta e sobre a necessidade de investir nos talentos de todos, porque todas as mudanças precisam de um caminho educativo para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e uma sociedade mais acolhedora”.

O Magistério de Francisco tem visado outros rincões, para além dos assuntos internos da Igreja. Sua motivação primeira está na encíclica Laudato Si (2015), na qual, o cuidado da Casa Comum é o imperativo por excelência. Somado a isso, lembremos do movimento da Economia de Francisco e Clara, que convida a uma ação econômica mais inclusiva e propícia à vida. Ora, nada disso surtirá efeito sem o componente educativo.

O Pacto Educativo propõe sete compromissos, a saber:

  1. Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo.
  2. Ouvir a as gerações mais novas.
  3. Promover a mulher.
  4. Responsabilizar a família.
  5. Se abrir à acolhida.
  6. Renovar a economia e a política.
  7. Cuidar da casa comum.

Propostas assim, com facilidade, tendem a cair na retórica, ao projetarem ideais inatingíveis; mas, convenhamos, inspiradoras. No caso brasileiro, a realidade educativa reflete bem os desníveis sociais: temos, a um só tempo, a grande precariedade, em que o deslocamento de alunos e professores se dá de forma insalubre; até realidades com a excelência de oportunidades e condições. Dentre as escolas públicas, nota-se igualmente uma disparidade, dependendo da gestão e dos governantes de turno. Em geral, à frente de projetos bem-sucedidos estão mulheres e homens apaixonados, que se empenham contra tudo e todos (triste constatação!) para que a realidade seja melhor.

No setor privado, o desafio atual é perseverar diante de grandes grupos corporativos que alargam os tentáculos a cada dia. Nesse caso, a educação é entendida como um meio para a obtenção de lucro, e não de promoção das pessoas.

Mas, voltemos à figura dos ‘educadores’ (o Pacto Educativo prefere essa palavra), cuja presença é determinante na vida de cada pessoa, para bem, ou não, uma vez que muitas vezes nos interessamos ou antipatizamos por determinada disciplina por influência de um professor ou professora. Mas não para por aí. Os professores e professoras são presença cotidiana e se tornam, em muitos casos, bons amigos.

Quero destacar aqui os dois extremos do processo: os anos iniciais e o estudo superior. a) O processo de alfabetização exige uma presença que passa inclusive pelo toque. Pegar devidamente no lápis, aprender as letras e números é um processo de coordenação motora realmente impressionante! “Ler, escrever e fazer conta de cabeça” (Bartolomeu Campos de Queirós, 1996) é um desafio que de pequeno não tem nada. Mas, e na pandemia, como foi ensinar a manusear o lápis de forma on-line? Essa foi a realidade de muitas educadoras. b) Em seguida, lembramos dos professores e professoras do ensino superior, cuja missão é introduzir os estudantes num universo ainda mais amplo. Se antes, o círculo limitado se ampliava aos poucos, no ensino superior a pessoa é jogada num oceano de ideias, num tempo e espaço nem imaginados. Aqui, o confronto de opiniões, o aprofundamento, o questionamento, a pesquisa, darão a tônica. Liberdade e confiança demarcarão o território.

Mas a vida nos rodeia de professores e professoras de todos os lados. Para quase tudo necessitamos de alguém que nos ensine: a cozinhar, a conduzir, a tocar um instrumento, a fazer um reparo, para nos apresentar uma nova técnica, a lidar com nossas emoções… certamente tivemos, temos, teremos e, ao mesmo tempo, fomos, somos e seremos professores, em certo sentido.

Por fim, finalizamos com as disposições da ANEC (Associação Nacional de Escolas Católicas) a respeito do Pacto Educativo Global:

“É necessário desconstruir a imagem do educador como transmissor de conteúdos e detentor de informações e conhecimentos. Uma educação que pretende orientar crianças e jovens rumo à uma cidadania global e que almeja formar pessoas integradas e conscientes deve priorizar a vocação do educador-pedagogo, que é aquele que caminha com os educandos, que os motiva e os incentiva a dar o melhor de si; é um educador que ama e que dá a vida, tal qual a imagem evangélica do Bom Pastor, que educa com amor e para o amor ao próximo. Por isso, o educador está permanentemente em formação para que, além de dar sempre o melhor de si, procura descobrir o tesouro presente em cada estudante. Assim, o educador compreende que o ofício de ensinar deve ser vivenciado como um serviço ministerial que promove a qualidade de vida naqueles que lhe são confiados” (ANEC, A Igreja do Brasil, com o Papa Francisco, no Pacto Educativo Global, p.14).

A todos os educadores e educadoras, nosso fraterno abraço e nosso reconhecimento por sua vida e missão.

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