Ressurreição não é vingança. É festa da vida

Ressurreição não é vingança. É festa da vida

A vitória de Jesus não faz vencidos. Ele não precisa humilhar ninguém para se fazer Senhor da vida. Não é necessário saírem raios de suas mãos para provar o seu poder.

Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofm

1. Passado o drama dos últimos dias, deste a entrada de Jesus em Jerusalém, sua última reunião com os discípulos, a traição e prisão, o julgamento se deu de forma apressada e sem elementos que pudessem condenar o réu.

O trajeto até a cruz fazia a diversão de muitos, o horror de outros, a compaixão de alguns. Chicotes, cusparadas, xingamentos, gritaria, completavam o cenário emoldurado pela trave horizontal que seria acoplada a um poste já fixado. Tudo executado com engenho e maestria por profissionais treinados por tantas repetições. A pena capital foi executada como de costume: mais um desprezível se somava a outros dois, naquele mesmo dia.

O Condenado não morreu imediatamente. Agonizou por um período maior que o esperado, mas após ter balbuciado algumas expressões, finalmente respirou pela última vez.

O corpo foi entregue a um membro do Sinédrio, natural do Monte Efraim, e colocado num túmulo onde ninguém ainda tinha sido posto.

 2. Até aqui, a narrativa se dá sem grande novidade e mostra certa colaboração das autoridades judaicas e dos representantes do Império Romano. De agora em diante, a história ganha o ineditismo que preenche a experiência de fé de milhares de pessoas mundo afora, ao longo de séculos.

Na madrugada do primeiro dia da semana, Maria Madalena e as outras mulheres ao irem ao túmulo, perceberam que a pedra que tapava a boca da caverna tinha sido rolada, e o corpo que ali tinha sido posto não estava mais lá, o que causou espanto e preocupação nas testemunhas. “Vimos o Senhor” – passaram a proclamar tornando-se as primeiras testemunhas da Ressurreição.

Passado todo o sofrimento, a palavra final da história não estava mais confinada à frieza do túmulo, mas à vida nova que o Ressuscitado apresentava, graças à força e o poder de Deus Pai. Não seria má ideia passar a história a limpo e provar de uma vez por todas quem, de fato, é o Senhor da história. Seria compreensível se o Senhor Ressuscitado procurasse todos aqueles que há mais tempo tramavam de todas as formas o modo para apanhá-lo em contradição. Agora, vencedor, fosse atrás de todas as pessoas que de alguma forma tiveram a ver com sua condenação. O Ressuscitado poderia ter procurado as autoridades judaicas e romanas, os soldados e todas as pessoas que fizeram de sua condenação e morte um motivo de alegria. 

A vida finalmente se vingaria das forças da morte e passaria a história a limpo, manifestando a força de um Deus invencível, capaz de subjugar todos aqueles que cruzassem o seu caminho!

3. Mas, não.

Todas as aparições do Ressuscitado, todas as pessoas com as quais Ele se encontra, todos os lugares em que frequenta apontam para o mesmo modo de ser e de atuar de Jesus de Nazaré. Ele procurou as mesmas pessoas, as chamou novamente, fez o que foi preciso para que cressem de que Ele, de fato, fora ressuscitado pela força amorosa de seu Pai. 

A vitória de Jesus não faz vencidos. Ele não precisa humilhar ninguém para se fazer Senhor da vida. Não é necessário saírem raios de suas mãos para provar o seu poder.

 Ele vai atrás dos mesmos homens e mulheres que caminharam com ele, partilhavam sua vida. Poderia ter procurado outras pessoas de boa vontade, e deixado aquelas de lado, afinal, se revelaram não muito confiáveis. Muitos desses, nos momentos decisivos, deixaram de segui-lo, pelos mais diferentes motivos. Houve quem o negasse, quem o traísse, o abandonasse. Humildemente, o Ressuscitado foi atrás de um por um, para seduzi-los novamente, como fizera junto ao mar da Galileia um tempo atrás.

 “Você me ama?, apascente as minhas ovelhas” – é o que continua pedindo dos seus, ontem, hoje e sempre.

A Ressurreição não é uma vingança. É festa de vida, e tudo aquilo que representar morte, ódio, indignidade são coisas passadas. Daqui para frente, o que importa é o amor, o abraço, os olhos marejados que, ao se encontrarem com o Senhor, pronunciam referentes e de modo apaixonado: “meu Senhor e meu Deus”.

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