Vocações, Carismas e Ministérios em chave sinodal (III Parte)

No terceiro Domingo de Agosto, vamos refletir sobre a vocação religiosa à luz a sinodalidade.

O CHAMADO À CONSAGRAÇÃO RELIGIOSA

Frei Oton Júnior, ofm

Como em árvore plantada por Deus e maravilhosa e variamente ramificada no campo do Senhor, surgiram diversas formas de vida, quer solitária quer comum, e várias famílias religiosas, que vêm aumentar as riquezas espirituais, tanto em proveito dos seus próprios membros como no de todo o Corpo de Cristo” (Lumen Gentium, 43).

Dentre as diversas formas de testemunhar o Evangelho, a Vida Religiosa se firmou ao longo dos séculos como um meio de viver e anunciar o Reino, sob a inspiração de diversos carismas, surgidos em contextos específicos, para o bem da humanidade. Como vemos fazendo, nosso olhar sobre esta vocação se dá sob a lente da sinodalidade.

A Vida Religiosa Consagrada vive o Evangelho de modo participativo, colegial, em que as decisões e a forma de exercer o poder se dão através de rodízios, com prioridades e demais decisões escolhidas de modo coletivo.

As religiosas e religiosos habitaram e continuam a habitar na Igreja e na sociedade em geral um lugar fronteiriço, indicando um modo de vida testemunhal, escolhendo missões muitas vezes desafiadoras em diversos lugares, atualizando no cotidiano a opção preferencial pelos pobres.

Paulo VI assim expressou sua gratidão à Vida Religiosa: “Graças à sua consagração religiosa, eles são por excelência voluntários e livres para deixar tudo e ir anunciar o Evangelho até as extremidades da terra. Eles são empreendedores, e o seu apostolado é muitas vezes marcado por uma originalidade e por uma feição própria, que lhes granjeiam forçosamente admiração. Depois, eles são generosos: encontram-se com frequência nos postos de vanguarda da missão e a deparar-se com os maiores perigos para a sua saúde e para a sua própria vida. Sim, verdadeiramente a Igreja deve-lhes muito!” (EN 69).

Em 2015, o Papa Francisco, um religioso, elegeu como o Ano da Vida Religiosa, no qual convidou a olhar o passado com gratidão, o presente com paixão e o futuro com esperança.

A etapa continental do Sínodo reconhece que na Vida Consagrada, os espaços de poder e decisão são diferenciados: “A adoção de um estilo autenticamente sinodal interpela também a vida consagrada, precisamente a partir das práticas que já acentuam a importância da participação de todos os membros na vida da comunidade de que fazem parte: “Na vida consagrada, a sinodalidade diz respeito ao discernimento e aos processos de decisão. Os nossos institutos praticam o discernimento em comum, mas há espaços para melhorar. Ser membros de um corpo requer a participação. Tanto na Igreja como na vida consagrada há o desejo difuso de um estilo de governo circular (participativo) e menos hierárquico e piramidal” (USG/UISG) (DEC 81).

Mas há também queixas de realidades a serem melhoradas: “O contributo dos Institutos de Vida Consagrada afirma: “Nos processos de decisão e na linguagem da Igreja, o sexismo está muito difuso […]. Consequentemente, às mulheres são barrados papéis significativos na vida da Igreja e sofrem discriminações pois não recebem um salário igual para as funções e serviços que desempenham. As religiosas são muitas vezes consideradas como mão de obra barata. Nalgumas Igrejas há a tendência a excluir as mulheres e a confiar funções a diáconos permanentes; e também a desvalorizar a vida consagrada sem hábito, sem ter em conta a fundamental igualdade e dignidade de todos os fiéis cristãos batizados, mulheres e homens” (USG/UISG). (DEC 63).

Na Vida Religiosa, haverá sempre uma tensão – saudável – entre a fidelidade carismática fundacional e as atualizações ao carisma; ser fiel ao fundador (a), e saber que os tempos e as exigências de cada época são diferentes de quando o Instituto, a Congregação, foi fundada. Pela graça do Espírito, novas prioridades vão-se apresentando e ganhando nova forma e significação.

As diferentes congregações atuam com diferentes públicos, locais, sempre na tentativa de testemunhar o Evangelho de modo concreto e atual. Infelizmente, uma mentalidade clerical nem sempre reconhece o lugar da consagração religiosa, sobretudo feminina, mas também entre os religiosos que não foram ordenados presbíteros.

Em nossos dias, a Vida Religiosa passa por desafios, tais como: a diminuição do número de vocações, consequentemente o envelhecimento dos membros, o não reconhecimento das atividades, as disputas internas pelo poder, a difícil tarefa, – como já alertamos – de conciliar a fidelidade carismática e as exigências da sociedade e da Igreja atual, enfim.

No terceiro domingo de agosto, colocamos no coração de Deus as tantas mulheres e homens que consagraram suas vidas pela causa do Reino nos diversos institutos de Vida Religiosa Consagrada. Que nossa vida seja sempre mais participativa, aberta àquilo que o Espírito está dizendo à Igreja. Que aprendamos, como Maria – cuja Assunção celebraremos no próximo domingo –  a melhor maneira de fazer em nós segundo a Palavra do Senhor, sendo testemunhas da justiça e da paz em nosso tempo.

Referências

CELAM, Síntesis de la Fase Continental del sínodo de la sinodalidad en América Latina y el Caribe, 2023.

CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Apostólica Lumen Gentium, sobre a Igreja, 1964.

PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi,  sobre a evangelização
no mundo contemporâneo, 1975.

XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão (Outubro de 2023).

Leia outras notícias