Com os pés a caminho e a intenção de levar a boa notícia de Jesus Cristo, recordamos e rezamos em outubro o mês de reflexão e dedicação às missões.
Frei Igor de Sousa, Ofm.
Levanta missionário pra levar a boa nova
Vamos plantar o amor que a vida se renova
Bota o pé na estrada ergue a Mão pro céu
(Santas Missões Católicas)
Com os pés a caminho e a intenção de levar a boa notícia de Jesus Cristo, recordamos e rezamos em outubro o mês de reflexão e dedicação às missões. Quando pensamos em missão, pode ser que surjam diversas perguntas, como: o que é missão? Por que missionar? E a missão franciscana? Neste pequeno texto, buscamos juntos refletir o ser cristão missionário.
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!” (…) Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte” (Mc 16, 15.20). A indicação de Jesus de “ir”, resulta um mandato, sair do conforto, da segurança e anunciar pelo mundo a novidade que é a vida em e com Jesus Cristo. Ser missionário implica assumir a vocação de cristão que fez e ou que busca o contato com Jesus. Anunciar ao “mundo inteiro” o que foi experimentado em Jesus, no contato com sua palavra, que se faz carne em nossa vida.
Neste sentido, todo cristão é chamado por Jesus a anunciar, a missionar, a sair… Diversas são as expressões e modos de missão, alguns simples e que não exigem tanto, outros que exigem uma entrega de vida, de sair da própria terra, distanciar dos amigos e familiares.
Missão é vocação e como toda vocação, exige escuta de si mesmo, dos desejos, das inquietudes e buscas. Missão exige compreensão que a outra terra é sagrada e que muitas vezes será necessário tirar as sandálias dos pés, voltar atrás e recomeçar.
“ide pelo mundo…” implica disposição de colocar-se a caminho, e quando se está em caminho, não é possível saber com o que, com quem nos encontraremos. Ir resulta em encontro, missão é encontro. Encontrar com o outro em sua realidade, em sua fragilidade, descobrindo suas necessidades (que pode ser de vestuário, de comida, de água, de ser escutado ou de ouvir de quem está em missão); mas, também a missão é lugar de encontro consigo mesmo, com suas histórias, com o passado e o presente.
Ao longo da missão se dá o encontro, na partilha da palavra, que se encarna nas diversas realidades. Muitas vezes, o encontro com o outro reflete o encontro com Jesus. O amor de e por Jesus que é capaz de reunir a todos, com poucas palavras e com muitos gestos de afeto.
E a missão franciscana qual seu modo? Certamente, poderíamos abordar o tema da penitência, como os primeiros companheiros de São Francisco, que se identificavam como “os penitentes vindos de Assis”; poderíamos também falar sobre a pobreza franciscana como ponto fundante deste potente carisma, que atraiu e atrai até os dias de hoje muitos homens e mulheres no seguimento de Jesus Cristo ao modo de Francisco de Assis. No entanto, nos dedicamos a trazer o tema da fraternidade como ponto fundamental para a missão franciscana.
A missão franciscana se dá através da fraternidade, que atenta ao Espírito Santo, sempre interroga ao Senhor: “o que quer que façamos?”. A fraternidade é essencialmente contemplativa e em missão. No contato com Jesus Cristo, no mais profundo e que se revela na pequena comunidade de irmãos e irmãs e que se expande a todas as criaturas: “anunciar a Boa Nova a toda criatura”. Cremos que o anuncio do Evangelho se dá em nos “fazermos irmãos”. Ser irmãos e irmãs independentemente de onde estamos. A fraternidade que expressa com gestos, mais do que com palavras.
A missão franciscana no extremo norte argentino
Neste ano de 2023, estou fazendo a experiência do Tempo de Presença Franciscana na Província São Francisco Solano, presente na Argentina. Tive a graça e oportunidade de viver o primeiro semestre na Casa de Jóvenes Hermano Francisco, em Buenos Aires, experiência que terei oportunidade de contar em outro momento. Neste segundo semestre, vivendo no estado de Salta, mas especificamente na cidade de Aguaray. Uma presença antiga dos frades no extremo norte saltenho, próximo à fronteira com a Bolívia. O Centro Misionero Santa Teresita del Niño Jesus.
A presença dos frades consiste em animar as diversas comunidades da paróquia, seja as que estão próximas a cidade ou as mais distantes. Além da forte atuação sacramental, a presença franciscana se destaca pela contribuição social. Em uma realidade em que o estado não garante o básico da alimentação, ou da assistência social, os frades, com a ajuda de grupos missionários e também de voluntários, se tornam a referência religiosa e social. Em várias comunidades, existem o que chamam de “comedor”, que distribui ás crianças algumas refeições durante o dia. Com o apoio de doações de empresas internacionais, se distribui alimentos, roupas e até mesmo água. É algo comum, em um desses “comedores” ter cerca de 100 a 150 crianças por dia.
Outra forte atuação social são dois centros de convivência, que se chamam Tekove-Katu, que em guarani significa “Vida Plena”. Os dois Tekoves estão presentes em duas comunidades de povos originários. E neste espaço, de segunda-feira a sexta-feira acontecem um jardim de infância e também um projeto em que as mães levam seus filhos de até três anos para almoçarem. A proposta é garantir a alimentação nos mil primeiros dias de vida da criança, o que muitas vezes, sem a ajuda do projeto social não acontece.
A missão dos frades está entrelaçada entre o social e o sacramental a todo tempo. E o grande desafio da presença missionária é respeitar e entender os modos dos povos originários, com suas culturas e maneiras de viver a vida. No entanto, a presença dos frades tem descoberto dia após dia o modo franciscano de evangelizar, com os desafios que implica uma fraternidade missionária.